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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Autonomia e..." Infelice Vida"!

Participei há anos num debate informal cujo tema era interessante e sedutor: O sagrado e a Justiça. Decorreu no Botequim, enquadrado pela ironia fina e magistral de Natália Correia. Por ela, seguramente, fez questão de estar presente o então Ministro da Justiça, Laborinho Lúcio. O  
Código de Processo Penal fora publicado há menos de um mês. Lembro-me de ter aproveitado uma deixa de Laborinho Lúcio para questionar a oportunidade perdida por não ter sido bem mais restringido o princípio inquisitório. Enfim o debate perdia fulgor com as sempre maçadoras questões jurídico-processuais. Mas o sentido de oportunidade de Natália Correia salvaria - como habitualmente - a vertente magicamente culta e divertida do tema. Foi então que, durante uma boa meia hora, Natália discorreu sobre o tema, conseguindo brilhantes elos de ligação entre o sentimento da Pátria, que para ela deveria ser Mátria, e o então desafio que ironicamente apregoava com frequência do facto de sermos todos hespanhóis.
Tem-me ocorrido a provocatória mas extraordinária dissertação de Natália nesse encontro - e noutros entre petiscos e beberagens - a propósito da chamada crise catalã, que aí não foi especificada, naturalmente. Estavamos longe de imaginar as circunstâncias e talvez o eficaz populismo de Carles P., Junqueras, Forcadell & Cª.
Saberão uns e outros, talvez menos a Cª, que um Condestável do Reino de Portugal, de seu nome Pedro, filho do infante e regente do mesmo nome, foi convidado pelo Concelho de Cem para liderar a luta catalã contra João II de Aragão? Foi proclamado Conde de Barcelona e, ao que parece, intitular-se-ía Rei da Catalunha e de Valência e Senhor de Maiorca e da Cerdenha.. Enfim. A guerra trouxe alguns revezes a D. Pedro, o português que liderou as forças catalãs na guerra contra Aragão de que fazia parte, como se sabe. D. Pedro era neto de Jaime II de Urgel, pela mãe, é claro. E também foi escritor: citamos a sátira Felice e Infelice vida para justificar o título. Ora, Aragão era então uma região, melhor, um dos vários reinos peninsulares. Segundo alguns, a luta catalã já então passaria por reivindicar autonomia, ou talvez melhor, preponderância. Enfim. Apesar de ser um dos agentes do processo de centralização iniciado pelos Reis Católicos ( Isabel de Castela e Fernando de Aragão), esta coroa só seria extinta formalmente em 1715 com o 4º decreto da Nova Planta. Foi extinta a Generalitat, foram extintas as Cortes e o Concelho de Cem, as vaguerias foram convertidas em corregedorias  e o vice-rei ( imagine-se!) foi substituído por um capitão-general. A língua administrativa passou a ser o castelhano.
Ponderado este laivo de pequena história e as circunstâncias actuais, apetece perguntar: tendo agora Generalitat, parlamento e sendo até o catalão uma língua oficial,  que mais poderão querer os Catalães? Cito, uma vez mais, um professor universitário de Barcelona que ouvi numa TV. Perguntava a moderadora: - mas se é assim ( mentiras e populismo) como explica que tanta gente ainda vote nos independentistas? - Não sei. Talvez as pessoas gostem mesmo de ser enganadas. Eis a enganada Cª e os enganadores dirigentes. Será assim? Será esta a democracia com que enchem a boca? Como se o sistema representativo de governo se resumisse aos actos eleitorais?
 A ver vamos,como diz o cego. Estamos a pouco mais de uma semana da prova dos nove. 

domingo, 12 de novembro de 2017

De cócoras...e dissimuladamente.


