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sábado, 22 de dezembro de 2012

Canduras, nacionalizações e BPN

É hoje notícia de 1ª página do Expresso: clientes deixaram de pagar as dívidas ao BPN. Como se fosse "coisa" estranha ou  inesperada,  também os restantes canais de notícias a espalham com ecos de esoterismo. As estaçõs de Rádio: " o buraco BPN não para de aumentar"...etc., etc. É difícil suportar diariamente a imbecilidade e a ignorância. Começando pelos jornalistas. O BPN foi uma das maiores vigarices a que os contribuintes portugueses foram sujeitos. Ponto. Toda a gente o sabe. Não sabe quem não quer. Ou os pobres de espírito. Mas deles - dizem- será o reino dos céus. A que propósito foi a nacionalização? A que propósito foi a concessão de milhões e milhões de crédito  já após a derrocada e correspondente nacionalizão? Foi vendido por meia dúzia de tostões. E mesmo assim, o comprador/a escolheu os "activos" que lhe interessaram. Os chamados "tóxicos" ficaram para o Estado. Melhor dizendo, para os contribuintes, porque essa do Estado é, evidentemente, uma mistificação. Os contribuintes. Os tais que, segundo aquele espantoso Ministro das Finanças Teixeira dos Santos não pagariam um cêntimo pelo BPN. Logo, porque se espantam os meios de comunicação com a realidade mais do que esperada de que os tóxicos acabem por intoxicar? O inverso é que nos deveria espantar. Como é diferente o amor em Portugal! Ninguém comentou sequer o gravíssimo atropelo às regras e princípios da concorrência quando o Governo de então se escondeu atrás da Caixa Geral de Depósitos. Como ninguém comentou o gravíssimo atropelo aos princípios e regras mais elementares do Direito da Concorrência quando se "desviaram"  gestores da mesma Caixa para o seu maior rival, o BCPMillenium.  Pouco importa se eles eram bons ou maus gestores. A saida de um banco público e o ingresso, como principais administradores de um banco privado é intolerável em qualquer país civilizado. Mas, em Portugal, ninguém abriu a boca. Como é diferente o amor em Portugal. Eu e os restantes contribuintes continuaremos a pagar as incompetências, os nepotismos, as imbecilidades dos oportunistas a quem esta mistificação democrática entregou o poder e a arrogância. Esguedelham-se por tudo e por nada. Pelo poder, pela aparência de poder, pela compensação de um ego esfarrapado de maltrapilhos mentais. Que tristeza. Como é diferente o amor em Portugal. Canduras. Não admira que o contribuinte português seja a figura do ano de 2012. E, resignadamente, continuará seguramente a ser a figura do próximo ano.

Nota: o seu a seu dono, evidentemente. Espero que o autor do blog O Pai do Bicho ( Zé Brites?) e o respectivo autor ( derkaoui?) não se ofendam pela utilização da caricatura. Esta utilização é, da minha parte, uma homenagem ao seu trabaho.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Portugal não é a Grécia?

É nosso dever começar por louvar o autor do Henricartoon ( Henrique Monteiro, ao que sei), pela excelente caricatura que tomamos a liberdade de publicar. Esta, como muitas outras caricaturas do mesmo autor demonstram que, apesar de tudo, ainda se fazem coisas muito boas entre nós,.Demonstram que ainda há quem resista à mediocridade em que nos afundamos. Por mero acaso, a última entrada neste blog, também tinha um motivo do grande Rafael Bordalo Pinheiro. O motivo de hoje, pela perspicácia e oportunidade, bem merece estar ao lado do Zé pagante do genial Rafael Bordalo Pinheiro.
 Há uma segunda nota que não podemos deixar em claro: há mais de dois anos ( desde que a "crise" começou) que se ouvem,por tudo e por nada, os políticos e todos  os imbecis, afirmar e reiterar esta ideia: portugal não é a Grécia! Pouco importa estar agora com "tiradas economicistas" e boçalidades políticas. Esta afirmação, que tem algo de arrogante, é mesquinha, estúpida e despeitada. Os Gregos fizeram muitas asneiras com os subsídios que receberam. É verdade. E nós fizemos o mesmo. Mas, para um País que reclama a solidariedade dos restantes parceiros europeus, é completamente estúpido e despeitado querer distanciar-se de um outro membro da UE, só porque julga que não está tão mal. Se queremos a solidariedade dos outros, é nosso dever mostar, no mínimo, a nossa solidariedade a todos e sobretudo àqueles que julgamos estarem piores do que nós. Estarão? É uma questão muito discutível. Mais coragem do que nós têm. E isso traduz-se em dignidade. Talvez a dignidade, ou o que fazemos para a preservar, seja o mais importante do que nos resta. Do que não nos resta, no triste caso nacional. Ao menos, os representantes do povo grego têm defendido os interesses dos representados bem melhor do que têm feito os nossos representantes. É o que penso e, ou muito me engano, ou é também o que pensa grande parte do povo português. Como o cartoon demonstra, talvez estejamos a enforcar-nos em "servilismo" e, por isso, os Gregos nos olhem com espanto e alguma ironia. Tenho para mim que os próximos meses trarão grandes surpresas. Más, infelizmente. Oxala não sejam irreparáveis.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Imperdoável

O Zé pagante ( Rafael Bordalo Pinheiro)
Luís Marques Mendes disse há poucos dias que o Vitor Gaspar deve estar a gozar com o pagode. Louvo a forma directa e honesta como o ex-presidente do PSD - e que até apoiou Passos Coelho - exprimiu a sua irritação e indignação. Sentimentos que se generalizaram.1- Em quem apoiou Passos Coelho, farto da baronagem do PSD e na esperança de quem alguém menos comprometido pudesse fugir à lógica de interesses e de tráfico de influências do bloco central. Estes já se desenganaram, obviamente 2- Indignados estarão também todos aqueles que votaram Passos Coelho para "punir" os últimos anos do PS, particularmente de Sócrates, cuja irresponsabilidade e descaramento muito contribuíram para que o País entrasse no caminho da miséria em que se encontra. Não foram apenas os governos de Sócrates, evidentemente. A irresponsabilidade é muito anterior e nela participaram também governos do PSD, designadamente os do actual Presidente da República. Todos os actos de miopia que trocaram a capacidade produtiva pelos simples e imediatos "subsidios" deveriam ser julgados por má gestão e, sobretudo, por irresponsabilidade e por traição ao que de melhor os portugueses fizeram nos seus oitocentos anos de história. A mediocridade nivelou tudo por baixo. 3- Indignados estarão ainda todos quantos acreditam com naturalidade que, apesar de saberem que a política vive de aldrabice, de nepotismo e de muita corrupção,  a atribuição de responsabilidades governativas deveria, no mínimo, contribuir para que "esse alguém" respeitasse quem lhe dá o poder e as prebendas: quem lhe paga o ordenado e os benefícios presentes e futuros ( que são sempre muitos, como já está demonstrado). Ora, estes ministros têm revelado uma demagogia e uma incapacidade desesperantes. Dizem e desdizem e voltam a dizer que não disseram, mas a culpa é sempre dos outros. Ninguém os entende porque os tolos (todos nósnão entendem tanta genialidade ( a deles). Nada sabem ou revelam saber da vida, da eficiência e equidade de medidas essenciais de governação, em bom rigor, nem português sabem, como se percebe cada vez que os ouvimos. Mas são génios incompreendidos! Caminhamos para o precipício. Tudo isto é imperdoável. Este governo conseguiu dar razão aos "esquerdalhos" - que não confundo com uma esquerda séria e consciente; aos arrivistas - que também soube integrar -; aos demagogos, lunáticos, populistas e até aos dementes ou caminhando para a demência. Arre, porra, que é demais. Isto, tudo isto, é verdadeiramente imperdoável. 

domingo, 25 de novembro de 2012

Kasperl, faits divers e tanta...merda.

