Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Em jeito de balancete

Um ano difícil de esquecer, ainda que nos atormente a brevidade do tempo. A crise do euro. Esperada para gente atenta, conhecedora e previdente. Uma união com diferenças abismais na economia real e na produtividade e com a mesma moeda, só podia dar nisto. Mais tarde ou mais cedo. Claro que as metásteses do chamado sub-prime acelerou o veículo e libertou a pressão da panela. Quando a Reserva Federal baixava juros para ajudar a economia real, ainda os burocratas de Bruxelas e do BCE aumentavam as taxas de referência e a Euribor, por conseguinte. Foi o que se viu. Não admira que o nosso Sócrates tenha decidido, irresponsavelmente, iludir o País até a um tempo patético. Quando pediu ajuda já estávamos à beira do abismo. Onde ainda estamos. De onde sairemos ( oxalá), mas não tão depressa como todos gostaríamos. E não seguramente, trilhando o caminho usual de culparmos os outros: troika, Merkel, mercados, capitalistas, tudo em nome do mesmo que aqui nos trouxe: a irresponsabilidade individual e social. A incapacidade de aprendermos com os erros.
Outro sintoma que me desanima é  tendência para a mediocridade que vejo e sinto alastrar como óleo derramado no tecido social. Basta pensar naquilo que se passa com as emissões de televisão. Como é triste um país ter os horários nobres de televisão ocupados com os gordos e com a casa dos segredos. A mediocridade, como a má moeda, tem a capacidade para expulsar quem é melhor: expõe-se mediaticamente por incapacidade para se ver- patética e triste -. Ouve-se rádio, vê-se televisão e a mediocridade assoma em todas as esquinas. Alarvemente, é claro. Nos últimos dias, as novidades vieram do Oriente ou a ele estiveram ligadas: a morte do querido lider da Coreia do Norte. Como é possível todo aquele carpir? Como é possível que o PCP se associe à dor do povo Coreano? Como é possível a Coreia do Norte em 2012? E a China ganhou os 23% do capital da EDP que ainda eram do Estado Português. Foram para uma empresa totalmente pública do Estado Chinês. - Enfim, quem pode pode, quem não pode arreia, diz o povo -. Estive em Pequim em Maio de 2010. Tudo aquilo está além da nossa mentalidade e da nossa imaginação. Aquele "social-fascismo" arrepia, como muitos comentam. E a estratégia de conquista do mundo por meios económicos é deveras espantosa! Quando o Presidente Obama tentava há meses convencer os republicanos a votarem favoravelmente o tecto de endividamento dos USA, um senador comentava, pelo que ouvi na rádio: não é o maior endividamento em si que me preocupa. O que me preocupa é que grande parte da nossa dívida está nas mãos dos chineses....Bom, não quero ser pessimista. Esperemos para ver. Mas não me parece sensato pensar que, assumindo-nos como caminho ou vereda dos investimentos estratégicos chineses na Europa ( admitindo mesmo isso), possamos ver aí apenas benefícios. Mas, admite-se que em período de necessidade, poucas opções nos restam. 
Oxalá que o tempo tenha mais olhos que barriga!