Pois é. Culpados são os outros. Sempre. Para variar. Nas indescritíveis tragédias dos incêndios de Junho e de Outubro, culpados terão sido todos os anteriores governos que não aprovaram a melhor reforma da floresta desde D. Dinis. Mas foi depois dessa aprovação que veio o inferno, porque um só diabo era pequeno demais para tanta incompetência. Quando os membros do Governo, de que deve ser destacada a figura emblemática do Senhor dos Assuntos Fiscais (ex) pela enorme atracção carismática e transbordante autenticidade, nenhum foi verdadeiramente culpado. Mas criou-se um Código de Conduta. Que não é lei. Mas é um Código de Conduta. Há 3 anos houve um surto de legionela, grave, com origem nas instalações de uma empresa privada em Vila Franca de Xira. A oposição gritou, esbracejou e pediu as demissões que todos sabem. Fez bem. As inspecções devem actuar, sejam privadas ou públicas as instalações que devem ser mantidas livres desse risco. Mas agora, um surto igualmente grave de legionela, com origem num hospital público - repito, porque nem eu acredito - no Hospital S. Francisco Xavier, alguém ouviu os costumeiros grupos de protesto dizer alguma coisa? Nada. Sabem porquê? Citando o melhor resumo: é que nós temos a melhor legionela do mundo. Ela aí está, para que dúvidas não haja. Da mesma forma, como se viu, "também tivemos a melhor Web Summit de sempre". Assim sendo, porque diabo não haveriam de ser autorizados a celebrar com uma jantarada no Panteão Nacional? Diz o rapaz Cosgrave, ou disse na jantarada, ufano e  exuberante pelo feito, que o ministro o adulou dizendo que era a primeira vez que se realizava um jantar na Panteão. Terá sido mais ou menos assim: - Veja bem Paddy, veja bem como nós gostamos de si e de toda a malta da web summit mai-las suas Tshirts. Por isso não nos deixe. Olhe que nós não somos a Irlanda. Nós somos gente amável e reconhecida. Vá lá festejar isso, como quer, no local de repouso dos nossos heróis. 
Não resisto a emitá-los com uma expressão de tr(u)mpa. Duas, vá lá: era expexctável, não era? Eles e nós somos bons - os melhores - e muito resilientes. 
Mas a história tinha de repetir-se, inevitavelmente. Com a indignação do PM pelo meio. Pois claro. Os culpados foram os outros, no caso, o autor do despacho que permite utilizar monumentos nacionais para eventos. Logo, ninguém autorizou a festança no Panteão. E se autorizou era porque o despacho o permitia. Se calhar, digo agora eu, até obrigava. Mas não. Parece que o despacho determina que quem decide, deva ponderar o tipo de evento de modo a preservar a dignidade devida a cada um dos monumentos aí referidos.  Mas isso pouco importa. A indignação do PM é contra o autor do despacho e por interpretação extensiva,  contra o governo a que pertencia o seu autor. Nunca, mas mesmo nunca contra o imbecil que autorizou a festança. Se outros se indignarem, bom, então regressamos ao costume: nomeia-se uma comissão, ficamos à espera do relatório e, se necessário for, os  anjos da guarda (leia-se PCP e BE) boicotam a divulgação dos resultados, como sabem fazer sempre que possam estar em perigo os padrinhos e afilhados. São as regras. As sacrossantas regras do nepotismo. E cá vamos, cantando e rindo, porque somos os maiores: ainda que estejamos de cócoras e dissimuladamente.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Catalunha