 No post de 24 de Julho de 2011, falámos aqui, neste modesto blog, no primo alemão do Punch Inglês, irmão mais novo, por sua vez, do Pulchinelo,  enfim, das figuras bonecreiras mais conhecidas da Europa. Era o Kasperl ou Kasperle, Gasparinho, diríamos em português. Há mais de um ano, a associação era bem menos evidente. Kaspar Laifari foi a personagem de um bonecreiro de grande classe de meados do sec. XIX, de seu nome Graf Pocci. Pelo que antes do aparecimento de Kasperl, o nome mais conhecido nas marionetas tedescas seria o  de Hans Wusrst ( Zé Salsicha, traduziriamos nós, sem maldade, mas de forma agora também apropriada, nos tempos que correm). Bom, relembramos hoje esse post por nos parecer alegoricamente oportuno, face ao orçamento aprovado há dias, à situação caótica em que o país caíu e continuará a cair pela forma como as coisas se perfilam e que todos vêem menos o nosso Gasparinho. Lembramos apenas que o sentido de humor dos Alemães ( têm-no, não duvidem!) leva a que chamem às maçudas, improdutivas e tantas vezes patéticas discussões parlamentares, o Kaspertheater ( teatro de marionetas). A nossa feira da Ladra também não está mal. Se bem que o nosso sentido de humor vai sendo abafado por uma mal fadada resignação.
Ainda esta semana, o agora homem forte do Millennium BCP, de seu nome Amado, dizia esta coisa  absolutamente transcendente: se pagassemos menos juros pelo dinheiro que o Estado nos "emprestou" para capitalização ( mais de € 3 mil milhões só ao Millennium, lembram-se?) então poderíamos financiar a economia!!! O Bava também se achou com o direito a bacoradas. Naturalmente. " A nossa fibra não está aberta para ninguém." Será que os "buracos não foram feitos em espaço público. Todos os buracos foram abertos no espaço público! Com fibras e sem fibras. E duvido que o Bava tenha fibra! Haverá reguladores em Portugal? Será que esta gentalha toma todos os portugueses como mentecaptos? Os bancos baixam os spreads apesar de tudo o que tem sucedido? Será que pagam tanto quanto nós pagamos ao BCE e Cª? Querem dado e arregaçado e dizem-no sem vergonha e sem pudor. O Senhor Governador do BP parece ter partilhado, para obter a sua anuência, seguramente, a ideia genial do hipotético banco de fomento com o Faria da CGD e com o Salgado do BES, entre outros, é claro. Muita coisa tem este "regulador" partilhado com a ordem irregular dos correspondentes padrinhos e sobrinhos. Lembram-se do BPN? E do BPP? E das "cegueiras obstinadas" do Constâncio e Cª? Até aos deputados negou informação. E bem mereceram a "nega" essas inúteis e subservientes marionetas de cordel. Como ele ( Constâncio) mereceu o tacho na Europa. Espero que tenha levado o motorista. Todos os nossos génios são reconhecidos na Europa e no mundo. Quanta merda! É tanta a merda, tão genial e  tão patética que cansa tentar explicá-la. Só tentar explicar cansa! A arrogância, a prepotência, a mediocridade, a irresponsabilidade, a imbecilidade enfim, a merda em que toda a vida nacional se transformou é pateticamente cansativa. Agora estão os Açores e o Governo Central preocupados, muito preocupados, porque os Americanos decidiram "poupar" nas Lajes e não só, ao que parece.  Consigo conceber que um Estado soberano exija contrapartidas, monetárias ou não, pela utilização de um espaço que se compreenda nessa soberania. Mas que fique histérico porque outro estado deixa de estar interessado na utilização que vinha fazendo do espaço, não me entra na cabeça. Mais facilmente admitiria que lhes pedissem o favor de ficar. Sim. Sim. Pedir e beijar-lhes a mão. Ou então desistam da ilha, que diabo. Tudo isto é patético. Alguém disse que o ridículo mata? Enganou-se no que a Portugal diz respeito. O ridículo não mata em Portugal. Em Portugal, nos tempos que correm, toda a merda engorda, seja ela central, regional ou local. Terá fim toda esta merda? Algum dia terá fim? 
O Gasparinho ri-se. Por ser primo do Loucâ, seguramente.

domingo, 4 de novembro de 2012

Tenham vergonha!

São três e atacam aos pares
Parece que o ministro Gaspar, Vitor, terá ficado "ofendido" por um deputado ter dito que o País estava farto do seu discurso Salazarento. Não subscrevo a intenção do Deputado. Mas espanta-me a "sensibilidade" demonstrada pelo ministro. Alguém poderia ofender-se? Talvez. Nunca o ministro ou qualquer outro perante as circunstâncias que vivemos. Que eu saiba, o Salazar nunca precisou de chamar os Homens do FMI ou de qualquer outra organização, europeia ou mundial, para o "ensinar" e reorganizar ou a "refundar" o Estado. Nunca chamou estrangeiros, por muito experientes que fossem, para o ajudar a cortar na despesa ou a reorganizar serviços públicos. Afinal o senhor e os outros são ministros para quê? Como demonstram merecer o que ganham? Telefonando para o FMI, o BCE e a Comissão Europeia? Para tais funções, basta um ou uma telefonista. Bilingue, concede-se. Mas não pusilânime. Tenham vergonha. Se são incapazes de dirigir o País, demitam-se. É tempo de haver algum pudor, caramba. Bem dizia o outro. De mão estendida, não há soberania que resista! O que ainda espanta, o que sempre me espantará, é a "lata que toda esta gente demonstra".
Mais do que espanto, senti vergonha. Passo a relatar. Ouvi há dois dias nas notícias o Senhor Presidente da ASJP ( associação sindical dos Juízes Portugueses - para quem não saiba -) dizer em pleno Parlamento que os cortes remuneratórios deixavam os Senhores Juízes "mais permeáveis ( não tenho a certeza do termo) a pressões. Inacreditável! Julgo que a maioria dos Senhores Juízes também terá ficado incrédula e repudiará tais declarações. A honestidade dos Juízes passa por um bom estatuto remuneratório? Bela independência de que tanto falam. Se assim fosse, sempre teriamos que dar razão aos ditos populares. A Justiça mudaria conforme o estatuto dos "justiciables". E não só.
Perdemos valores, perdemos pudor, perdemos vergonha. Que diabo de sociedade quereremos nós construir? 
Entre nós e eles ou entre eles e nós, venha o Diabo e escolha.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Figurões & Cª

Parece que o Senhor Ulrich, Fernando, vejam bem (?) terá enfáticamente afirmado esta coisa brilhante : "ai aguenta, aguenta". Se o País aguentava mais austeridade, terá sido a questão colocada ao Senhor. A ocupação do poder político pela mediocridade e pela incompetência é uma verdade da maior evidência. Essa mediocridade e essa incompetência não são exclusivas do poder político. Outros "poderes" com ele imbricados até à medula foram abocanhados pelas mesmas "virtudes". Já aqui fizemos alguns comentários a saídas espantosas do Senhor Salgado. Agora foi o Senhor Ulrich. Sempre muito convencido de si, ao ponto de chamar ignorantes a quem não vê a sua "realidade". Terei de ser muito sintético, mas quero ser claro. A memória precisa de ser avivada, de quando em vez. Como todos sabem, a mal fadada crise começou por ser do chamado subprime: um palavrão anglosaxónico para que o povo não compreenda as coisas. É disto que eles vivem! Eles, os banqueiros e outros. O palavrão anglo-saxónico nada mais representa do que negócios entre os bancos com as hipotecas. Convencidos de que o preço das casas continuaria a subir e que o valor da hipoteca que garantia o empréstimo seria, por consequência, menor do que o valor da casa e com tendência para que essa diferença aumentasse, os banqueiros ( Instituições Financeiras, como é mais rigoroso e eles também gostam mais) " vendiam" entre si essas hipotecas e respectivas margens de lucro. O resultado também é conhecido por todos. A crise alastrou. Como os mais lúcidos previram, os estados Unidos decidiram combatê-la o mais rapidamente possível, enquanto os Europeus  se entretinham a "discutir" se já chegara ou não a época dos marmelos. O resultado está à vista. Mas este e outros figurões nem preocupados estiveram durante muitos meses. A desgraça de Portugal ( o tal que aguenta mais e mais austeridade!) era a sua sorte. Pediam ao BCE a 1% e emprestavem ao Estado Português a 7%, 8% e mais. Para quê clentes? Tinham contribuintes! Até que o BCE disse: basta! Já pediram de mais. Eles gostam mais de dizer que a exposição é excessiva. Nessa noite correram todos os telejornais a dizerem o contrário do que tinham dito uma semana antes: ai Jesus, é urgente pedirmos o resgate que o Sócrates disse que nunca iria acontecer. E correram com o Sócrates, claro. Que bem preciso era. O povo é que ficou com a ilusão, em função das eleições, que a coisa era democrática. Essa é a função desta democracia. Criar e manter a ilusão da chamada soberania popular. Bom, regressemos ao tema. Apesar disto tudo, os figurões afinal não estavam tão bem como pregavam. até porque só entre nós era possível contabilizar a dívida pública que detinham e detêm de forma a fingirem activos que não tinham nem têm.  E precisaram que os contribuintes ( chamar-lhes Estado é a mistificação usual) disposisessem de vários milhares de milhões de euros para capitalizar as suas "instituições". Eles adoram esta expressão. Pagamos os juros mais altos da Europa. As nossas PME têm nas taxas de Juro o factor mais pernicioso no que à competitividade diz respeito. Os figurões são medíocres, mesquinhos, incompetentes e sem o mais pequeno pudor. Exploram e regozijam-se com isso.
Todos nós podemos definhar. Pobres, muito pobres, haveremos sempre de pagar os seus privilégios. Força, Ulrich, que nós aguentamos tudo. Não fosse V. Exª um especialista fiscal. Quantas offshores tem o seu banco? Ou serão só os outros?
Ele há coisas!