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal

Assumo a possibilidade de alguém ver neste começo algum pedantismo. Quis intitular esta entrada como semiótica e crise. Curiosamente, o Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa ( o tal que demorou anos ou décadas - nem sei -) não tem qualquer entrada para semiótica. Poderia ser por complexo purista e definir semiologia. Ao que parece, semiótica vem mais na tradição anglo-saxónica. Mas não. Também não apresenta qualquer entrada para semiologia. Estranho! O Ilustrado da Porto Editora - que considero fraquito - tem o essencial. Como é sabido, a Semiótica foi objecto de estudos importantíssimos de um professor universitário ( de Semiótica), filósofo e escritor famoso, de seu nome, Umberto Eco. Tratado Geral de Semiótica e As formas do Conteúdo, -para não dizer mais - são obras e produtos de estudos importantíssimos de investigação que Eco exercitou até em romances como o inexcedível Nome da Rosa. Bom. Mas basta do Dicionário da Academia. Eles lá sabem porque utilizaram estes critérios. O que queria dizer era do sentido, do significado do presépio. Significado milenar. Independente da crença ou religiosidade de todos os que honestamente e com sensibilidade meditam e meditaram sobre o presépio e os seus insondáveis mistérios semióticos. Lembro Miguel Torga - que conheci, por felicidade, nos meus 20 anos, em Coimbra, em duas ou três pequenas conversas-. O Natal é um tema recorrente. Terá seguramente três ou quatro poemas sobre o Natal. E todavia, ao que julgo saber, era agnóstico. Porque o Natal é ainda o símbolo mais rico para o amor e sê-lo-á sempre, cito de memória, -com o risco de o adulterar - um poema de Miguel Torga: Lembro o teu nome/ nas páginas da noite/ menino Deus/ e fico a meditar/ no milagre dobrado/ de seres Deus e menino/. Em Deus não acredito/ mas de ti, como posso duvidar?/ Todos os dias nascem meninos pobres em currais de gado/ humanas alvoradas/ a divindade é o menos.

(Direi apenas, a terminar) que esta imagem do presépio foi encontrada por acaso num blog: de Dilti Xavier Lopes, encabeçando a Janela da Alma. Espero que a Dilti não considere abusiva a reprodução.







quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Crucifiquem-no

 
Crucifiquem-no!

( Diz-lhes Pilatos: Tomem-no vocês e crucifiquem-no, porque eu não encontro culpa nele.)

Sejamos claros: vinda de um primeiro-ministro, a sugestão para emigrar é uma inabilidade política. Para quem está bem intencionado, representa uma frontalidade despida de enfeites, a que ninguém está habituado. Á frontalidade. Não à emigração. Enquanto comunidade, desabituámos-nos também da verdade, como sabemos. Há décadas, mas com especial ênfase nos últimos anos. Mas há sempre quem queira viver de ilusões. E peça, reiteradamente, uma mentirinha sob a roupagem do positivismo e da esperança. Que é necessária, claro está. É sempre necessária. Também por isso a sugestão é inábil e pode ser negativa. Mesmo neste momento.
A emigração- toda ela- é economicamente desastrosa para qualquer comunidade. Mais ainda quando se trata de jovens qualificados cuja formação custou muito dinheiro ao País. O primeiro-ministro não o sabe? Claro que sabe. Por muito que os barões do seu partido e tanti quanti queiram aproveitar-se dessa inabilidade, a verdade é que só um governante desesperado pela perspectiva de vir a não ter dinheiro para subsídios de desemprego pode sobreavaliar, em seu juízo, um hipotético melhor futuro individual, ao bem-estar colectivo. Ao desejável bem-estar colectivo de que depende a sua reeleição. Julgo que apesar da inabilidade, o PM ponderou estes dois momentos. Para além da referida desgraça que a emigração sempre representa, teremos de reconhecer que ela é um pouco menor se a mais valia for levada para Países de língua portuguesa. Há uma pequena hipótese de virmos a amenizar os prejuízos através da influência da língua. Sem acordo ortográfico. Este, ah! bom! A este digo com seriedade: crucifiquem-no.
              