Tenho acompanhado com interesse e preocupação os acontecimentos na Catalunha. Confesso que a ideia que formei da actuação do Senhor Puigdemont e Cª é muito má. Pior. Todos os seus actos corporizam um indescritível populismo. Num momento em que o termo é tão utilizado, amiúde de forma pouco correcta e informada, fico atónito com a passividade com que aturam as birras do membros do govern depostos. Um blog não é espaço para teorizações. Populismo consubstancia-se na atitude de lideranças políticas, eleitas ou não, em que o chefe faz apelos directamente ao povo, eleitores em regra, desrespeitando e achincalhando mesmo as instituições intermédias da chamada democracia representativa. Ou seja, o populismo procura conquistar e manter o poder com o apoio directo das massas, ainda que contra as instituições que facultam o palco ou palcos aos populistas. Curioso. A crise generalizada da democracia representativa está na origem do surgimento e da multiplicação de populismos.  Como sabemos. No caso da Catalunha, o populismo a que temos assistido atinge uma despudorada demagogia. Todos os populismos se socorrem de argumentos demagógicos. O dos  consellers depostos roçam o patético, apesar de estarem notoriamente planeados há muito tempo, como resulta dos acontecimentos. Não resisto a citar, sem preocupação de rigor, duas opiniões que colhi ao acompanhar a crise.  Uma ouvi-a na televisão espanhola. Não me recordo do canal. O programa debatia a Catalunha. Um professor da Universidade de Barcelona, com grande rigor e serenidade, pronunciava-se exactamente sobre o absurdo das ideias "defendidas" pelo independentistas e o abismo que se abria para o povo catalão. A moderadora perguntava então: - sendo assim, como explica que haja tanta gente a apoiá-los? Sorrindo, o Professor rematava:-Também não entendo. A única explicação é a de que as pessoas gostam de ser enganadas. A outra opinião importante que retive, li-a no El Pais,  se não me falha a memória. É metafórica e parece-me ir à origem do problema. Dizia o autor: - há quarenta anos que os inquilinos de Moncloa pagam a renda aos baronetes das autonomias. De cedência em cedência, o Estado espanhol corre o risco de ser desmembrado.
O autor sabe bem, como expressamente diz no artigo, que a Espanha é um Estado que integra várias nações. Apesar de tudo, são bem mais importantes as semelhanças do que as diferenças, apesar destas serem relevantes e enriquecedoras. 
Claro que é concebível uma legitimidade revolucionária. Para que possa existir, há que fazer a revolução e substituir a ordem constitucional vigente. Ao empreender uma revolução, quem a promove tem de estar consciente de que pode perder. E se perder, também é evidente que terá de sofrer as consequências da ordem jurídica que não conseguiu substituir. No caso da Catalunha, é inegável que a reacção se conformou com as normas e procedimentos de um Estado de Direito. Aos revolucionários, para sermos simpáticos, têm sido garantidos os direitos que são garantidos a todos os outros cidadãos pelo Estado Espanhol. Talvez mais, pela notoriedade. Ao que me parece. A violência policial do 1º de Outubro foi ampliada e instrumentalizada pelos independentistas de acordo, de resto, com o plano traçado por eles próprios. A fuga do ex-president e outros consellers ( nem todos)após a aplicação do artº 155º da Constituição, parece-me de uma cobardia incompatível com quem fomenta um movimento revolucionário.  Por isso não o é nem pode ser. O "movimento" ou agitação social catalã tem muito poucas probabilidades de vingar. Política, económica e socialmente, ao que me parece. Um hipotético sucesso significaria a prazo ( curto) o desabar da União Europeia. Seria pior do que o Brexit. Como já foi analisado e perspectivado tendo em atenção os impulsos e até as circunstâncias em que se espaldam outras autonomias e quiçá rupturas por essa Europa fora. Consideramos, apesar de tudo, estas questões sobre um prisma democrático e pacífico. Porque ninguém na Europa terá esquecido os erros crassos do desmembramento da antiga Jugoslávia e das guerras que se seguiram. Será que a Europa institucional aprendeu verdadeiramente?
Veremos o desenvolvimento nos próximos capítulos.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Sem perdão


 Agora. Um pouco mais distante. No tempo. Mas não na memória. Perto, muito perto também na raiva. E na vergonha. Só há uma palavra, duas em boa verdade, para tanta incompetência. Para tanta negligência. Sem perdão. O meu País ardeu a 18 de Junho. Ardeu de novo a 15 de Outubro. A "élite" de merda que elegemos de tempos a tempos é incapaz de ver a realidade. Nega a verdade, ainda que flagrante. Nega o País. Nega-nos a todos. É incapaz de prever seja o que for. É incapaz de coordenar seja o que for. Incompetente e esquizofrénica, tudo depende do seu gang partidário. A este e só a este é preciso agradar. Criar o círculo esfomeado das sinecuras. E mantê-lo. Mantê-lo a todo o custo. O País interior, despovoado, abandonado à sua sorte, é uma abstracção para estes cucos. Terá razão a élite de merda. Esse País não dá votos. Ou dá poucos. E pode ser enganado. Pode ser manipulado. Na sua singeleza, é devorado pelos abutres. Consomem-lhe o corpo e chupam-lhe a alma, mesmo esturricada. De quando em vez, o apocalipse faz com que finjam uma lágrima. Como crocodilos. Para preservar recursos. Há coisas que eles sabem. Há coisas que dominam na perfeição. Sabem como tirar proveito pessoal das dificuldades burocráticas que criaram pouco antes com mestria invejável. Sabem como criar instrumentos para alimentar a sua ganância. Sabem como alimentar os padrinhos. E os afilhados. Sabem como enrolar as lianas de todos os nepotismos. Sabem chamar as atenções. E sabem criar manobras de diversão para desviar as atenções.  Sabem como queimar, enganar, manipular. E sabem que o mais importante é não ter pudor. Não ter vergonha. Enquanto queimam Portugal em lume brando. Por negligência? Por incompetência? O País continuará a arder de qualquer forma. Física e moralmente.  

