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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

17 segundos

Putin não é uma figura simpática. O jogo das cadeiras entre a presidência e o lugar de 1º ministro da Federação Russa que personificou com Medvedev indicia uma estranha, autoritária e suspeita democracia ( no mínimo) que não pode agradar; que não me agrada. Longe estava eu, portanto, há uns tempos, de poder vir a dar razão ao agora e uma vez mais Presidente da Federação Russa.  Mas como recuso que a cegueira ideológica me tolde a lucidez, não posso deixar de tecer algumas considerações, ainda que elas vão de encontro a algumas posições de Putin.
Comecemos pelo acontecimento mais recente: um bombardeiro russo que combatia o chamado estado islâmico na Síria foi abatido por dois caças turcos, mas despenhou-se em território Sírio. De notícia em notícia, parece confirmar-se que os dois pilotos se ejectaram e um, pelo menos um, acabou morto por rebeldes sírios. Que grupo? Não sei. Nem isso é importante sequer. Segundo os responsáveis turcos, o bombardeiro teria violado o espaço aéreo turco durante 17 segundos. E- dizem eles - foram feitos vários avisos. Quantos avisos podem ser feitos em 17 segundos? Bom. Os avisos terão sido feitos ainda antes. Preventivamente e sem resposta. Tudo isto é patético. Em 17 segundos são feitos avisos ( vários), são disparados mísseis (?) por quem já tinha o dedo no gatilho prontíssimo a disparar. Seguramente que houve também algum contacto dos pilotos turcos com o seu comandante, a não ser que as ordens tivessem sido dadas anteriormente.Tudo isto é prévio, tudo isto é cretino. Numa palavra: os caças estavam ali, de tocaia, com uma linha divisória marcada por um negro arco-iris gravado na imaginação dos pilotos e prontos a disparar. Patético, estúpido, imbecil. execrável. A Turquia é membro da NATO, pelo que todos os restantes estão obrigados a prestar auxílio, no caso de agressão. Claro que a NATO apoia a Turquia. Paris foi objecto na noite do dia 11 de Novembro de hediondos ataques terroristas perpetrados pelo estado islâmico. O seu Presidente declarou que a França estava em Guerra e declarou também o Estado de emergência. E bem. Tem feito várias diligências para organizar uma grande coligação internacional, capaz de combater com eficácia o referido estado islâmico ou Daesh. Pelo que se sabe, mesmo sem grandes acertos formais, a França e a Rússia já estavam a colaborar nos ataques àquela calamidade que constitui um sério risco para toda a humanidade e para a civilização. Pois bem. Tudo indica que Putin tem razão. A Turquia é, objectivamente, um aliado do terrorismo islâmico. É cúmplice nos graves atentados contra a humanidade daquele grupo satânico. A sua atitude pode ser encoberta pela NATO? Então a NATO torna-se cúmplice dos assassinos de Paris, de Madrid, de Londres, de Bombaim, do Líbano,  de Nova York e de tantos, tantos outros. Como é possível?
Passemos à Ucrãnia: parece estar outra vez em estado de sítio, se é que alguma vez deixou de estar, nos últimos dois anos. É indiscutível que a "revolta" na praça Maidan , em Kiev, foi fomentada, apoiada, aclamada, - o que se queira - pelo ocidente. Bem ou mal, Yanukovitsch fora eleito. Foi forçado a abandonar a Ucrânia no dia 21 de fevereiro. Daí decorreu um governo sem qualquer legitimidade que o ocidente "tolerou" com carinho. Meses depois, o ocidente vociferou contra o auxílio da Rússia aos revoltosos do Leste Ucraniano. E, de forma algo patética, acusou Putin de ter invadido a Crimeia. Para além de tudo, até a história quis reescrever. Demonstrando ignorância e despeito. Então quando os revoltosos se dizem nossos aliados, APOIAMO-LOS. Quando se dizem aliados de outrem COMBATÊMO-LOS e criticamos quem os apoia.
Que fique claro: sou ocidental, favorável à UE ( já fui mais) e entendo que Portugal deve continuar a integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte, vulgo NATO, pela sigla Inglesa ou OTAN pela portuguesa. Por isso mesmo, quero aqui deixar expresso que me recuso a ser manipulado por actos de propaganda e de demagogia, por muito que julguem ou digam servir os interesses do ocidente. Que não servem. Podem vociferar os políticos medíocres que governam a UE. Podem repeti-lo até à saciedade. A mentira, o facciosismo e a demagogia não servem os valores do humanismo, os interesses da paz e da democracia. Estes sim, são valores ocidentais que reconheço, que todos reconhecemos e pelos quais vale a pena lutar.