sábado, 6 de outubro de 2012

Coudelaria de Alter: à espera de um milagre

Visitei ontem a Coudelaria de Alter. Alarmado pelas últimas notícias, quis verificar pessoalmente "o exagero dos jornalistas". Emganei-me. O Jornalista, cujo nome não recordo, pecou por defeito. A situação deste símbolo magnífico do misticismo nacional, é de uma tristeza confrangedora, pungente, deprimente, miserável. Não há adjectivos. A tapada do Arneiro, em Alter do Chão e a Coudelaria, onde foram paridos e criados  milhares de "filhos de vento" ou lusitanos Alter Real, ou talvez o cavalo mais bonito e mais elegante do mundo, está degradada, senão mesmo abandonada. Nem a cafetaria já abre. Da galeria foram retirados todos os objectos expostos e que eram emprestados pelos respectivos proprietários. Naturalmente. A casa dos trens está praticamente vazia, suja, esburacada. O picadeiro está degradado, foram furtadas as cadeiras das bancadas, as janelas têm os vidros partidos e as madeiras apodrecem irremediavelmente. A erva e as silvas crescem e destroem instalações que qualquer país do mundo preservaria com orgulho. O mesmo faria qualquer particular que tivesse a sorte de poder dispor dessas instalações, ainda que não da tapada. Não há palavras para descrever o que vi. Para esta brevíssima e incompleta descrição, obriguei-me a "calar" a tristeza que embarga a voz e apaga o termo. Como é possível? Há meia dúzia de anos, foi constituída a Fundação Alter Real para gerir a coudelaria e tudo o que à sua volta é suposto movimentar-se. A Escola Portuguesa de Arte Equestre, uma das melhores do mundo e como tal reconhecida durante décadas, recebia os cavalos de Alter que eram e  ainda serão ( assim o espero) trabalhados pelos mestres equitadores. 
 O que terá acontecido à capacidade de gestão dos administradores da Fundação? O que terá acontecido aos garanhões da Fonte Nova? À ilha do Tejo para onde eram enviados os potros depois da desmama? Soube, por um simples empregado ( cujo nome, obviamente oculto) que a Fonte Nova já não existe, que há meia dúzia de cavalos nas instalações da coudelaria e que os potros deixaram de ir para a ilha. As éguas que não pude ver, estavam no campo. Na desmama, exactamente. Espero que haja ração para os potros.
Tento compreender. Há um ambiente de cepticismo que me arrasta para a teoria da conspiração. A degradação da coudelaria de Alter interessará a alguém? A médio prazo, seguramente que não. A curto prazo, talvez alguns criadores de cavalos lusitanos julguem poder " lucrar" com esta situação miserável e intolerável. Que interesses terão determinado a acção da  administração da Fundação Alter Real, criada com tanta pompa e optimismo?
Há associações mentais que ninguém pode evitar. O Senhor Dr. António Borges, ao que parece, é de Alter do Chão, ou aí terá as suas origens. Na sua perspectiva, como sabemos, os empresários portugueses "são estúpidos". Reprovariam no 1º ano da "sua faculdade". Qual delas? Stanford? Londres? Insead? O Senhor, como sabemos é PH. Doctor! Director do FMI até há pouco tempo. Managing Director do Goldman Sachs, etc. etc.. Uma eminência. Com tiradas como a referida. Mas não só. Já lá vão algumas. Mas esta eminência nunca foi empresário, que se saiba. E desconhece que ser economista não é o mesmo que ser empresário. Os economistas poderão ler muitos livros. Mas poucos arriscam o seu património. Poucos têm a generosidade de criar empresas e empregos. Para ser empresário não é preciso ser-se economista. É precisa visão. è precisa coragem. Aquilo que os burocratas, por muitas influências que movam e por muito dinheiro que ganhem, não têm. Exactamente porque são burocratas. Doutos e manhosos, talvez. Arrogantes, quanto baste. Mas não são empresários. falta-lhes a generosidade e a coragem. Por isso e bem, alguém terá dito que não contrataria o Dr. António Borges.




Regressemos à Coudelaria de Alter. Que um empresário, ou um grupo de empresários portugueses salvem, com coragem e generosidade, este símbolo de um passado glorioso e que pode representar o futuro que nos foge. Ou que alguém neste desgoverno para que o país foi tristemente arrastado, tenha a lucidez de compreender o muito que está em jogo na Coudelaria de Alter, na sua preservação e na valorização do cavalo Alter Real. Alguém, na área do poder, deverá ter a cultura e a lucidez para fazer o que tem de ser feito. Inadiavelmente. Apesar de toda a sua eminência e das suas origens, não acredito que seja o Dr. António Borges. Como bom burocrata, para quem todos os outros são "estúpidos" assitirá tanquilamente à degradação da Coudelaria de Alter e ao inevitavel definhamento da própria vila de Alter do Chão. Por mim, verterei lágrimas de tristeza. Mas, por enquanto, rezo para que um milagre aconteça: à coudelaria e ao país. Não serei o único a rezar, seguramente. 

sábado, 15 de setembro de 2012

Limites

Para tudo há limites. Não é aceitável o tipo de austeridade que se pede aos portugueses: cega, irracional, sacrificando os mais indefesos. Caminhamos para o abismo. Já aqui o disse: a austeridade não pagará a dívida. Ela é necessária para diminuir o ritmo de endividamento, é verdade. Gastámos o que não tínhamos nem poderíamos produzir. Fomos enganados por governantes irresponsáveis que deveriam ser julgados pelo mal que causaram ao erário público, à sociedade portuguesa, logo, a todos e a cada um de nós. A troika não invadiu Portugal. Nem se intrometeu sem ser chamada. Fomos nós que pedimos o "resgate". Fomos nós que tivemos necessidade de os chamar.  Fomos nós que criámos condições para uma austeridade incontornável. Foram os irresponsáveis que nos governaram ( mal) e que se governaram e governam ( muito bem) como todos os portugueses sabem, excepto a Directora do Departamento cuja função é exactamente investigar actos ilícitos (crimes)  ditos de colarinho branco. Algo deve ter feito para ocupar um cargo tão importante. Mas eu não consigo vislumbrar tanta competência e tanto rigor. Peço ajuda a quem conseguir. Enfim, os credores impuseram austeridade para acautelarem os seus empréstimos, o seu dinheiro. O que lhes interessa é que sejam alcançados os objectivos. O tipo de medidas a adoptar são-lhes irrelavantes, desde que percebam que há reformas estruturais que permitirão ao país pagar as dívidas e evitar este constante recurso à ajuda externa. Tem sido uma por década. Mas os donos desta democracia não têm vergonha. Quem nos levou a este estado de coisas deveria ser julgado, evidentemente. Os Islandeses fizeram-no. Ao contrário do que já vi afirmado, há lei para julgar a maioria dos actos criminosos que lesaram o Estado em milhões. Enfim, tudo isso deve ser feito. Mas repito: há limites para tudo e também necessariamente para esta austeridade desumana e que ameaça destruir a economia e a sociedade portuguesas, ou melhor, a comunidade nacional. A farsa democrática em que temos caído, eleição após eleição, na vã esperança de que algo mude deu-nos uma sociedade onde as desigualdades são gritantes. Das maiores desigualdades em toda a Europa, como sabemos. Mas, ao contrário do que vemos acontecer em muitos países, mesmo na Grécia, os nossos políticos e gestores de empresas públicas não se dispôem a dar o exemplo na mais pequena medida de austeridade. Há sectores da administração central, regional e local onde o desperdício é chocante. Onde os enredos burocráticos, inúteis e completamente desnecessários, consomem tempo, paciência e muito dinheiro. Há serviços que só "trabalham" para justificar a sua existência. Todos sabemos disso. O desperdício e a incompetência impedem o país de produzir. Não se vêem medidas para corrigir esses vícios estruturais. Falou-se em cortar as gorduras do Estado. Mas medidas a sério ninguém vê. Para além do mais simples, rápido e banal: o corte de salários que determina menor consumo, que determina o encerramento das empresas, que determina desemprego, que determina menor consumo e mais despesa pública, etc.etc. num infernal ciclo vicioso. Precisamos de consumir menos? É verdade. Precisamos de orientar mais as estruturas económicas para um equilíbrio das contas públicas? È verdade. Mas, sem investimento, não podemos adquirir o equipamento indispensável a essa reestruturação, que tem de se traduzir numa alteração da nossa posição na chamada cadeia de valor. Temos de produzir bens com maior valor acrescentado, sem destruir os sectores tradicionais. Será tão difícil de entender tudo isto? O Estado ( todos nós) emprestámos agora aos bancos ( principais responsáveis pela dita crise) 12 mil milhões para se recapitalizarem. O que vão fazer a esse dinheiro? Porque não se fixam quotas e objectivos anuais para que a economia ( essas famigeradas PME) seja financiada? A rapaziada que nos governa, estes naturalmente, parece terem tomado o país como um laboratório de experiências sociais. Penso que caminhamos para o abismo. Pela incompetência, pela mediocridade, pela cegueira de uma geração impreparada e despeitada até, mas arrogante e segura de todas as suas estúpidas ideias. Das suas idiotias. Somos governados há anos pelos meninos dos partidos ( os JJ), que nunca deram qualquer prova de competência numa actividade profissional. Na vida, em suma. Daí, esta amarga sensação que temos, quando ouvimos os seus belos discursos, de que eles devem viver num país diferente do nosso. Vivem mesmo. O país da partidarite onde passaram toda a sua vida em jogos de intrigas, é pago por nós. Mas nada tem a ver com o país real. Como diariamente se pode constatar. Não precisamos de uma crise política? Não. Não precisamos. Mas não estaremos a viver já uma crise política?  A apregoada estabilidade ( de governação) não é um valor em si mesmo e muito menos um valor absoluto. É tempo de dizer basta. As medidas de austeridade não podem ser cegas. Não podem destruir a economia e muito menos a sociedade que trabalha e produz. É preferível uma crise política à queda no abismo. Em nome dos mais pobres e dos mais indefesos, e sem necessidade de uma mandato específico, também eu digo: basta!

Nota: a fotografia foi retirada de fotosearch.
Declaração de interesses: os rendimentos com que vivo provêm inteiramente do meu trabalho, isto é, não "mamo na teta do Estado."