sábado, 19 de agosto de 2017

Malabaristas

 É útil questionarmos a origem e eventual evolução semântica dos termos que queremos utilizar. Malabarista, ao que dizem, tem origem na palavra malabar. A costa de malabar situa-se no Sudoeste do subcontinente indiano. Foi onde Vasco da Gama aportou. Mas que diabo de relação haverá entre uma zona costeira da Ásia e as habilidades encantadoras hoje exibidas como arte circense? Consta que os Portugueses terão ficado espantados com a destreza destes indianos para levantar objectos e mantê-los desafiando as leis da gravidade. Consta. À falta de melhor, fiquemo-nos por aqui. 

Uma coisa é certa: em Portugal abundam malabaristas. Múltiplos acontecimentos recentes nos fazem lembrar estas admiráveis cenas circenses. Assim: o país arde. Há trágicas e intoleráveis perdas de vidas, de bens, de tudo. A seca ameaça transformar o sul de Portugal num Sahara a haver. Há mesmo quem já o vaticine. Pois no meio de tudo isto, o Senhor Primeiro Ministro vem dizer-nos que é tempo de prevenir as cheias de inverno. Este Senhor é exímio em manobras de diversão. É a sua jogada política mais comum. Há longos anos. E o país assiste quedo e mudo. Os bombeiros já não podem tecer comentários sobre os fogos que combatem, E aceitam. Mas o país continua a arder. Temos comentários, análises e previsões de altas patentes da protecção civil verdadeiramente enternecedores: pela competência, pelos dotes e eficácia comunicacionais, pela oportunidade, pelo saber. Enfim, por tudo. Como é sabido, a maioria destes responsáveis tem longuíssima experiência. Terão sido nomeados em Maio, ao que se diz. Mas enfim. O país continua a arder. Este rectângulo representa mais de 2/3 da área ardida, durante o verão, em toda a Europa. E houve vagas de calor por todo o lado. Em Espanha, França, Itália Grécia, etc. Tudo neste Governo é saber e competência. Reformou a floresta como ninguém o fez ou poderia fazê-lo há sete séculos. Por isso D. Dinis, deu uma volta de espanto no túmulo. Espanto e admiração. Por não entender, como nós não entendemos, porque é que a legislação existente não foi aplicada se ela era suficiente para ordenar devidamente a "fileira florestal".  Não há nada melhor do que uma  nova lei para aliviar consciências. Se for um conjunto de Leis, tanto melhor!
Somos a terra da impunidade. O primeiro ministro não responde. Faz perguntas. Foi Pedrógão, Tancos, Góis, Vila de Rei, tantos, tantos que é cansativo mencionar. O último acontecimento trágico nacional foi a queda da árvore no Funchal que causou 13 mortos, mas que não é de ninguém. Mais um inquérito seguramente. Com tantos inquéritos, não admira que o desemprego diminua. E como os inquéritos em Portugal são eternos, há boas perspectivas para integração dos chamados precários.
E calo-me: por cansaço e à espera de que alguém me chame xenófobo, senão racista, por ter aportado à costa  indiana  de malabar.

