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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Catalunha


Tenho acompanhado com interesse e preocupação os acontecimentos na Catalunha. Confesso que a ideia que formei da actuação do Senhor Puigdemont e Cª é muito má. Pior. Todos os seus actos corporizam um indescritível populismo. Num momento em que o termo é tão utilizado, amiúde de forma pouco correcta e informada, fico atónito com a passividade com que aturam as birras do membros do govern depostos. Um blog não é espaço para teorizações. Populismo consubstancia-se na atitude de lideranças políticas, eleitas ou não, em que o chefe faz apelos directamente ao povo, eleitores em regra, desrespeitando e achincalhando mesmo as instituições intermédias da chamada democracia representativa. Ou seja, o populismo procura conquistar e manter o poder com o apoio directo das massas, ainda que contra as instituições que facultam o palco ou palcos aos populistas. Curioso. A crise generalizada da democracia representativa está na origem do surgimento e da multiplicação de populismos.  Como sabemos. No caso da Catalunha, o populismo a que temos assistido atinge uma despudorada demagogia. Todos os populismos se socorrem de argumentos demagógicos. O dos  consellers depostos roçam o patético, apesar de estarem notoriamente planeados há muito tempo, como resulta dos acontecimentos. Não resisto a citar, sem preocupação de rigor, duas opiniões que colhi ao acompanhar a crise.  Uma ouvi-a na televisão espanhola. Não me recordo do canal. O programa debatia a Catalunha. Um professor da Universidade de Barcelona, com grande rigor e serenidade, pronunciava-se exactamente sobre o absurdo das ideias "defendidas" pelo independentistas e o abismo que se abria para o povo catalão. A moderadora perguntava então: - sendo assim, como explica que haja tanta gente a apoiá-los? Sorrindo, o Professor rematava:-Também não entendo. A única explicação é a de que as pessoas gostam de ser enganadas. A outra opinião importante que retive, li-a no El Pais,  se não me falha a memória. É metafórica e parece-me ir à origem do problema. Dizia o autor: - há quarenta anos que os inquilinos de Moncloa pagam a renda aos baronetes das autonomias. De cedência em cedência, o Estado espanhol corre o risco de ser desmembrado.
O autor sabe bem, como expressamente diz no artigo, que a Espanha é um Estado que integra várias nações. Apesar de tudo, são bem mais importantes as semelhanças do que as diferenças, apesar destas serem relevantes e enriquecedoras. 
Claro que é concebível uma legitimidade revolucionária. Para que possa existir, há que fazer a revolução e substituir a ordem constitucional vigente. Ao empreender uma revolução, quem a promove tem de estar consciente de que pode perder. E se perder, também é evidente que terá de sofrer as consequências da ordem jurídica que não conseguiu substituir. No caso da Catalunha, é inegável que a reacção se conformou com as normas e procedimentos de um Estado de Direito. Aos revolucionários, para sermos simpáticos, têm sido garantidos os direitos que são garantidos a todos os outros cidadãos pelo Estado Espanhol. Talvez mais, pela notoriedade. Ao que me parece. A violência policial do 1º de Outubro foi ampliada e instrumentalizada pelos independentistas de acordo, de resto, com o plano traçado por eles próprios. A fuga do ex-president e outros consellers ( nem todos)após a aplicação do artº 155º da Constituição, parece-me de uma cobardia incompatível com quem fomenta um movimento revolucionário.  Por isso não o é nem pode ser. O "movimento" ou agitação social catalã tem muito poucas probabilidades de vingar. Política, económica e socialmente, ao que me parece. Um hipotético sucesso significaria a prazo ( curto) o desabar da União Europeia. Seria pior do que o Brexit. Como já foi analisado e perspectivado tendo em atenção os impulsos e até as circunstâncias em que se espaldam outras autonomias e quiçá rupturas por essa Europa fora. Consideramos, apesar de tudo, estas questões sobre um prisma democrático e pacífico. Porque ninguém na Europa terá esquecido os erros crassos do desmembramento da antiga Jugoslávia e das guerras que se seguiram. Será que a Europa institucional aprendeu verdadeiramente?
Veremos o desenvolvimento nos próximos capítulos.

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