sábado, 17 de dezembro de 2011

Dívida, garotices & companhia

O deputado Pedro Santos ficou, subitamente, famoso pelo facto de ter dito aquilo que todos os outros e muitos socialistas e companheiros de route - mesmo não deputados - verdadeiramente pensam. Os "banqueiros" alemães e franceses já tremelicam de medo só com a perspectiva de não pagarmos a dívida. Logo, em bom rigor, esta declaração ajuda a actual maoiria a gerir a mesma dívida. E só isto é necessário. Nunca pagá-la porque ela é eterna.  Como diria o deputado Acácio (da UDP ) os ricos que paguem a crise. Agora é a Merkl e o Sarkozy, esses desavergonhados, que se atrevem a dizer que temos de produzir o equivalente ao que consumimos. Então para que diabo será a solidariedade? Esta Europa não está bem. Não  tem líderes. Razão tem- uma vez mais - o papa doctor Soares. Tanta garotice de gente com responsabilidades políticas, impõe que nos questionemos. Quem deu tamanha responsabilidade a esta gente? Todos nós ou melhor, a maioria daqueles que votam. Como aqueles que votam já são a minoria dos que poderiam votar, por que continuaremos a encher diariamente a boca com a imagem florida da democracia? Os fetiches são imprescindíveis. A democracia tornou-se o fetiche dos nossos dias. Em nome dela são possíveis todas as imbecilidades. E ai de quem se atreva a defender uma ideia séria, ainda que genial, sem o aval do cheiro democrático. Na gestão da coisa pública só vale o que for democrático. É democrático tudo o que for da conveniência dos "participantes", "activistas" "oportunistas", o outros "istas": desde que se mantenha a ilusão da mencionada maioria. Em boa verdade, bem mais importante do que a dívida ( que alguém pagará), bem mais importante do que a dignidade ( coisa do passado), bem mais importante do que tudo, é simular a aprovação ou mero consentimento da maioria para todas as imbecilidades e garotices.  E Viva a Democracia.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Falácias e Democracia

Como todos sabemos, é tratado pelo pai da democracia portuguesa. Pouco importa. Cada um tem o pai que merece! Tratando-se de regimes políticos, deverá haver também alguma transmissão genética. Digo eu. O facto é que, normalmente avesso a personalizar questões, não posso deixar de referir aqui - escrito informático que por vezes me lembro de actualizar - dois comentários que li em dias seguidos na imprensa portuguesa, ambos citando - ao que parece - o Dr. Mário Soares: ex-secretário-geral do ps, ex-primeiro-ministro, ex-presidente da república, ex-candidato à mesma, ex-candidato a presidente do parlamento europeu, ex-democrata(?). Será? Vamos às citações: primeira: "se a Europa não mudar é preciso fazer uma revolução". A segunda: " é preciso bater o pé à troika". Reconheçamos: o macho despeitado que apelidou a "outra" de dona de casa, está cada vez mais lúcido, mais claro e mais desafrontado. Julgámos que a grande diferença entre a democracia e todos os restantes regimes residisse exactamente no facto de, naquela, não haver revoluções. As mudanças seriam determinadas pelo voto popular. Eleitoralmente. Os portugueses ouviram esta verdade insofismável do pai da sua democracia muitas vezes, ao que julgo. Enganámo-nos. Se a Europa não mudar ( em quê e para quê, eis a questão) façamos uma revolução. Mudêmo-la pela força das armas, dos tanques, dos submarinos, do que quer que seja. Mas mudêmo-la. Claro que a mudança desejável é no sentido de a Alemanha, onde o ps nasceu em 1973, ter de pagar os desvarios dos socialistas portugueses e não só. Que dianho. Eles que trabalhem. Os folguedos são connosco. ( Há séculos, os folguedos da fidalguia mataram o príncipe D. Afonso em Santarém e as nossas aspirações à junção pacífica das coroas de Portugal e de Castela. Ha! Ha! Com cultura é outra coisa! A histórica. Não a do tomate.). Mas também é preciso bater o pé à troika. Não sei se fomos nós que os chamámos, se foram eles que nos invadiram. ( Gosto do nome troika por ser muito Putin, logo, muito democrata.) Seja como for, é preciso bater-lhes o pé. Não é exactamente o mesmo que pateá-los. É só bater-lhes o pé. De birra. Ou de confronto. Que dificuldade terá o Dr. Soares ( e já agora também o Ulrich) em confrontar económicamente técnicos de 6ª ou de 7ª linha? Bata-se-lhes o pé, claro está. E, se necessário, retiremos-lhes os subsídios em 2012. Para aprenderem, pois claro. Este país é de uma serenidade única. O Dr. Soares é de uma seriedade, serenidade e segurança únicas. Todos pensam que não aprecia o Seguro. Mas devem estar enganados. Só um bom seguro permite que nos acomodemos em tamanha lucidez. O Dr. Soares tem um bom seguro e é de uma lucidez invejável. Quod erat demonstrandum.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Maçonaria