domingo, 9 de julho de 2017

Larachas

A sociedade portuguesa vive momentos difíceis de qualificar. Um poder político incompetente e totalmente irresponsável ocupado por detentores directos ou indirectos de cartões partidários e que é incapaz de compreender as mais elementares noções de Pátria, Nação, Comunidade ou sequer a comezinha noção de Bem Comum. A ignorância exalada diariamente é ampliada magistralmente por uma comunicação social estúpida e sistematicamente à procura de furos com  ridículos factos e comentários que martirizam até à náusea. Aqui, talvez por simpatia com os poderes de cujos restos se alimenta, perderam-se as noções de jornalismo e de interesse público. O voyerismo primário é deprimente. Ninguém é capaz de assumir responsabilidades, mas abundam os argumentos mais irracionais para justificar o injustificável,  e sempre com uma falta de pudor que arrepia. Houve um assalto ao paiol de Tancos? - Há coisas mais graves-  diz o Ministro. - Não há dinheiro para reparar a vedação ou a videovigilância, dizem os militares. Tudo isto é tão mau, tão imbecil e tão descarado que não merece sequer a mais pequena resposta. Mas é sintomática num país com 238 generais, ao que consta. Menos ou mais, a situação é seguramente pior do a que existe na maioria dos países do terceiro mundo. E nenhuma semelhança tem, obviamente, com os países ditos desenvolvidos. Num incêndio que deflagrou num Sábado muito quente e onde, de forma nunca vista em todo o mundo morreram 64 pessoas, a  culpa e explicação patética encontrada poucas horas após o início é do downburst, ou "forte corrente de ar descendente associada a trovões". Toda a gente se pronuncia sobre tudo vorazmente, na esperança de, com ou sem gramática, vociferar uma bagatela diferente, ainda que mais patética do que todas as outras. E as televisões dão cobertura a isto despoletando  um enjoo e um cansaço que desmotivam.  Há quem chame retórica  aos verbosos argumentos non sense desta rapaziada que tomou de assalto o palco do poder. Mas não. A retórica tem regras e até já foi uma disciplina das humanidades. Ora, a rapaziada não sabe o que isso é. Chora e ri, aparece e desaparece, abraça e escarneia a seu bel-prazer porque interiorizou a incapacidade nossa de reagir ou de censurar. Ocupem o palco rapazes. Ocupem o palco enquanto é tempo. Enquanto o país não submerge inteiramente no mar de despudor e de mediocridade que vos alimenta. Tudo isto é tão pobre que nem de retórica podemos falar. Por isso lhe chamo larachas. Aos rapazes e aos "argumentos". Enfim. Larachas.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Que Nhaga!

Tenho uma neta, com dois anos e meio, que faz "feitícios": quando destapa os pequenos objectos que guarda com o guardanapo, o lenço ou simples folha de papel. diz uau e solta uma gargalhada genuína e cristalina a que ninguém pode ficar indiferente. Também utiliza nesta fantástica tarefa, um lápis ou qualquer objecto que se assemelhe a uma varinha mágica. É um encanto. Um hino à alegria e à felicidade.
Ocorreram-me estes "feitícios" de ternura por oposição e flagrante contraste com a notícia hoje divulgada sobre contratos patéticos e inacreditáveis entre dirigentes do Benfica e um tal feiticeiro guineense de seu nome Armando Nhaga. Coloco sempre algumas reservas neste tipo de leituras. Mas alguma coisa deverá ter acontecido. Também não creio que absurdos tão negros como este tenham nascido do nada. Bom, os dinheiros eventualmente pagos ao Senhor Nhaga pelo Benfica será dos accionistas da SAD, entre os quais estará o Clube - ao que julgo- e indirectamente todos os sócios. Socialmente é grave. Não o dinheiro eventualmente pago ao Nhaga. Mas a crendice nos feitiços que variavam de jogo para jogo - ( não há dois casos iguais )- mas envolviam sempre bagaço, sacríficios de animais, como galinhas, porcos, entre outros. Alguém conseguirá acreditar nisto em 2017?
 Mais um pequeno empurrão. Entre os dirigentes do Benfica e da sua SAD estão, naturalmente o presidente Luís Filipe Vieira e o Senhor Dr. Rui Gomes da Silva. Este parece ter-se correspondido e "regateado" os serviços do Nhaga. Além de advogado, o Dr. Gomes da Silva tem um vasto e riquíssimo  currículum político. Deputado, chefe de gabinete do Secretário de Estado Santana Lopes, Ministro dos Assuntos Parlamentares do XVI Governo Constitucional e, pouco depois, - imaginem - Ministro adjunto do Primeiro Ministro Santana Lopes, (pois claro) , quando foi preciso substituir Henrique Chaves.
 Foi vice-presidente da Direcção do Sport Lisboa e Benfica e administrador da respectiva SAD  até 2016, aquando da última eleição de Luís Filipe Vieira. Agora é um estimado e douto comentador televisivo. 
É arrepiante. Este Senhor, que já ocupou cargos de indiscutível responsabilidade e de muito poder na estrutura da Estado Português, conseguirá alimentar crendices com o objectivo de beneficiar o seu clube ou prejudicar adversários ( o que vai dar no mesmo) através de feitiçarias que envolvem bagaços, sacrifícios de animais e sabe-se lá que mais?
A que nível descemos como sociedade e como povo? Que Nhagas nos irão acontecer ainda? Sem mais comentários. Tudo isto é muito tenebroso, patético e miserável para ser verdade. Não acredito. Não acreditem, por favor, pela sanidade mental de todos nós.
Ah! Esqueci-me de referir. O Senhor Dr. Rui Gomes da Silva é membro dessa agremiação chamada Maçonaria, cujos membros tantos serviços têm prestado à florescente sociedade portuguesa. Alguém se espantará? Se pudesse, fazia um "feitício".

quarta-feira, 21 de junho de 2017

" No bom caminho?"

