Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Brexit

Fui um convicto europeista. Sempre defendi que deveríamos aderir à então CEE. Não havia alternativa razoável. Nem hoje há. Devo, no entanto, reconhecer que o projecto europeu tem sido desvirtuado pelos burocratas que pensam sobretudo nos tachos que a UE proporciona. Tem-se a impressão que o indiscutível afastamento dos cidadãos do projecto da UE é totalmente indiferente às élites hipócritas que o parasitam de forma torpe e despudorada. Por isso hoje tenho muitas dúvidas sobre o futuro de um sonho que valeu a pena. Que valia a pena. Será que encontraremos dirigentes capazes de motivarem uma aproximação das instituições e dos cidadãos europeus que nos possa fazer afirmar que ainda vale a pena? Para tanto, não tenho dúvidas que é preciso alterar profundamente as regras de alguns tratados e particularmente o Euro, tal como está desenhado e posto em prática. Pode existir uma moeda única com uma sensata variação de valor de Estado para Estado.  Se assim não for dificilmente o Euro se salvará. Os britânicos entenderam este aspecto desde o início.
Como é sabido, os Britânicos votarem maioritariamente pela saída da União no passado dia 24 de Junho. Tenho pena. Apesar da sua clássica e propalada ambiguidade, o Reino Unido foi uma peça fundamental no xadrez europeu, nos momentos mais graves e decisivos da história dos seus povos.  E continuará a ser. Até no que aos vícios institucionais diz respeito e a que já me referi, o pragmatismo britânico era muito útil para travar perspectivas hegemónicas. Enfim. Julgo que o processo de saída se concretizará e que será negociado um estatuto que mantenha muito estreitas as relações entre o UK e a UE. Sou, pois,visceralmente, contra atitudes revanchistas e entendo que a vontade do RU resulta das urnas e não de "manifestações" posteriores de pretenso arrependimento. Saibamos respeitar o povo Britânico e o seu indubitável amor à liberdade e à democracia. E saibamos condenar oportunismos, como o da primeira ministra escocesa. Felizmente, parece estar assente que esse oportunismo foi entendido e será rejeitado.
Claro que a saída do Reino Unido da UE trará consequências muito relevantes. Sobretudo económicas. Mas espero -melhor - tenho a certeza que não serão tão caóticas como alguns têm querido fazer crer. As atitudes de pequenas vinganças e azedumes, como a do Senhor  Junker revelam a falta de estofo dos dirigentes europeus. Isto, sobretudo esta falta de estofo e de capacidade de liderança, foi o que, na verdade, afastou os britânicos e é ainda aquilo que verdadeiramente afasta os cidadãos do projecto europeu. A promiscuidade entre a Política e mundo financeiro, de que é mero exemplo a recente nomeação do Senhor Barroso para o Goldmann Sachs, minará o apoio popular que a UE deveria procurar acima de tudo, como  único cimento efectivo para a construção do projecto europeu.
Não houve cão nem gato que não opinasse nas ultimas semanas sobre o Brexit. Li opiniões sensatas e bem informadas e disparates de alto calibre, como mediocridades convencidas e pretensiosas, como todas as mediocridades. Tenho pena que o RU deixe a UE, repito. Mas muito mau seria criar circunstâncias artificiais para conseguir uma matreira e falsa vontade de permanência. Os britânicos retirarão lições dos seus actos. O que verdadeiramente é triste e muito grave para o futuro da UE é a percepção que todos temos de que os dirigentes comunitários nunca aprendem com coisa alguma.  Só aprendem todos os meios para tirar vantagens pessoais dos lugares que ocupam. Que pena. Um pouco de idealismo faria bem a todos.

Sem comentários:

Enviar um comentário