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domingo, 17 de julho de 2016

Campeões: e viva a bola

Faz hoje uma semana, vivemos horas de glória: a selecção portuguesa de Futebol sagrou-se campeã da Europa, vencendo a selecção francesa por 1-0 no Stade de France, em Paris., orientada pelo seleccionador Fernando Santos. Não sendo muito dado a "futebóis" vibrei seriamente durante os noventa minutos regulamentares e os trinta de prolongamento. Foi no prolongamento que a equipa portuguesa marcou o golo que nos deu o título. Vibrei naturalmente pela capacidade de resistência e de vontade revelada pelos jogadores portugueses. Devo reconhecer que os Franceses jogaram mais para a vitória. A equipa portuguesa teve alguma sorte, mas -ao que parece - não há campeões sem um pouco de sorte. Vibrei porque lera no dia anterior o tom desprestigioso e até malcriado como alguns meios de informação franceses se referiram à selecção des petits portugais. Sem estranhar. O pretensiosismo gaulês sempre soube exibir-se no seu pior. E fá-lo com arrogância e algum despudor. Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo, foi anulado por Payet logo aos oito minutos de jogo. Lembrei-me de ter lido declarações do seleccionador Deschamps de que não conhecia meio para anular Ronaldo. Pois bem: sem querer elaborar teorias da conspiração, a verdade é que a falta foi tão evidente e tão oportuna que me pareceu claramente intencional. Apesar do esforço heróico que o capitão da selecção ainda fez para tentar superar a lesão teve de ser substituído por Ricardo Quaresma. Que fez um excelente jogo, de resto. Com garra, empenho e habilidade. O golo foi marcado por Eder, um jogador menos conhecido, mas que também fez muito bem o seu papel. Ao que parece, Ronaldo, já no banco tê-lo-ía motivado transmitindo-lhe que seria ele a marcar o golo. A ser assim, reconheçamos a força da fé e da vontade. Parece que isso mesmo foi transmitido à equipa pelo seleccionador Fernando Santos. Católico praticante, como se assume, sempre disse, apesar dos empates, consequentes críticas e talvez algum despeito que só regressaria dia 11 de Julho e campeão da Europa. Assim foi. Mas regressando um pouco à anulação de Cristiano Ronaldo. Tenho a convicção de que ele foi anulado do modo mais feio, do ponto de vista desportivo. Curiosamente, o árbitro não marcou qualquer falta. O que também diz bem da imprevisibilidade deste desporto que, em múltiplas circunstâncias substituíu as guerras tribais. Infelizmente, apesar de a Fifa, a Uefa e congéneres organizarem competições continentais e mundiais, as guerras mantêm-se, localizadas, mas persistentes. O terrorismo, esse pesadelo dos nossos dias é global. Esta semana, a França sofreu mais uma barbárie, na sua instância de férias mais conhecida. Em Nice, na marginal, a que chamam  promenade des Anglais. Oitenta e quatro mortos e centenas de feridos. Tudo deliberadamente provocado por um louco conduzindo um camião de 14 tons. Islamita radical, é claro.
Enfim, regressemos à bola que, apesar de todas as reservas quanto aos seus excessos, é um assunto mais pacífico e agradável. Foi um triunfo importante para o Futebol português. Mas não consigo deixar de sorrir com algum cinismo - confesso - perante os múltiplos actos políticos de aproveitamento do desporto, em geral e do futebol, em particular. As atitudes e os gestos do  Senhor Presidente da República Rebelo de Sousa, bem como os do Primeiro Ministro António Costa são deploráveis. E não podem ser autênticos e genuínos. Por muito que o declarem, não podem ser autênticos. Ouvindo os "discursos" do Senhor Presidente na entrega simbólica das condecorações não conseguimos deixar de considerar alguns dos seus arrufos claramente patéticos. Mas enfim. A minha admiração autêntica para o seleccionador e para todos os desportistas que defendem com brio e empenhamento o nome de Portugal. Foi o Futebol, mas também prestações briosas e vencedoras no Atletismo, em Amsterdão e ontem uma vitória também europeia, no hóquei em Patins. Para terminar e agora sem cinismo: viva a bola.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Brexit