domingo, 9 de setembro de 2012

Canaris, TC e António Borges

Começo com um plágio, mesmo sem poder citar o autor, porque não o conheço: este governo tem um ministro das equivalências e uma equivalência de ministro. É uma tirada de mestre! Todos sabem quem são, evidentemente. Deixo claro que o último é essa eminência parda chamada Dr. António Borges. Lembram-se que há meses disse ( diz coisas interessantes todos os dias, porque terá aprendido no Goldmann Sachs, seguramente) disse, repito, que os salários teriam de baixar. Logo a seguir veio atabalhoadamente dizer que não queria dizer o que disse. O comum, para este político que não é, como para os restantes que também não são. Eles gostam de não ser. Poque será? Shakespeare, of course. Just the not to be. Why not? Agora o Senhor primeiro ministro, de quem o que não é, afinal, só é conselheiro, deu mais um mortífero corte nos salários. Para criar emprego e para ir de encontro à igualdade querida pelo Tribunal Constitucional. É verdade que o acórdão é mau. Tão mau que o seu Presidente ( do TC) se viu na necessidade de o expllicar. Sim, porque para esta gente somos todos néscios. Quod erat demonstrandum. Agora a sério:  o pretexto ( mau) terá sido encomendado? As medidas enunciadas são brutais, injustas, insensíveis e humanamente inexplicáveis. Não criarão emprego, obviamente, porque a maioria esmagadora das empresas que "seria suposto beneficiarem" da descida da Taxa Social Única não têm nem terão dinheiro para investir. As que o têm, não investirão. A perda de poder de compra dos trabalhadores por conta de outrém ( sectores público e privado) agravar-se-á, decrescerá o consumo e lá se vão mais PME's com que tanto enchem a boca os que não gostam de o ser, e pelas quais nada fazem porque são aquilo que não digo. Vejam-se as estatísticas sobre o crédito e está tudo dito. É inaceitável. E é incrível que um governo com tanta gente aparentemente jovem seja tão insensível e tão velho, afinal de contas. Bom, o que aqui e agora queria dizer é que afinal o Dr. Borges sempre fez o que anunciou ( redução dos salários) dizendo depois que não tinha querido dizer. Mas sempre queria fazer. É diferente.  Acontecerá o mesmo com a RTP? O TC, afinal, com um mau acórdão, não sopesou as consequências da sua decisão. Pressupondo o melhor, claro está. Pois a não ponderação das consequências da decisão - por muitas explicações que agora queiram dar - é um dos muitos sinais da qualidade deste Tribunal Superior. Sim, Tribunal Superior. Existe superiormente, sem se entender simplesmente porque terá de existir. Mas existe. E daí? A asembleia da República é que se vê em papos de aranha cada vez que uns ministros ( acordo ortográfico) do TC têm de ser substituídos. Pois é. Suou as estopinhas o Professor Claus-Wilhelm Canaris para explicar que a ponderação das consequências da decisão é um elemento essencial na interpretação e aplicação da Lei. Esforçou-se tanto o Professor Menezes Cordeiro para explicar o pensamento sistemático ou sistémico do Direito. A Fundação Calouste Gulbenkian julgou ter tomado uma decisão importante com a publicação do Livro do Professor Canaris e do longo e excelente prefácio do Professor Menezes Cordeiro. Tudo isso. Mas afinal, os Senhores Juízes do TC ou desconhecem o princípio ou ignoraram-no. Decidiram valorizar antes e mais outras realidades ou verdades mais apropriadas. Bem feito. Agora, clamam os Senhores Juízes por mais um acórdão. Sim. Porque as medidas não têm a característica de ser más em si mesmas. A sua principal característica é serem uma afronta ao TC.  Não pode ser afrontado o TC? Só ele é que pode afrontar quem entenda? Cá para mim, acho que deveríamos deixar de ter governo. Os juízes é que deveriam governar. Aqui, sim, pouparíamos na despesa. Porque não dizem isso à troika? Eis uma medida de poupança "à séria", como diria qualquer ministro e não só os respectivos e variadíssimos equivalentes.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Cotas % Cª

Não. Que ninguém se iluda. Uso cota  em vez de quota, propositadamente. Quota é o termo certo, em Português, - antes do acordo - para designar uma parte, uma parcela de um todo, como são as quotas de uma sociedade comercial. Cota, para além da vestimenta medieval e de outros sentidos entretanto adquiridos por natural evolução semântica é agora ao que penso, o jargão jovem para velhote, ultrapassado. Há atitudes pintadas de modernices que são verdadeiras imbecilidades. Em nome da igualdade têm-se dito alarvidades tamanhas e continuam a tomar-se atitudes de uma ignorância que faz perder o tino a qualquer cristão. De rãs ou de sapos, o Tino. Agora é a UE, dita, como sabem, União Europeia. Como se nada mais houvesse para fazer na UE, decidiram mandar também  nas empresas e impor quotas nas administrações: 40% de mulheres. Porquê? Porque não 50%? E porque não 65%? E porque não exigir tão simplesmente mérito? Seja ele feminino ou masculino? Santo Deus! Estamos perdidos. Os burocratas, indiferentes aos gravíssimos problemas que eles e os primos banqueiros nos causaram e ao nosso sofrimento para pagar a sua incompetência e a sua ganância, continuam a brincar às quotas. Será que não ouvem sequer as mulheres lúcidas que só querem estar em condições de igualdade com os homens e que dispensam paternalismos patéticos? Será que tudo isto não passa para estes palermas de um jogo multifacetado, com o objectivo infantil de afirmarem um poder que não sabem e não deveriam usar? Tenham vergonha! Com a união monetária a esfumar-se, e a própria união europeia em risco de ser um projecto do passado, os burocratas de Bruxelas, divertem-se com miudezas que os europeus merecem. Esta é a verdade. Infelizmente merecemos. Aliciados por migalhas, fomos deixando criar monstros de burocracia e incompetência sem nos apercebermos do risco de submergirmos. Sem nos apercebermos dos riscos de nada conseguirmos controlar. Em bom rigor, sem nos apercebermos de que foi a própria liberdade que hipotecámos.
Portugal é um país de mistérios! os combustíveis aumentam. Atingem recordes. Uns atrás dos outros. Logo, deveria haver uma maior utilização dos transportes públicos. E estes deveriam investir em qualidade em tempos de crise. Mas não. Desinvestem. E parece que as empresas públicas, as de transportes, designadamente, tiveram muito mais prejuízos no 1º semestre do ano. 700 milhões, segundo o Público. Os prejuízos aumentaram 94%. Duplicaram. Estranho. Bizarro. Porque as auto-estradas também têm menor movimento. Então das Scuts parece que nem é bom falar. Os génios que nos governam não entendem que há um limite para tudo, mesmo para arrecadar receitas, sejam elas fiscais ou outras. O IVA aumentou e gerou menor receita para o Estado. Como vários outros impostos. E menor receita virá.  Esta realidade está comprovada há longos anos por mais do que uma teoria económica. Não as conhecerão os governantes ou descobriram eles novas teorias? A propósito: o que será feito do homem que afiançou que as auto-estradas sem custos para o utilizador seriam mesmo isso? Pagas com o maná que cai dos Céus? Não se tem pronunciado. Talvez devesse ser procurado em Bond Street. Agora, que os Olímpicos deram lugar aos Paralímpicos. Onde ganhamos medalhas, mas que os jornais ignoram. É a igualdade no seu melhor. Com quotas patéticas e cotas modernaças e ignorantes, o nosso caminho está traçado. Não vamos lá. E a propósito. Onde deveriamos ir?


domingo, 2 de setembro de 2012

Incorruptíveis

Na fotografia, está ladeada por um político e pelo Senhor Procurador Geral. O político foi, evidentemente, um "lutador anti-fascista". Foi-lhe dada a incumbência, como ministro, de reformar a administração pública e, bem sucedido nesta tarefa, como todos sabemos, foi encarregado mais tarde e até há pouco tempo, de "reformar a Justiça". Saíu-se sempre muito bem, naturalmente. Foi desavergonhadamente dito pela comunicação social que favorecera a mulher e, mais tarde ( imagine-se!) corrigiu o erro e o erário público recebeu o que nunca deveria ter gasto. Sobre o Senhor Procurador, nada quero dizer, até porque está em final de mandato. Ocorrem-me algumas novelas, todas profundamente esclarecedoras: face oculta, freeport, furacão, submarinos, monte branco, Maddie, Lima Duarte, enfim, novelas tantas que nos deixam estarrecidos. Mas enfim: falemos do nosso principal objectivo. Tão bem ladeada, a Senhora Procuradora adjunta Cândida Almeida - segundo os jornais, que exageram sempre - terá dito em mais uma Universidade de Verão que, em Portugal, os políticos não são corruptos. Disse-o reiteradamente. Calculo que teve mesmo de repetir em virtude do ar espantado da audiência, ainda que de aprendizes dos tais. Com a repetição ou repetições, lá foi corrigindo que estamos na média da Europa, mas que nenhum outro país europeu investiga, como nós, os grandes negócios do EstadoOs rapazes da Transparência Internacional não sabem o que dizem, naturalmente, desancam em nós apenas com base nas parvoíces que ouvem ao povo inculto. Claro que aproveitou para distinguir com o rigor que se lhe reconhece, os crimes de fraude fiscal dos de corrupção ( imagino!)  e outras minudências, a saber: que o que há é claríssimos abusos do segredo de Justiça. Nunca se viu tanto segredo de Justiça como em Portugal. Por isso, lá terá de haver umas violações. Seja qual for o ilícito a ser investigado, há uma única coisa que vai ser admitida pelos responsáveis: violação do segredo de Justiça. É o crime ao qual todos os outros se resumem. Onde não há segredo de Justiça, não há investigação, obviamente. Não há acusações nem julgamentos. Não há condenações nem absolvições. É a impunidade. A total impunidade. A Senhora procuradora chama-se Cãndida, mas é difícil acreditar que as suas afirmações tenham sido proferidas por simples candura. De resto, em muitas manifestações de má fé e de ignorância deste povinho, os comentários a vociferarem contra as afirmações da Senhora procuradora nas versões online dos jornais, são às centenas. Mal feito! Como sempre, a nossa percepção da realidade não passa de uam simples ilusão. A senhora procuradora adjunta é que tem razão: podem chorar, podem cantar, podem sorrir e até submergir...porque a verdade, nem às paredes confesso.  

