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domingo, 12 de novembro de 2017

De cócoras...e dissimuladamente.


Pois é. Culpados são os outros. Sempre. Para variar. Nas indescritíveis tragédias dos incêndios de Junho e de Outubro, culpados terão sido todos os anteriores governos que não aprovaram a melhor reforma da floresta desde D. Dinis. Mas foi depois dessa aprovação que veio o inferno, porque um só diabo era pequeno demais para tanta incompetência. Quando os membros do Governo, de que deve ser destacada a figura emblemática do Senhor dos Assuntos Fiscais (ex) pela enorme atracção carismática e transbordante autenticidade, nenhum foi verdadeiramente culpado. Mas criou-se um Código de Conduta. Que não é lei. Mas é um Código de Conduta. Há 3 anos houve um surto de legionela, grave, com origem nas instalações de uma empresa privada em Vila Franca de Xira. A oposição gritou, esbracejou e pediu as demissões que todos sabem. Fez bem. As inspecções devem actuar, sejam privadas ou públicas as instalações que devem ser mantidas livres desse risco. Mas agora, um surto igualmente grave de legionela, com origem num hospital público - repito, porque nem eu acredito - no Hospital S. Francisco Xavier, alguém ouviu os costumeiros grupos de protesto dizer alguma coisa? Nada. Sabem porquê? Citando o melhor resumo: é que nós temos a melhor legionela do mundo. Ela aí está, para que dúvidas não haja. Da mesma forma, como se viu, "também tivemos a melhor Web Summit de sempre". Assim sendo, porque diabo não haveriam de ser autorizados a celebrar com uma jantarada no Panteão Nacional? Diz o rapaz Cosgrave, ou disse na jantarada, ufano e  exuberante pelo feito, que o ministro o adulou dizendo que era a primeira vez que se realizava um jantar na Panteão. Terá sido mais ou menos assim: - Veja bem Paddy, veja bem como nós gostamos de si e de toda a malta da web summit mai-las suas Tshirts. Por isso não nos deixe. Olhe que nós não somos a Irlanda. Nós somos gente amável e reconhecida. Vá lá festejar isso, como quer, no local de repouso dos nossos heróis. 
Não resisto a emitá-los com uma expressão de tr(u)mpa. Duas, vá lá: era expexctável, não era? Eles e nós somos bons - os melhores - e muito resilientes. 
Mas a história tinha de repetir-se, inevitavelmente. Com a indignação do PM pelo meio. Pois claro. Os culpados foram os outros, no caso, o autor do despacho que permite utilizar monumentos nacionais para eventos. Logo, ninguém autorizou a festança no Panteão. E se autorizou era porque o despacho o permitia. Se calhar, digo agora eu, até obrigava. Mas não. Parece que o despacho determina que quem decide, deva ponderar o tipo de evento de modo a preservar a dignidade devida a cada um dos monumentos aí referidos.  Mas isso pouco importa. A indignação do PM é contra o autor do despacho e por interpretação extensiva,  contra o governo a que pertencia o seu autor. Nunca, mas mesmo nunca contra o imbecil que autorizou a festança. Se outros se indignarem, bom, então regressamos ao costume: nomeia-se uma comissão, ficamos à espera do relatório e, se necessário for, os  anjos da guarda (leia-se PCP e BE) boicotam a divulgação dos resultados, como sabem fazer sempre que possam estar em perigo os padrinhos e afilhados. São as regras. As sacrossantas regras do nepotismo. E cá vamos, cantando e rindo, porque somos os maiores: ainda que estejamos de cócoras e dissimuladamente.

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