Há sempre vários modos de encarar os assuntos. Ou é uma das poucas organizações nacionais ( a maçonaria) onde se ensina a democracia, gestão e eficiência, e então o seu poder vem-lhe da incompetência ou intolerância de todos os outros, ou...repercutem, quiçá determinam o tráfego de influências que mina os alicerces da sociedade portuguesa. Há muitos anos. Mas com grande responsabilidade daqueles que tão ardentemente quiseram implementar esta "democracia" de pacotilha, este faz-de-conta, onde o nepotismo é já tão claro que leva à resignação. Não há nada a fazer, é o que se diz. Com alguma razão. Os grandes responsáveis pela razia de valores que está na origem de todos estes males apregoam hoje "o direito à indignação". Têm razão. Só desconfio da fonte ou fontes. Chego a pensar que ainda não estão satisfeitos. Querem mesmo que o País seja reduzido à expressão mínima. Ou então só querem alijar responsabilidades. Sim, porque, efectivamente, falamos de irresponsabilidade generalizada  que durou décadas. Como estão habituados a enganar tolos, julgam que o conseguirão uma vez mais. Enfim, na maçonaria, como na Opus Dei, provavelemente, como no País em geral e com raras excepções, a mediocridade instalou-se e reina. Olha-se à nossa volta e os casos são tantos e tão deprimentes que nos levam a desistir de cansaço pressentido. Persistir, nestas condições, pressupõe um esforço hercúleo que se adivinha impossível de levar a bom termo. Daí que, erradamente, haja a tentação de desistir. Erradamente, porque a persistência é vital em momentos como este. A resignação é o pior dos sintomas. Até para ultrapassar a crise económica. Um povo resignado, como parece acontecer agora com o povo português, é um povo incapaz de reagir perante as questões mais importantes. Mais uma vez só a arte nos pode redimir. Camões. Sempre ele a contemplar a Pátria, visto que a Pátria só formalmente o contempla. Como é verdade que "um rei fraco faz fraca a forte gente"! A inversa também é verdadeira. Para terminar esta nota com uma nesga de optimismo.

domingo, 6 de novembro de 2011

Karagosis Papandreou

A Grécia. A Grécia. Referenda o pacote de ajuda. Já não referenda o pacote de ajuda. O referendo seria, como todos os referendos que podem colocar a UE em questão, votado inevitavelmente neste mesmo sentido: sim à ajuda. Sim à UE. Sim ao Euro. Sempre assim tem sido. Por maioria de razão o seria com os Gregos. A tranche de 8 mil milhões não chegaria antes do referendo. Não haveria dinheiro para pagar vencimentos. Logo, a democracia estaria assegurada.  Os Gregos seria obrigados a votar a favor da ajuda, como é evidente. Outra coisa extraordinária é que um democrata e socialista diga que a eventual realização de eleições seria uma catástrofe ( sic). Como é isto possível em democracia? Não são as eleições a sua pedra de toque? A sua eterna justificação?
Há quem diga - e não são tolos - que Portugal estará bem pior do que a Grécia, dentro de poucos anos. A austeridade agora imposta é brutal. Se não houver crescimento económico - e não haverá nos próximos anos - não aumentará o rendimento nacional. Logo não poderemos pagar o que devemos. è sabido. Só a austeridade nada resolverá. Precisamos de produzir. De produzir muito mais e de gerar excedentes na balança comercial. Ninguém duvida disto. É uma situação dilemática, efectivamente. Todavia, sem crescimento, podemos diminuir o ritmo de endividamento. Mas continuaremos a endividarmo-nos. Logo, não pagaremos o que já devemos nem o que lhe acrescentarmos, entretanto.
tem-se a impressão, em contacto diário com a vida económica, que os poderes políticos não têm consciência plena desta situação. Nem do descalabro para que tudo isto caminha. 
A Europa está velha, caduca, incapaz de reagir a situações graves, melindrosas e dilemáticas como claramente esta se assume. Não tem lideres ( apesar de não gostar particularmente deste anglicismo). A democracia não passa de uma mistificação. O que realmente importa é assegurar os tachos e a subsistência da burocracia de Bruxelas. Por isso a democracia é a farsa comum a toda a UE. Custa-me dizê-lo. Mas a história recente demonstra que isto é verdade.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Uma falangeta de crise