* A imagem da Arlequina foi retirada do blog Quadrinhos. blogspot.com

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

De acordo, Isaac

Há semanas conheci um casal israelita que ficou hospedado no Hotel Montemor. Ele era Isaac e ela ( espero não adulterar) Megham. Ambos já reformados, tendo anteriormente execido cargos de bastante responsabilidade no Estado e sociedade Israelitas. Para minha surpresa, o Isaac mostrou-se um homem muito bem informado sobre a actualidade portuguesa. Foi ele que me confidenciou :" formar jovens e permitir que eles emigrem por falta de oportunidades é um crime." De acordo Isaac. Mas ainda a respeito de Economia ( com E grande) e da miopia e mediocridade criminosa de quem nos tem governado nos últimos 30 anos, O Isaac disse-me duas coisas, em que também concordamos plenamente, mas que eu desconhecia terem sido postas em prática em Israel. Após a queda do muro de Berlim, os responsáveis isralitas "publicitaram" em todos os chamados países de Leste que todos os licenciados ( com qualquer curso)  seriam bem vindos a Israel, ser-lhes-ia garantida casa e rendimentos durante um ano e meio, sem embargo de deverem aceitar o emprego que os respectivos serviços conseguissem. Israel viu assim aumentada a sua população em quase um milhão de pessoas com uma licenciatura. Ainda co-relacionados são os apoios do Estado à natalidade que, segundo Isaac, fazem com que, neste momento, as mulheres israelitas sejam as mais férteis do mundo ocidental: algo como 3 filhos, em média por cada mulher em idade fértil. Finalmente, o Estado Israelita tomou medidas muito sérias para que as empresas com mais empregados,  adoptassem para sede todas as cidades ou aldeias da província, mas não em Jerusalèm ou Telavive. Que raiva Isaac! Porque será que os acéfalos que têm governado Portugal nos últimos 30 anos, não conseguiram ainda entender que só medidas dessas podem assegurar o futuro? Talvez o saibam. Mas o seu bolso, os seus interesses, a sua mediocridade, o compadrio em que se movem, estão muito acima dos interesses nacionais. Quando conseguiremos caminhar de costas direitas e sem medo desta cambada de imbecis?  

terça-feira, 31 de julho de 2012

Salgado ou Insonso?

O seu ar categórico, de todo poderoso chefe da paróquia, faz-me estremecer, cada vez que nos brinda com a sua presença na televisão ou em qualquer outro meio de comunicação social. A última tarde foi visto a propósito dos resultados menos bons do seu banco. Claro que tais resultados só são menos bons porque a carga fiscal é brutal e extraordinária. Faltou-lhe seguramente dizer que tal carga fiscal recai principalmente sobre o seu património e o dos seus accionistas, muitos dos quais serão empresas do mesmo grupo. Por isso, contraditoriamente - só aparentemente é contraditório - o valor bolsista desceu qundo decidiu aumentar o capital social. Por exigência da troika, evidentemente. A verdade, como todos souberam, foi que as acções foram vendidas aos accionistas do grupo com mais de 60% de desconto. A que propósito haveriam os investidores a sério de pagar mais em bolsa? Enfim, o valor do aumento foi, evidentemente, apenas teórico. O encaixe real foi apenas de 1/3 do valor anunciado. Pequenos truques que os papalvos da paróquia vão digerindo. Que regalo! Está em todas. Desde os furações ás bonanças ou tranquilidades, tanto faz. Desde o outro lado do Atlântico, onde de motu proprio ( como disse), denunciou candidamente´às autoridades que fazia comércio bancário ilegal num escritório de uma ( sua) empresa e que, por isso mesmo, teve de pagar uma multa. De motu proprio! Não é espantoso? Desde esse lado à Europa, passando pela Suiça, como soubemos há pouco. Está em todas. E tudo isto digerimos de bom humor. Que povo! Que país! Claro que, em sua opinião, este país vai regressar aos mercados já em 2013. Tudo graças á acção do seu banco e ao grandioso aumento do capital social.
Tenho de o dizer uma vez mais: o que seria deste pobre país sem o Senhor Salgado? Ficámos agora a saber que apesar dos resultados menos bons do seu banco, o país tem o melhor e mais rigoroso ministro das finanças dos últimos anos. Que espanto! apreciado e dito assim por tal sumidade, até dá gosto. Transforma qualquer insonsa guloseima num salgadinho. Pois claro. Não lhe bastava falhar em todas as previsões. Não lhe bastava a cegueira que o impede de ver o abismo. Os vários abismos. Estava mesmo a precisar desta salgada elegia. Preferia-o insonso. Vejam bem. Ele há gostos.

nota: a imagem intitula-se " Portugal ao tapete" como alusão às decepções olímpicas de ontem, e é de Hericartoon, publicada no Sapo.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Tudo isto é triste, tudo isto é fado

Lê-se e não se acredita. A Universidade Lusófona "inventou" um Conselho Científico para calar os jornalistas? Para iludir a opinião pública? Será que nada nem ninguém é minimamente credível em Portugal? Será que a venalidade emporcalhou almas e vontades em todos os lados, em todas as instituições? Repete-se o caso Sócrates? E quantos mais haverá? Que negócios se fizeram com o ensino nas últimas décadas? Que sociedade criámos? O que vamos deixar aos nossos filhos? Patrimonialmente, a situação é miserável. Todos sabemos. Mas a causa, a verdadeira causa, é a completa falta de valores. A esta tragédia - sim, porque de verdadeira tragédia se trata - acresce a completa irresponsabilidade. Dos dirigentes, sim. Mas também nossa que os elegemos e os mantemos no poder. Nossa, porque vendemos a alma ao poder na esperança de termos algum benefício. Haverá outra explicação para a notícia da primeira página do "i"? A que propósito, pessoas de uma Universidade inventariam um Conselho Científico? O privilégio ou privilégios concedidos ao agora Ministro Relvas- se assim sucedeu - não se traduz numa sabujice para obter vantagens? Será que o país já só sabe rastejar perante o poder? Seja político seja económico? Em bom rigor, eles estão hoje de tal forma intrincados na sociedade portuguesa, que já não há meio de os diferenciar. É triste. Tudo isto é um fado muito triste.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A razão...da informática

Há meses que não "postava" qualquer entrada nos Cucos e Marionetas. Não por desinteresse. Até me zanguei com o blogger, por não conseguir aceder á área de edição. Afinal, utilizando agora o notebook que trago na pasta e que não utilizo, naturalmente, nos escritórios, concluí que o blogger tem razão. Julgo que utilizava um username que dificilmente me ocorreria. A zanga foi tanta que, após inúmeras tentativas e muita perda de tempo - o que é bem pior - acabei por criar hoje um novo blog a que dei o nome de Justo Pecado & Cª.  Tem um único post, evidentemente. Muito rápido e despretencioso - espero eu - sobre o acórdão do Tribunal Constitucional onde se afirma que o corte dos subsídios de natal e de Férias aos funcionários públicos ( um pouco mais do que estes, mas com excepções já assumidas) ofendia o princípio da igualdade. Também o do proporcionalidade. Este acórdão não dignifica a jurisprudência do Tribunal Constitucional. Se alguém é tratado desigualmente face aos  privilégios dos funcionários puúblicos, são os trabalhadores do sector privado. Como o país inteiro sabe há décadas. Há séculos, provavelmente. Bom, como as queixas estão já feitas noutro lado, agora interessa verificar se sempre colmatei o erro, absolvendo a informática ou se perdi o blog. Antes perder o blog que os subsídios. Para qualquer dos sectores, evidentemente. Oxalá que a situação do país possibilitasse o pagamento dos subsídios a todos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Abril presente, Abril ausente

A insurreição militar que no dia 25 de Abril de 1974 derrubou a ditadura do Estado Novo, foi uma operação militar  de 3ª categoria. Também não seria necessária maior competência e operacionalidade porque o regime estava podre. E, na realidade, caíu de podre. Quem percorreu Lisboa, nesse dia, feliz e de coração aberto, tendo algum conhecimento militar, sabe que esta é a verdade. Três ou quatro companhias com treino e experiência de guerra, teriam facilmente anulado a "operação militar". Felizmente, a operação vingou. A motivação inicial dos chamados capitães de Abril, como é sabido, foi corporativa e meramente reivindicativa. Os capitães do quadro sentiam-se injustiçados pelo acesso à academia e ao mesmo grau militar por parte dos oficiais milicianos que, após a guerra, quisessem continuar a carreira militar. Todavia, a entrada para o movimento de alguns elementos politicamente mais preparados, como era e foi o caso do então major Melo Antunes, deu ao referido movimento uma dimensão politico-social que era até de difícil compreensão para alguns dos capitães descontentes. Muitos deles, acabariam no estrelato, alguns meses e anos depois. Ouvindo hoje algumas das suas patranhas, só conseguiremos sorrir. Mas enfim, a História é feita de ocasiões e de oportunidades. O movimento popular que se seguiu ao golpe e que verdadeiramente começou a tomar forma no 1º de Maio, é da maior importância: a generosidade, a ânsia de liberdade e até de alguma libertinagem, a coragem de empreender a mudança, ainda que matizada de ignorância, a recusa da resignação e do medo, tudo isso e muito mais do que isso fizeram com que o 25 de Abril tivesse soado a uma revolução. Bela, generosa, que poderia ter ido além do "arco-iris". Que poderia ter feito ressurgir, sem preconceitos os heróis do mar. Mas os vários partidos, pequenos, grandes e mais ou menos, enfeudados aos grandes blocos mundiais ou às grandes potências, ou denunciando simplesmente esses enfeudamentos, apropriaram-se sem qualquer escrúpulo da generosidade e da ingenuidade do povo português e manipularam-no de forma que hoje sabemos ser intolerável. Rapidamente surgem os oportunistas. Ressudando da generosidade da maioria da população, bem intencionada e acariciando uma liberdade política de que nunca usufruíra, os oportunistas viram muito rapidamente que poderiam moldar uma sociedade iníqua, desde que se utilizasse a retórica da igualdade; que poderiam moldar uma mentalidade preguiçosa, cobarde e resignada desde que se apregoasse sempre a democracia e se deixassem, de quando em vez, algumas sobras para conformar ou formatar, como hoje se diria, a mioria eleitoral. Não falamos de meses. Falamos de anos. Esta "democracia de pacotilha" já tem mais de três décadas! Esquecemo-nos disso com frequência. Mas, se fizermos um esforço de lucidez veremos que o ensino, acessível à miaoria da população, é verdade, foi nivelado por baixo e é tão medíocre que até os graus superiores se tornaram inúteis. As excepções também existem, mas são raras. A Justiça, ou melhor a administração da Justiça tornou-se ineficiente e patética. As chamadas magistraturas ( que sentido faz a do ministério público?) transformaram-se em corporações temidas e só por isso beneficiadas pelos políticos e pelo sistema. Há casos que bradam aos céus. Mas já ninguém se importa. Há quem se importe e se sinta incapaz ou simplesmente impotente para reagir e mudar seja o que for. Há excepções, também aqui. Mas são raras. A administração pública- esse polvo incontrolável - configura a maior injustiça que é possível imaginar. Pelo número exagerado e pela mediocridade, a administração pública arrasta a produtividade nacional para as ruas da amargura em que todas as estatísticas nos colocam. Os salários do sector privado são inferiores aos da função pública, como é sabido, porque a massa salarial global é, matematicamente, uma função da produtividade. Todavia, a função pública que causa a fraca produtividade, não está sujeita às leis do mercado, nas suas principais variáveis. Logo, todos querem ser funcionários públicos e com razão. Vale sempre a pena, por muitos queixumes que se ouçam.  Em Portugal, é perfeitamente insano investir, a não ser sob a tutela do poder e com garantias, como vemos suceder todos os dias. O nepotismo, o tráfego de influências, a corrupção e a despudorada ladroagem apoderaram-se da vida pública e impedirão que o País possa sair do buraco em que o meteram os mesmos Senhores que tanto pregaram a liberdade e a democracia. Que ainda pregam a democracia e, por vezes, até a liberdade. A deles, seguramente, porque o actual destino da maioria da população é o empobrecimento gradual mas inevitável. Será? Pobretes, poderemos ser alegretes, mas livres não seremos certamente.
É preciso reaver a generosidade, a liberdade, a coragem e o espírito de aventura que determinaram os movimentos populares que se seguiram ao 25 de Abril. É preciso sonhar de novo em alcançar o arco íris. Isso não depende deste ou daquele governo. Este espírito de Abril não é do poder político, seja ele exercido por este ou por aquele partido. É do povo português. É de Portugal. Por isso, é patética a atitude que assumiu a chamada associação 25 de Abril. Tal com o patéticas são as atitudes dos ausentes. De todos os ausentes a que o cartoon do Henrique Monteiro se refere, ainda que personificados no Soares e no Alegre. Neste ano de seca, reguemos os cravos. Mas também as rosas.