A trágica "época dos fogos" que anualmente fustiga este país triste, antecipou-se este ano aos prazos determinados pelos insubstituíveis técnicos e peritos. Antecipou-se, trazendo uma catástrofe de dimensões que ultrapassam tudo o que poderia imaginar-se. As dezenas de vítimas de Pedrógão Grande e de Góis, como todas as vítimas, merecem silêncio, contenção da raiva inevitável, solidariedade e tudo o que de bom a alma humana ainda pode dar ao próximo com empatia e sofrimento. Os meios de comunicação 
- os mesmos que nos enojam com exageros determinados por medíocres e insensíveis - dizem-nos também que esta catástrofe tem sido acompanhada um pouco pelo mundo fora. Perante a dimensão inacreditável da tragédia e as opiniões mais diversas, surgem sempre alguns cucos que entendem que só o pranto e o silêncio acompanhado dos habituais reconhecimentos ao esforço de todos os responsáveis pode respeitar as vítimas. É inacreditável. Há décadas que os fogos vão devorando o território e a sociedade portugueses. Há décadas que os cucos prometem medidas de prevenção, reordenamento da floresta, meios de combate eficazes, apoios de todos os tipos e feitios, enfim, a panóplia conhecida de quem, verdadeiramente utiliza com um oportunismo asqueroso, nos incêndios como em tudo o mais, a simplicidade e a "mansidão" de um povo que foi abocanhado por vampiros e incompetentes a quem nem podemos criticar nestes momentos de infelicidade natural. Como noutros tempos, é a infelicidade que fatalmente nos bate à porta todos os anos.  E é verdade. A fatalidade. A fatalidade. Trovoadas secas na Beira, buracos que devoram carros nas principais avenidas da capital. Fatalidades. Fatalidades. Cada vez serão mais frequentes. Cada vez serão de maior dimensão. A GNR não sabia nem poderia adivinhar o perigo quando indicou ou permitiu o trânsito naquela que é hoje a estrada da morte. Mas não haverá país do mundo onde a fiscalização dos condutores seja mais frequente.Passeiam-se por todo o lado, mas sempre sem meios humanos nem materiais. O vento e o calor nunca vistos eram totalmente imprevisíveis, pois claro. Imprevisíveis eram - são sempre- as falhas das comunicações. Falhas que causaram a morte, a devastação, o medo e a tristeza. Como li num texto extraordinário de Maria João Marques, parece que o único culpado de tudo isto é o infeliz que há anos terá plantado a árvore que aparou o raio. Mas, afinal parece que o Presidente da Liga dos Bombeiros, Mata Soares de seu nome, já sabe que o incêndio ocorrera e tinha proporções muito grandes quando se verificou a trovoada seca. Mas é extraordinário.. No mínimo é extraordinário. No 2º dia do incêndio que a esta hora ainda não pode dar-se por extinto, já a PJ sabia que fora causado por causas naturais. Extraordinário. Que competência! Que rapidez! Que precisão. O País está corporativizado. Vejam bem. Agora, as corporações mais ilegítimas pavoneiam-se garbosamente pelos recônditos labirintos legiferantes e administrativos. Nenhum incêndio, nenhuma tragédia pôde evitar a greve dos professores. E nenhuma tragédia evitará esse verdadeiro absurdo que é a greve dos Juízes. Poderíamos continuar indefinidamente. O País foi abocanhado. E os cucos tudo fazem e utilizam toda a retórica para que os operários a quem devem o ninho esqueçam a irresponsabilidade, a negligência, a incompetência, a pulhice. Pobre País. Pobre povo. Como são largas as costas desta pseudo-democracia.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

O "foco" é tudo.