Fui um convicto europeista. Sempre defendi que deveríamos aderir à então CEE. Não havia alternativa razoável. Nem hoje há. Devo, no entanto, reconhecer que o projecto europeu tem sido desvirtuado pelos burocratas que pensam sobretudo nos tachos que a UE proporciona. Tem-se a impressão que o indiscutível afastamento dos cidadãos do projecto da UE é totalmente indiferente às élites hipócritas que o parasitam de forma torpe e despudorada. Por isso hoje tenho muitas dúvidas sobre o futuro de um sonho que valeu a pena. Que valia a pena. Será que encontraremos dirigentes capazes de motivarem uma aproximação das instituições e dos cidadãos europeus que nos possa fazer afirmar que ainda vale a pena? Para tanto, não tenho dúvidas que é preciso alterar profundamente as regras de alguns tratados e particularmente o Euro, tal como está desenhado e posto em prática. Pode existir uma moeda única com uma sensata variação de valor de Estado para Estado.  Se assim não for dificilmente o Euro se salvará. Os britânicos entenderam este aspecto desde o início.
Como é sabido, os Britânicos votarem maioritariamente pela saída da União no passado dia 24 de Junho. Tenho pena. Apesar da sua clássica e propalada ambiguidade, o Reino Unido foi uma peça fundamental no xadrez europeu, nos momentos mais graves e decisivos da história dos seus povos.  E continuará a ser. Até no que aos vícios institucionais diz respeito e a que já me referi, o pragmatismo britânico era muito útil para travar perspectivas hegemónicas. Enfim. Julgo que o processo de saída se concretizará e que será negociado um estatuto que mantenha muito estreitas as relações entre o UK e a UE. Sou, pois,visceralmente, contra atitudes revanchistas e entendo que a vontade do RU resulta das urnas e não de "manifestações" posteriores de pretenso arrependimento. Saibamos respeitar o povo Britânico e o seu indubitável amor à liberdade e à democracia. E saibamos condenar oportunismos, como o da primeira ministra escocesa. Felizmente, parece estar assente que esse oportunismo foi entendido e será rejeitado.
Claro que a saída do Reino Unido da UE trará consequências muito relevantes. Sobretudo económicas. Mas espero -melhor - tenho a certeza que não serão tão caóticas como alguns têm querido fazer crer. As atitudes de pequenas vinganças e azedumes, como a do Senhor  Junker revelam a falta de estofo dos dirigentes europeus. Isto, sobretudo esta falta de estofo e de capacidade de liderança, foi o que, na verdade, afastou os britânicos e é ainda aquilo que verdadeiramente afasta os cidadãos do projecto europeu. A promiscuidade entre a Política e mundo financeiro, de que é mero exemplo a recente nomeação do Senhor Barroso para o Goldmann Sachs, minará o apoio popular que a UE deveria procurar acima de tudo, como  único cimento efectivo para a construção do projecto europeu.
Não houve cão nem gato que não opinasse nas ultimas semanas sobre o Brexit. Li opiniões sensatas e bem informadas e disparates de alto calibre, como mediocridades convencidas e pretensiosas, como todas as mediocridades. Tenho pena que o RU deixe a UE, repito. Mas muito mau seria criar circunstâncias artificiais para conseguir uma matreira e falsa vontade de permanência. Os britânicos retirarão lições dos seus actos. O que verdadeiramente é triste e muito grave para o futuro da UE é a percepção que todos temos de que os dirigentes comunitários nunca aprendem com coisa alguma.  Só aprendem todos os meios para tirar vantagens pessoais dos lugares que ocupam. Que pena. Um pouco de idealismo faria bem a todos.