sábado, 21 de abril de 2012

O "acampamento" da Justiça

Muito se tem dito sobre a Justiça. Muito se diz sobre a Justiça. Muito se dirá ainda sobre a Justiça. Porque a verdade, a crua realidade é muito pior do que tudo o que já se disse. Do que tudo o que se diz. As queixas do cidadão comum incidem primordialmente sobre a morosidade das decisões. Com razão. Para combater esta morosidade, os responsáveis políticos têm cometido as maiores asneiras e até os maiores atropelos à ideia de Justiça. Importante, como sempre, é melhorar as estatísticas. Mas nem isso conseguem. Quem está mais informado, sabe que bem pior do que a morosidade, é hoje a incompetência. Não generalizada, evidentemente. Mas de grande parte dos agentes da Justiça: juízes, procuradores, funcionários, advogados, solicitadores e agentes de execução ( que chique!). Mas não podemos falar de tudo ao mesmo tempo. Para além da incompetência, também há as brujas. Porque, creiamos ou não, las hay.
Voltemos ao Campus. Ao absurdo e até ao ridículo Campus: inadequado às funções nobres da Justiça, caro, exorbitante, aparentemente luxuoso por fora e deprimente por dentro, com salas pouco maiores do que gabinetes, enfim, tão pretencioso e tão patético como todos quantos conceberam o negócio. Em bom rigor, aquela coisa é até desconforme com o princípio milenar de que a Justiça deve ser administrada sob o escrutínio público. Os entraves à publicidade da audiência são tais que o artº 206º da Constituição da República Portuguesa não pode ser inteiramente respeitado, naqueles Tribunais. A Justiça foi durante séculos o único poder transparente, porque administrado publicamente.
 Mas enfim, a propósito ainda de proveitos e de patetas: sejamos realistas! Patética é a atitude dos portugueses ao permitir todos estas imbecilidades lucrativas. Sim, lucrativas, seguramente. Para alguns. Na mesma medida em que são ruinosas para a maioria da sociedade portuguesa. A imagem que reproduzo acompanhava a notícia de que o futuro juiz do TConstitucional terá de explicar ao DIAP os motivos que o levaram a conceber o brilhante arrendamento  e a transferência da maioria dos Tribunais de Lisboa para o pretencioso Campus. E daí? Explicará isso como tantos outros explicaram já dezenas, centenas de assuntos inexplicáveis. Misteriosos. Porque o segredo é a alma do negócio. Quem sabe se não sairá ainda medalhado? Outros o foram. Porque não este?
Como escreveu António Lobo Antunes em Nação Valente e Imortal, publicado na última Visão:" Vale e Azevedo para os Jerónimos, já! Loureiro para o Panteão, já! Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já! Sócrates para a Torre de Belém, já!  A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha. Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram. Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara...

domingo, 15 de abril de 2012

Festanças

A semana parece ter sido fértil em anedotas. Como de costume. As duas ex-ministras de educação dos governos Sócrates foram ao Parlamento "justificar" a festa que foi a Parque Escolar. Por incrível que pareça, o termo terá mesmo sido utilizado pela Dª Mª de Lurdes Rodrigues. Infeliz, dir-se-á. Talvez. Não foi a primeira vez. Mas, mais festa menos festa, as duas disseram o mesmo e continuam a entender que ninguém esbanjou dinheiro, ninguém gastou a mais, tudo foi feito com cabeça, tronco e membros. Porque não candeeiros de Siza Vieira? Porque não mármores em pombais reconstruídos? Porque não a miséria a que chegámos? Porque não a dívida pública? Porue não burrifarmo-nos para ela? Porque não todas ou todos os parques que estiveram em moda? Lisboa, Braga, Porto, Freixo de Espada à Cinta, seja onde for, os Portugueses tiveram o direito de esbanjar ontem e continuam com o direito de empobrecer hoje. Porque continuaremos a empobrecer, seguramente. Por quanto tempo? Eis a grande incógnita. Os doutos economistas vão dando uns palpites, mas não sabem. Acreditem. Não sabem. Nem os nacionais, nem os da Troika. Não sabem. Ninguém sabe. As variáveis são tantas em toda a Europa, senão mesmo em todo o mundo que ninguém pode prever com um mínimo de certeza o que sucederá daqui a dois anos. Para já, a riqueza que anualmente produzimos diminuirá este ano e no próximo. Logo, haverá menos rendimento. E muito menos rendimento disponível. Para a economia real, isso só pode significar emagrecimento ou, se quisermos chamar os bois pelos nomes, empobrecimento. Que terá de se reflectir, mais cedo ou mais tarde, na capacidade do próprio Estado arrecadar receitas fiscais. Já está a suceder, pelo que nos dizem. Mas vai suceder de forma ainda mais evidente. O que é espantoso é que tanta gente entenda que poderíamos e deveríamos continuar a gastar à tripa forra. O que temos, o que não temos e o que nunca teremos, como se verifica. O que é espantoso é que a reacção não aceite que alguma coisa altere ou mude. Isto é verdadeiramente reacção, por muito que lhes custe a aceitar. Poderá retirar-se daqui que estou a defender as medidas de austeridade deste governo? De maneira nenhuma. Já aqui o disse. A austeridade pode diminuir a velocidade com que nos endividamos. Mas não permite pagar a dívida. Jamis permitirá. Para pagarmos o que devemos, teremos de aumentar o rendimento nacional, como é absolutamente óbvio. Destruir a classe média, como tem vindo a suceder e agora mais do que nunca é o caminho mais directo para o abismo. Permitir que os bancos peçam emprestado ao BCE a 1% e emprestem ao Estado a 6 ou 7% é criar condições para que o sector financeiro não precise de clientes. Para quê? Se tem contribuintes!? A moralização da vida pública nacional é essencial. Acabar com mordomias obscenas, vencimentos milionários, sinecuras completamente inexplicáveis é urgente. Não serão essas medidas, por si mesmas, que farão com que saiamos da crise. Mas poderão ajudar. Pelo exemplo, quanto mais não seja. A população não pode sentir-se incapaz perante tanta mentira e tanta ladroagem. Teremos de criar condições sociais que evitem a triste resignação em que vivemos. É a Justiça. A Justiça é um valor indispensável à moralização social. E a Justiça tarda, e tarda... e só esperemos que chegue algum dia. E que não seja tarde demais como diz o fado. Porque tudo isto existe e tudo isto é fado.
* A imagem nada tem a ver com as Festanças da Parque Escolar, de todas(os) as/os parques da paróquia, das chamadas parcerias público-privadas ou ppp, etc. Aproveitei a imagem de uma lindíssima miniatura intitulada Cantorias na Roça, que retirei do Google, mas que terá sido publicada em http://www.overmundo.com/. Ao que parece, trata-se de uam lindíssima miniatura de um artista popular brasileiro, de seu nome Adriano Araújo, que depois de alguns anos como porteiro em S. Paulo regressou à sua pequena cidade de Pedro II, e se dedica agora a fazer miniaturas da vida que conheceu em criança, mas que o tempo já destruiu. Há mesmo um mini-museu com estas lindíssimas miniaturas. Assim, a festança da imagem é positiva, ao contrário daquelas a que o texto alude, e fica aqui como homenagem a Adriano Araújo e também a Natacha Maranhão, autora da reportagem que pude ler.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O Estado paga a multa