 Vi ontem uma pequena parte do vídeo da conferência de imprensa convocada pelo Senhor Engº Mexia na sequência da sua constituição de arguido num processo. A outras pessoas, ligadas hoje ou anteriormente à EDP e à REN foi dado idêntico estatuto. Também li alguns resumos da mesma conferência. Ao que parece a EDP não teve nenhum benefício resultante da assinatura dos contratos para estabelecer os chamados CMEC ( Custos para a manutenção do equilíbrio contratual). Só o nome é uma aberração jurídica. Mas o evento ou sucessão de eventos que me leva a retomar este blog há vários meses inactivo, é uma forma de esbracejar num país anedótico cuja democracia foi transformada numa farsa. Por estes e outros indivíduos com privilégios intoleráveis e rendimentos principescos e que, apesar disso, são mediocridades rapaces e patéticas. Quando oiço coisas como aquelas que disse o Senhor Mexia, apetece-me ser jornalista. Quando o Senhor afirmou 
que a EDP não teve qualquer benefício com a assinatura desses "contratos" apetece-me pedir-lhe que se demita, porque nesse caso ele é um péssimo gestor. Um contrato é assinado quando traz benefícios para ambas as partes, visto que pressupõe o princípio da liberdade contratual. Então o Senhor Mexia & Cª foi obrigado a assinar contratos que não trouxeram benefícios à empresa que representa? Que se queixe por coacção! Claro que é mais verosímil considerar que, com estas declarações, o Senhor Mexia & Cª está a chamar imbecis publicamente a todos os Portugueses. Ou seja, está a insultar-nos publicamente depois de passar anos a espoliar-nos sem o menor rebate de consciência.
O assunto é grave. Tão grave que não nos apetece comentá-lo mais demoradamente. Por pudor. No que a corrupção diz respeito, apetece dizer que, em Portugal, cada sachada sua minhoca.
Por isso, terminaremos com pequenas considerações formais, mas que julgamos particularmente pertinentes: a) porque terá estado parado durante anos este processo? Entendo, pelo que li, que só agora a PJ terá sido chamada a auxiliar a investigação. Há anos que defendo que a investigação deve ser das polícias, a acusação do MP e o Julgamento do Juíz. Porque persistirá esta "entorse" ou fricção entre MP e PJ?
b) Porque não pediu o MP o segredo de Justiça neste caso que diz ser complexo e cujo objecto é igual a tantos outros onde até houve e há prisões preventivas? Não gosto do segredo de Justiça. Mas já alguém se interrogou sobre o que aconteceria se todos os arguidos decidissem convocar conferências de imprensa para refutar pocessos penais?
Agora é mesmo para terminar: o Senhor Mexia repetiu de forma patética e pouco convincente ( para qualquer jurista com alguma experiência) uns tantos "ditirambos" non sense para justificar coisa nenhuma. O seu gesto, a sua ênfase e o seu mal disfarçado embaraço foram confrangedores. E aquela de que não perderão (eles) o foco nos objectivos da sua gestão é de gargalhada.  O foco é impertinente. Por isso é de gargalhada. Impertinente também. Ou talvez de corninhos de verde pinho. Pertinentes.
Vá-se lá saber!!!! 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