É impossível resistir. Toda a gente opina. Sábios e ignorantes, génios e imbecis. Ouvem-se tiradas verdadeiramente inacreditáveis. No sistema capitalista, as crises são cíclicas e indispensáveis para o purgar. Estão identificados os ciclos e até tratados com algum rigor. Mas agora falamos de algo mais profundo: as crises.Como foi a de 1929 que levou às profecias Keynesianas, e como é esta, mesmo tendo já sido utilizados os ensinamentos que ficaram da outra. Que consistiram apenas em injectar dinheiro por instrumentos publicos, isto é, pagos por todos, como Keynes pediu então a Roosevelt. O mesmo Keynes previu que o sistema não resistiria sem um crescimento "sustentável" da população. O pequeno crescimento demográfico, para as necessidades sistémicas, foi sendo compensado com o alargamento dos mercados. É a chamada globalização. Que não é um fenómeno novo, ao contrário do que alguns esquerdistas julgam. Pensemos, o que nem sempre é fácil. O crédito é fundamentalmente a antecipação dos rendimentos. Como parte essencial do sistema financeiro vive do crédito e este tem um preço, então mais tarde ou mais cedo haverá inevitavelmente um desfazamento entre a riqueza "material" produzida ( bens e serviços) e a sua expressão monetária. Esta será muito maior, é claro, porque o devedor tem de pagar ao credor a antecipação dos seus rendimentos. Que, como futuros, são até incertos. Os juros são o valor dessa incerteza, como é sabido. Portugal endividou-se irresponsavelmente. Há gente que o vem dizendo há décadas. Mas ninguém a quis ouvir. Os surdos raramente são mudos. E têm dentes. Abocanharam o País e fizeram de todos nós perfeitos idiotas. De que nos queixamos? De termos votado neles por que acreditámos nos cantos de sereia? Ainda acreditamos. No que não acreditamos é na necessidade de vivermos apenas com a riqueza que conseguimos criar. Porque não queremos ser pobres. Naturalmente. Ninguém quer. Mas não é possível ignorar eternamente a realidade. Somos pobres. Não só porque não criamos a riqueza necessária para deixarmos de o ser. Sobretudo porque alienámos os valores e as atitudes indispensáveis para podermos ser remediados: trabalho, mérito, dignidade, hombridade. Adoptámos: egoismo, ganância, irresponsabilidade, trafulhice, chico-espertice. Há meses, uns sábios diziam - e bem - que era preciso cortar as gorduras de um Estado monstruoso e devorador. Libertar a sociedade civil, deixando-lhe mais rendimento disponível. Quando as primeiras medidas são anunciadas, e vão ser necessárias muitas mais, todos esses sábios - ou quase todos -reclamam contra a sua injustiça. Os Senhores Juízes até falam em "mobilizar o Direito". Imagine-se! Como tema de um Congresso. É espantoso. Não haverá pudor? o mínimo de pudor?
Pois bem. Reduzir o Estado até um  limite que a sociedade portuguesa possa suportar é, de facto, indispensável e urgente, se alguém ainda tem a mínima esperança de que o País sobreviva como comunidade independente. Todas as medidas que cortem as gorduras e mais ainda as que acabem com privilégios escandalosos - simplesmente escandalosos - são urgentes e inevitáveis. E elas serão tanto mais duras e talvez injustas porque mais imponderadas, quanto mais tarde forem tomadas. O tempo já reduziu e continuará a reduzir drasticamente a margem de manobra de que dispomos. E o tempo tem mais olhos que barriga, como diz a canção. Há uma nomenklatura do regime que, concertadamente, tentará impedir o emagrecimento do Estado por todos os meios. Sejamos responsáveis e conscientes. Digamos, por uma vez: basta! basta!
E aceitemos que não é digno nem honesto vivermos, enquanto comunidade, á custa dos outros e culpando-os pela nossa preguiça e pela nossa irresponsabilidade. Não é justo. Não é correcto. Não é digno.



quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Alberto João & Cª

Não resisto à tentação de reproduzir toda a primeira página do último Expresso, apesar de a intenção original ser apenas a expressão de palhaço do Alberto João. Brada-se agora hipocritamente contra o buraco da Madeira. Claro que é grave ocultar o que indevidamente se gastou. Mas não foi isso que todos fizemos nas duas últimas décadas, para ser modesto, melhor, comedido no tempo? O que verdadeiramente distingue o Alberto João & Cª das restantes companhias nacionais é apenas o facto de aquele se prestar com gosto às palhaçadas que todos nós temos fomentado e até aplaudido. Claro que vai ganhar as eleições. Não as ganharam a Felgueiras, o Isaltino e tanti quanti?
 Mas vejamos as restantes notícias: as Pensões do Banco de Portugal vão tapar o défice. Que grande descoberta! Já a Dª Manelinha Ferreira Leite fez esta operação com a CGD. No tempo de Durão Barroso. Que foi premiado, tal como o Senhor Constâncio. Todos o sabemos. Será a palhaçada apenas da Companhia da qual é sócio-gerente o Alberto João? Outra notícia: magistrados ignoravam recurso que era do conhecimento público. A Justiça assume tons e hábitos de  anedota permanente. E o povo confrangidito- diz-se - aguenta tudo. Em bom rigor, o povo intui a palhaçada e gosta que a companhia perdure. Insolvências, são mais que as mães, cum diabo! Que a Justiça & Cª perdure com as suas palhaçadas. Vou apenas citar mais duas notícias da primeira página, visto ser difícil a leitura: Marques Júnior confirma toda a investigação do Expresso; 219 alunos usaram truque para entrar na Universidade. Sem palavras. A palhaçada é, afinal, protagonizada pelo próprio jornal de referência. O Semanário da intelectualidade. Mas, se é do país das marionetas e aqui se baba. porque não babar o ninho, todos os ninhos dos cucos que lhe dão o almejado alento?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Voyages du geste

Ontem, dia 25 de Setembro, o grupo que esteve a trabalhar em Montemor-o-Novo durante 15 dias fez uma demonstração desse seu trabalho. Pode dizer-se. Trabalharam a sério. Quer os jovens formandos, quer os professores. Partiram hoje, a maior parte deles a caminho do aeroporto. Nos comentários sobre Teatro - e não só de marionetas - foi-me grato verificar que a maioria já assume abertamente que as artes cénicas, como tudo o resto na vida, depende do talento, mas sobretudo de muito trabalho. Enfim, ontem celebraram até alta madrugada. Hoje, houve légrimas, doces e amargas de todos e não só de Petra. Foi bonito ver como estes dias de convívio criaram laços interessantes que oxalá perdurem. Na imagem, o Damian, a Marion e a Françoise manipulam uma marioneta numa alusão crítica aos ensinamentos dos mestres: atenção ao olhar da marioneta! Nunca descuidem o olhar da marioneta! O espectáculo - um pouco longo ( 3 horas - teve dança, representação e canto. Bem conseguido, de uma forma geral.