Leio no jornal que o Senhor Dr. Mário Soares circulava na viatura oficial ( a que tem direito) a 199 kms por hora. Nada de mais. Terá exigido alguma pressa ao motorista para não chegar atrasado a um qualquer compromisso. Daí só poderemos inferir que o Dr. Soares circula em boas viaturas ( oficiais), que é servido por um bom condutor, e que temos boas auto-estradas. Cada vez menos utilizadas, por falta de dinheiro para as portagens do Zé povo que as pagou continua e continuará a pagá-las e a utilizá-las cada vez menos. Tudo isto é pouco interessante. Verdadeiramente interessante terá sido a resposta que, segundo a notícia, o Dr. Soares deu  ao Senhor Guarda:" o Estado paga a multa". Nesta frase lapidar e paradigmática encerra-se todo um programa de governo. Dos que o Dr. Soares chefiou e de muitos outros. A frase encerra toda a estrutura de um regime: aquele que foi criado com o arcaboiço do Dr. Soares e graças ao seu fortíssimo  patrocínio. Encerra-se nesta frase o estado e a perspectiva de evolução do Estado português. O Estado é ninguém. Como um romeiro. É essa entidade abstracta que pode ser roubada e a cujas tetas se penduram os verdadeiros democratas deste faz-de-conta. O Dr. Soares sempre teve e tem uma enorme dificuldade em perceber que o Estado é pago pelo mesmo Povo que lhe enche a boca; que aquilo que o Estado paga sai do bolso desse mesmo povo. Tal como a viatura em que era transportado. Tal como o motorista. Tal como a secretária a que também tem direito, como ex-Presidente da República. Tal como o Gabinete. Ao que consta, O "Estado" também paga esse gabinete que, por mero acaso, fica na sua Fundação. Esta, por sua vez e segundo consta, funciona numa casa oferecida pela Câmara Municipal de Lisboa, de que o filho foi Presidente e cujo funcionamento e dívidas o mesmo Povo paga. Francamente, depois de tantos milhões e milhões com a revelação dos quais nos cansamos já diariamente, o que são 300 euritos? É obsceno que, perante as dificuldades do País, o Dr. Soares passe o tempo a lamentar a pobreza progressiva a que estamos condenados. Só pode ser hipocrisia. Acreditamos que não seja puro cinismo. Mera hipocrisia. Como disse há meses o vice da bancada socialista que agora se demitiu, devemos borrifar-nos para a dívida. Em verdade, em verdade vos digo: o homem só disse aquilo que todos os socialistas pensam. Aquilo que muito boa gente pensa. Aqueles a quem, seguramente, pouco ou nada custará a pagar.
Boa Páscoa Dr. Soares. Cuidado com as multas que a operação já está na estrada. Não serve para nada, como as restantes. Mas é mais uma operação da GNR que o Estado paga. Ora essa!

domingo, 25 de março de 2012

É fartar Vilanagem!

A Parque Escolar( PE) tem andado nas primeiras páginas pelos milhões que desperdiçou, com o pretexto de recuperar e melhorar as escolas da paróquia. Há sempre um bom pretexto. Mas as retorcidas finalidades e instrumentos não são originais. No caso, as ilegalidades vão desde os contratos com os gabinetes de arquitectura até aos empreiteiros "amigalhaços", com trabalhos a mais ( sempre o mesmo!), materiais desnecessariamente dispendiosos, etc. etc. Até um pombal de luxo foi construído em Estremoz. Se alguém pensa que não há justificação, engana-se. Aqui, como para tudo, inventam-se justificações. O País está cansado de tentar compreender como tudo isto foi possível. Como tudo isto é possível. Como tudo isto continuará a ser possível.  Está cansado, está resignado e, bem pensando, até considera normal. É que todos os dias se descobrem novas falcatruas. Que duram uns dias na comunicação social e a seguir se esquecem. Os nossos brandos costumes permitem tudo o que possa imaginar-se. Sempre se soube que a democracia tem fragilidades várias: burocracia, alguma ineficácia, etc. etc. Mas esta nossa democracia tornou-se um verdadeiro faz-de-conta. Ainda ontem, no Congresso do PSD,( o partido do Governo neste momento ), os congressistas votaram uma alteração estatutária que exigia a eleição " em directas" dos diferentes órgãos do partido. O Presidente e primeiro ministro chamou a atenção para a complexidade do assunto e até para o seu absurdo, nalguns casos. Votou-se de novo. Desfez-se o que momentos antes se tinha feito. Ei-la, a democracia portuguesa em toda a sua plenitude. A carneirada e a manipulação. A ignorância é atrevida e facilmente manipulável, obviamente. Não sei se Churchil voltaria a dizer a célebre frase sobre a democracia. Uma coisa é certa. A evolução das sociedades, sobretudo ao nível das novas tecnologias e consequentes repercussões nos diferentes níveis sócio-económicos, determinarão que novas formas de participação sejam urgenntemente encontradas para que as democracias mantenham alguma legitimidade. Ninguém de bom senso poderá compreender que num gigante como é a Federação Russa  ninguém consiga substituir a rotatividade Putin/Medvedev com vantagens sociais. A verdade é que eles lá se mantêm. Ora Presidente, ora primeiro ministro. Ora agora bailas tu, ora agora bailo eu. As democracias demonstram, em grande parte do mundo, tantas e tantas fragilidades, que chegamos a interrogar-nos se tem mais legitimidade do que muitas ditaduras. Votar de 4 em 4 anos não é suficiente para legitimar tudo.
A nossa democracia tornou-se o instrumento da ladroagem, da mediocridade e da desgraça económica em que estamos. Até quando?


domingo, 11 de março de 2012

Macacadas

A semana foi como tantas outras, cá na paróquia. Muito ruído sobre "canseiras" que nos enchem o saco. Em foco esteve aquilo a que um jornalista, com algum humor, chamou o tiro ao Álvaro. Parece que o Primeiro Ministro terá ido para Bruxelas, deixando o Ministro da Economia e o das Finanças a discutir qual deles coordenará o QREN. Tratando-se de fundos ( dinheiro) é, obviamente, uma questão importante. Para que aproveitemos os dinheiros de Bruxelas, isto é, aquele que todos os Estados da UE mandam para Bruxelas - porque os respectivos burocratas sabem gastar e pouco mais -é também necessário que se verifiquem as participações nacionais previstas nos respectivos programas. Por não se verificar esta condição - e também por pura incompetência - temos perdido esses fundos todos os anos. E continuaremos a perder. Também me parece que o Ministro Álvaro não tem feito grande trabalho. Pelo menos não se tem dado por isso. A verdade, no entanto, é que nos afundaremos e nunca pagaremos a dívida, se a economia continuar a afundar, como nos dois últimos anos e neste, ao que tudo indica. É urgente injectar meios na economia. Todos os sabem. Mas parece que nada tira o sono aos responsáveis. Interessante foi o alarido suscitado pela afirmação de Cavaco de a deslealdade institucional de Sócrates ficar para a história. Cavaco tem feito um mandato bem menos que medíocre. Triste e até infeliz. Mas Sócrates foi muito mais do que desleal. Ficará na história pela incompetência, pela teimosia alarve, pelas mentiras reiteradas e...talvez por coisas ainda mais sérias, do foro criminal, se alguns processos chegarem a andar. Se a Justiça funcionar. O que já seria um milagre. Mas nada disso impediu que as hostes viessem de imediato a terreiro defender o seu modelo. Comandadas de Paris, por um estudante, ao que se disse.  É natural. Querem mostrar lealdade, pois então? Mesmo quando todos sabemos o que se passou. Tivemos sorte, ainda assim.  O Presidente do Supremo Tribunal e o Procurador Geral ainda não foram aos telejornais "justificar" actos patéticos relacionados com o mesmo estudante! Terão mandado destruir alguma coisa sem que nós saibamos? Ah! nada, neste País à beira mar plantado poderá espantar. Haveria cortes nos vencimentos dos funcionários públicos e também nos vencimentos dos empregados no sector empresarial do Estado. Era? Não. O BP foi excepção. Após parecer, é claro. A TAP será excepção. Também a CGD. Também a ANA. também...também... Não são excepções, ó palerma. São ajustamentos. Porque é que não desitimos definitivamente? Não manda quem é eleito. Manda quem controla um Estado aprisionado há anos pelos interesses instalados. Pensando bem, até a Parque Escolar terá sido exemplar nas obras, como se constatará. Como todas as Parques que o País conheceu e conhecerá. Não iremos a lado nenhum, como está demonstrado. Mas tudo isto são meros pontos de vista. Virtuais, porventura. 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Palhaçadas