As condições da Liberdade

Mário Soares morreu no passado dia 7 de Janeiro de 2017 com 92 anos. O enterro foi terça-feira, dia 10, tendo o corpo ficado no mausoléu familiar no Cemitério dos Prazeres. A morte de Soares surpreendeu o 1º Ministro em viagem oficial à Índia. Viagem que não interrompeu porque o dever está acima de tudo. É bonito ouvir coisas destas. O Governo decidiu que Soares teria um funeral de Estado e decretou 3 dias de luto. O que parece correcto. O cortejo para os Jerónimos e daqui para o cemitério com as devidas "pausas" foi divulgado ad nauseam. As várias cerimónias foram impecavelmente organizadas e calendarizadas. A fotografia do ex-presidente da República foi divulgada por Lisboa inteira. As que vi tinham o símbolo ( assinatura?) da Câmara Municipal de Lisboa. Durante os quatro dias, de pouco mais se falou para além da vida e da morte de Mário Soares. Houve pessoas, como sempre sucede, que aproveitaram para destilar ódio e despeito. Foram tratadas, até literalmente por energúmenos. Partilho o aforismo latino: de mortuis nihil nisi bonum. Por isso, também me parece mau gosto tecer comentários despropositados sobre alguém aquando da sua morte. A História não tem pressa. Mas a maioria dos inumeráveis comentários, artigos, reportagens opiniões, pequenas histórias, testemunhos, depoimentos,etc. foram encómios, panegíricos, louvores sem fim ao pai da liberdade. Reconheço que no meio do turbilhão, algumas opiniões foram escritas em português razoável. Mas outras, nem a gramática nem a semântica lhes valiam. Eram mediocridades salpicadas de notório oportunismo. Mas da maioria esmagadora, ressaltava, de facto, a intolerância sob a capa desta verdade mistificadora: se não fosse Soares não poderíamos celebrar a liberdade e escrever encómios, porque o ambiente de censura para com suspeitos  de tecer alguma crítica estava presente e era pesado como chumbo. Por isso destaco aqui dois artigos: um do muito censurado Henrique Raposo, no Expresso, de que julgo ser suficiente recordar apenas isto: o título: Nem Hagiografia nem Travessura. E mais esta verdade incontestável.  As ditaduras têm um pai. Os regimes livres têm muitos pais. O outro artigo que quero destacar é de Alberto Gonçalves na Revista Sábado. Apesar de toda a revista ser uma edição especial dedicada a Soares ( com muitas páginas de interesse duvidoso), no seu Juízo Final, Alberto Gonçalves com o respeito apropriado referiu-se aos inumeráveis escritos e oportunismos assim ( cito de memória): Pelos vistos, uma considerável percentagem dos meus compatriotas apenas respira, pensa, corre, dança e repete banalidades em público graças ao Dr. Soares. Curiosamente muitos dos que agradecem a liberdade, apreciam hoje a influência que notórios inimigos da liberdade exercem sobre o País.
Não seria nisto que Alberto Gonçalves pensava. Mas ocorre-me o episódio, os múltiplos episódios do chamado ex-secretariado do PS quando forçaram Soares a suspender as funções de Secretário Geral. O objectivo era esfrangalhar o PS apoiando a candidatura de Ramalho Eanes. E haverá quem não esqueça que o General quando impulsionou da Presidência a constituição do PRD queria indiscutivelmente despedaçar o PS e talvez em menor escala, o PSD. Estou à vontade neste campo. Foi a única ocasião em que apoiei  publicamente a posição de Soares. Com um artigo no semanário O Jornal. Pontificavam então no Secretariado do PS figuras como o hoje Secretário Geral da ONU, António Guterres, o ex-Presidente da República  Jorge Sampaio, Vitor Constâncio e tantos, tantos outros. Estagiário que foi do escritório de Sampaio, António Costa estaria então com os nomes sonantes de que nomeei apenas três. Seguramente. Mas enfim. Como disse anteriormente, a História dirá o que ainda não foi dito e, particularmente, desdirá o muito que foi dito sem critério e sem justificação séria.
Para já fiquemo-nos por isto. Mário Soares terá um lugar central na História de Portugal da segunda metade do Sec.XX ( afasto os 16 anos deste século, porque lhe são grandemente desfavoráveis), para o bem e para o mal. Assumiu atitudes importantes para a vida de todos nós, mas também teve atitudes desastrosas. Direi a terminar que a liberdade não é um conceito abstracto que se transporte como um facho olímpico. A liberdade está condicionada e é determinada pelas condições da liberdade. Condições políticas mas também económicas e sociais. Se é indiscutível que a liberdade política não tem paralelo com aquela que existia no final do Estado Novo, tenho muitas dúvidas que o peso da organização, maxime a do Estado, facultem ao indivíduo uma liberdade sócio-económica aceitável, mesmo comparando com os últimos anos do Estado Novo. É também verdade que o bem estar económico-social foi democratizado, abrange hoje um maior número de cidadãos. Mas tendemos sempre a esquecer que se passaram 42 anos sobre o golpe de Estado de que viria a sair um arremedo de revolução. Qualquer regime teria evoluído e...naturalmente para a democracia. A liberdade política chegaria com Mário Soares ou sem Mário Soares. O que não retira importância à luta pela liberdade que este travou nos momentos certos.  A tirania fiscal que hoje vivemos não encontra paralelo em qualquer outro momento da nossa história.Não me lembro, pelo menos. As grandes organizações espremem os direitos individuais até ao tutano, sendo verdade que os responsáveis, ou melhor aqueles a quem foram cometidas responsabilidades para evitar estes atropelo, limitam-se a assobiar para o lado, quando não estão "comprometidos" ou corrompidos pelas organizações que era suposto regularem.
Hoje, em Portugal, são frágeis muito frágeis as condições da Liberdade.

nota: reproduz-se um quadro de Vieira da Silva intitulado, ao que penso, o prisioneiro na árvore.