A semana veio "saturada" com  notícias sobre a monstruosidade acontecida em Beja: um energúmeno que matou à catanada a mulher, a filha e a neta. A que acresceram, dizem os jornais, os animais domésticos. A curiosidade e o cuidado profissional dos repórteres - nos casos em que isso se verificou - são naturais e até socialmente úteis. Alguma explicação haverá para tamanha monstruosidade. Claro que à mistura e como de costume, há o exagero na "informação" especulativa que parece apenas determinada por um doentio voyeurismo. O suicídio do homicida, vários dias depois, seria um final que poderíamos apelidar de socialmente frequente e talvez aceitável circunstancialmente, não fossem as condições em que tal acto terá ocorrido. Dizem-nos que o Francisco Esperança terá sido transferido, por razões de segurança, de Beja para Lisboa ( EPL). Teria vigilância redobrada e, no entanto, foi encontrado morto na cela. Enforcado com os cobertores. O director Geral dos Serviços Prisionais, de seu nome Rui Sá Gomes disse-o com todo o à-vontade. O prisioneiro foi objecto de medidas de segurança reforçadas que incluíam vigilância à própria cela. Conheci um Sá Gomes na FDL. Era assistente de Direito fiscal. Terão alguma relação de parentesco. Mas a questão não está apenas neste Sá Gomes. Está em todos os responsáveis que dizem com uma invejável desfaçatez as maiores patetices e acreditam que nós acreditamos. Numa palavra. Somos tratados como palhaços. Agora há dois inquéritos para averiguar o suicídio da besta. Não é apenas um. Há dois. Para que nada suceda, como sempre: um dos serviços prisionais e outro do MP. Viva a fartura, o tempo, os meios abundantes. A propósito de inquéritos. Também foi notícia uma ou várias buscas alegadamente feitas pela PJ a instalações da ASAE, uma força policial descarada e até ameaçadora, em muitas actuações que têm sido objecto de transmissões televisivas em directo. Por incrível que pareça, o seu director, o Senhor Nunes, desvalorizou a questão dizendo que as buscas se processaram numa investigação prévia. Como se fossem possíveis buscas sem autorização Judicial. Se o Director de uma força Policial quer convencer disto quem o ouve, o que podemos pensar desta palhaçada? No nosso sistema penal há Inquérito, Instrução e Julgamento. Não há buscas ou não deverá haver, sem serem autorizadas por um Juiz. Claro que a ASAE  nunca respeitou nada disto, pelo que nos diz o seu director. Como suspeitavamos a ASAE está fora do Estado de Direito.
Uma nota mais suave, mas tão patética com as anteriores: o Senhor Presidente da República terá cancelado uma visita à escola António Arroio porque -também alegadamente - os alunos se manifestavam para conseguirem melhores condições para o funcionamento da escola. Por mim, digo: é inacreditável. A crise levou a que o primeiro ministro italiano prescindisse, simbolicamente, do seu vencimento. O mesmo fez o Presidente da Republica Helénica. O Presidente da República Alemã demitiu-se porque o Ministério Público pediu a retirada da imunidade para poder acusar por corrupção. Em Portugal, os exemplos são todos maus. os políticos não só não prescindem de privilégios como se queixam que ganham pouco. Condenações ou mesmo simples acusações, nem vê-las. Esperamos até ao desespero, o que significa muitas vezes prescrição do procedimento criminal.  Agora até o Senhor Presidente da República, cuja reforma superior a €10.000,00 é insuficiente - ele o diz - foge dos estudantes só porque reivindicam. Valha-nos Deus. O que podemos esperar deste pobre País? Quem terá dito que isto se assemelha a uma democracia?

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Folias, Pieguices e Desacordos

Ainda que  seja escasso o tempo para blogar, há coisas que ninguém pode deixar passar em claro. O facto de o Governo ter anunciado que não haverá tolerância de ponto no Carnaval está a provocar uma quase insubordinação dos autarcas tão próximos das populações. O argumento da proximidade é tocante. Não pelo frio. Pelos encontrões. Estão tão próximos os nossos autarcas que alguns cultivam essa estranha e porventura obscena proximidade há décadas. E nunca deixariam de ser próximos ou aproximados se a tanto não fossem obrigados pela Lei. Que não quiseram e não querem. Verão, veremos todos as manobras sinuosas que empreenderão  para descobrirem os "buracos" da Lei. A insubordinação é democrática. A grande conquista da democracia, desta bendita democracia, foi o poder local democrático. Quod erat demonstrandum. Ai de quem não esteja feliz com esta democracia e com este poder local. Numa palavra, a tolerância de ponto é o paradigma desta democracia e do próprio regime. Porque de folias está o inferno cheio. Foliemos, foliemos, que a vida são dois dias. Por isso, também não devemos ser exigentes com os alunos, coitadinhos, que tanto sofrem para aprender. Teremos de continuar a pieguice que trouxe o ensino ao estado meserável em que se emcontra. Dita em Odivelas, arredor nobre da Capital, onde D. Dinis foliou tudo o que quis - noutro tempo -, a palavra piegas tornou-se o anátema deste primeiro ministro. O qual, apesar de estar numa palestra informal num instituto onde parece que terá dado aulas, terá insultado todo o seu povo quando usou a palavra piegas. Outros usaram lamúrias. Mas sem consequências. Agora piegas é inaceitável. Não há pachorra. A coisa já foi discutida, vista e revista de todos os cantos, apesar de ser inútil e redonda. Mas ainda no Expresso de hoje o Senhor Daniel Oliveira entende que esta palavra do primeiro ministro é um insulto ao povo que lhe deu o lugar. Quem diria. Por mim, acho que verdadeiramente pornográfico é o facto de o Expresso publicar o que o Senhor Daniel Oliveira escreve ao lado de outras coisas escritas por gente séria e intelectualmente honesta como são o Rui Ramos e o Henrique Raposo. Haja Deus! Como pode dar-se tanto espaço a quem ( não é o único) há anos nada mais faz senão derramar ideologia caduca, morta e enterrada nos jornais nacionais. Poderemos estar todos na miséria. Poderemos ter de procurar no lixo a sobrevivência que estes "mestres" da liberdade dirão sempre o mesmo. Sempre o mesmo. É o velho programa antifascista! Por fim, foi a ousadia de Graça Moura em ser coerente e lúcido: não há acordo ortográfico no Centro Cultural de Belém. Que ousadia! Arredar assim essa acefalia a que até os Brasileiros ( alguns) chamam um aleijão. Que Angolanos e Moçambicanos pura e simplesmente recusam. Claro, para os daniéis, são todos uns reaccionários, senão mesmo fascistas. Nem sempre estou de acordo com o  Sousa Tavares. Naturalmente. Mas desta vez tocou em todas. Bem e com verve. Revejo-me inteiramente na sua crónica. Por isso, o Senhor Daniel dirá que ele talvez seja tão reaccionário ou fascista como eu. E viva o fado. Que é piegas quando é mau. Que já foi fascista e reaccionário para o Senhor Daniel Oliveira &Companheiros.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Reguladores

De tempos a tempos os chamados Reguladores são notícia. Por más razões, grande parte das vezes. Mas os liberais enchem a boca com a necessidade de ter um Estado menos "interventor" e mais regulador,  no que à economia diz respeito. Com alguma razão. Lembremos alguns reguladores:  Banco de Portugal para os bancos e demais instituições financeiras. O que regulou? O que regula? Nada. Ainda se lembram do BPN e da novela do Senhor Constâncio? Foi apenas um momento particularmente mediático, vergonhoso e até escandaloso. Há milhares de queixas de cidadãos comuns que dão entrada no BdP. A experiência diz-me que o cidadão recebe  uma primeira carta, dizendo que os serviços vão ouvir o banco visado. A seguir recebem outra, tipo ofício, é claro, dizendo que vão encerrar o processo porque o banco lhe disse que o assunto já estava resolvido. Claro que, em regra, não está resolvido. Mas a opinião do cidadão já não conta. O que conta é o que o banco transmitiu, ainda que nada tenha a ver com a realidade. Outra medida deveras inacreditável é a Central de Risco do BdP. Os bancos comunicam dívidas que muitas vezes inventam. O cidadão está tramado. Todos o consideram "caloteiro", "incumpridor" "persona non grata". Acabou-se o crédito. Escusa de justificar a sua posição ou de desmentir a comunicação do Banco. Enquanto este não comunicar ao sistema que o cidadão regularizou a situação ( leia-se pagou, ainda que seja indevido) o cidadão é completamente arredado ou marginalizado desse mesmo sistema. Por isso os bancos não precisam sequer de tribunais para grande parte dos casos. O cidadão, sim. Se quer clarificar a questão não tem outro remédio senão recorrer aos tribunais. Ser-lhe-á dada razão - talvez - quando for velho e as dores da artrite forem mais importantes do que o pagamento indevido que teve de fazer ao banco quando era novo. Enfim, do Banco de Portugal  haveria matéria para muitas entradas como esta.
A ANACOM veio agora para a ribalta, uma vez mais, a propósito da TDT cujo processo é verdadeiramente vergonhoso. Um professor da Universidade do Minho que me pareceu brasileiro ou, pelo menos, de origem brasileira, denunciou há dias numa rádio o escândalo que a TDT representa na perspectiva do consumidor. Realidade de que todos nós nos apercebemos. Ninguém o ouviu e ninguém dará qualquer importância a isso, claro está. Com a chamada ERC aconteceram já episódios verdadeiramente rocambolescos, como muitos se lembrarão. Por isso temos o jornalismo medíocre que conhecemos e que nos regala diariamente. A AdC ( concorrência) não consegue descobrir (?) aquilo que todos sabemos: que há clara e evidente concertação de preços entre a Galp e as restantes distribuidoras de combustíveis. Claro que a formação dos preços não é rigorosamente igual em Portugal e em Espanha. Mas alguém pressupõe que o peso "de taxas e impostos"- só por si -determine que o gás butano (de garrafa) custe em Portugal o dobro do que custa em Espanha?
Não vale a pena continuarmos nesta onda dos reguladores, sob pena de termos de concluir que essas comissões, institutos and so on, são lugares de óptimos tachos, como acontece com os inúteis conselhos gerais, de supervisão e tanti quanti de que os ex-ministros e outros benfeitores públicos usufruem com descaramento inigualável. Como diz hoje o jornalista Pereira Coutinho,  a questão não está só, nem particularmente, na participação do Estado nas empresas. O grande problema que importa resolver é acabar com a participação das algumas grandes empresas no Estado: todas as que vivem à margem do mercado, como bancos, seguradoras, telecomunicações, petróleos, etc, etc.
Por tudo o que suportamos nas últimas décadas já merecemos bem o título de povo mais sofredor, tanquilamente sofredor, quiçá mais masoquista. Esta é seguramente uma das grandes conquistas revolucionárias. Pela revolução e sempre pela revolução, somos hoje o povo com rendimentos mais desiguais em toda a Europa. Só nós atingimos estes níveis de excelência. De que nos queixamos?