domingo, 18 de setembro de 2011

Arte, amizade e cooperação internacional em Montemor-o-Novo

Um grupo muito interessante está há dias no Hotel Montemor (www.hotelmontemor.com) e os seus participantes trabalham tudo ou quase, no mundo das artes: de marionetas a canto. Canto é a especialidade da Professora portuguesa que os reuniu: Maria João Serrão, uma grande amiga de Montemor-o-Novo. Marionetas é a especialidade do Karim, um professor Libanês a respeito do qual descobri, incidentalmente, que procede a investigações com Toni Rumbau com o objectivo de publicar um livro.(1) É assim, efectivamente. De Palestinianos a Suecos, Belgas, Franceses, Libaneses, Brasileiros, Italianos(as), e Portugueses, naturalmente, o grupo é internacional, divertido, trabalhador e afectuoso. As duas imagens mostram-nos o Damian e a Jessica com duas marionetas criadas nesse mesmo dia, pela Marion e pela Jessica. A Marion cujo nome terá sido a origem do nome Marinette - curiosidade -também se vê na 1ª imagem atrás da Marineta que o Damion manipula, entusiasmado, tal como a Professora Maria Joâo, de Costas. A Marineta da Jessica ( libanesa) tem duas bochechas rubras  de destaque. Apesar disso, a sua criação tem muito da criadora. Pelo menos, assim me parece. O programa no âmbito do qual este grupo se juntou em Montemor para uns dias de trabalho tem o nome extraordinariamente poético de Voyages du geste. Penso não estar errado ao afirmar que também se deve à Câmara Municipal de Montemor-o-Novo a criação de condições ( mesmo financeiras) para que o grupo pudesse reunir entre nós. Que o trabalho seja produtivo e que a cultura seja o cimento das amizades internacionais e do fascínio multi-cultural que este grupo cultiva de forma verdadeiramente cativante. 

(1)- Toni Rumbau é um marionetista e escritor que conhece muito bem Portugal, onde esteve e permaneceu durante bastante tempo, logo após o 25 de Abril. É autor de um livro intitulado Malic - a aventura das Marionetas -cujos direitos da edição portuguesa são da EGEAC/ Museu da Marioneta.

sábado, 3 de setembro de 2011

A matança do porco

Não me ocorre o nome do pintor. Tirei a fotografia no Monte da Ravasqueira, em Arraiolos, ou perto de Arraiolos, numa visita à Adega. O quadro é de um realismo impressionante e tem uma excelente técnica.
Tudo é tão perfeito que parece mais uma fotografia do que uma pintura. Mas tem a beleza da pintura. Da mão humana que sabe transmitir sensibilidade. Assiti a isto na minha infância, todos os anos, em Trás-os-Montes. Assisti ainda recentemente no Alentejo. Claro que já havia fiscalização económica. Mas não havia ASAE. Que tem vindo a concluir ter interpretado mal a Lei em muitas exigências imbecis com que aterrorizou, premeditadamente, um país resignado. Esta democracia integra um regime policial difícil de desmascarar, porque qualquer cretino com um pouco de poder faz questão em usá-lo e sobretudo em abusar dele. A insignificância foi sempre abusadora. Neste momento está em roda livre neste pobre Portugal. São os Polícias. São funcionários menores das Finanças, funcionários menores das autaquias, de todos os departamentos, do poder central, regional e local. Até nos hospitais. Até nas empresas que actuam fora do mercado: telefónicas, bancos, seguradoras etc. Os nossos reguladores são uma verdadeira inutilidade. Do Banco de Portugal e do Instituto de Seguros tenho, na minha vida profissional, "histórias" tão caricatas e tão estúpidas que se torna doloroso contá-las. Como a Justiça não funciona, quem pode e quem ousa meter-se numa encrenca se demorará anos a fazer valer a verdade e a Justiça? Deus nos livre. Por isso falo em resignação. Como sendo o cancro que corrói a comunidade. Esperemos que não seja uma doença terminal.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Amanita caesaria: a legenda diz que é a rainha dos cogumelos. Ao que parece, também é nesta espécie que se encontram os mais venenosos.
Assim, mesmo a propósito de cogumelos, sempre nos ocorrem histórias de outras espécies, quer vegetais quer animais. Neste último reino, há menor variedade, claro. A amanita é o cogumelo mais belo da fotografia. Algo o distinguirá dos seus irmãos venenosos. Não será a beleza, seguramente. Porque a beleza também pode ser venenosa, por muito que nos custe.
O último dia de Agosto esteve cinzento e acabou com uma chuvada forte. Em Lisboa, pelo menos, chuveu como não sucede em muitos invernos. O dia acompanhou, assim, o anúncio de mais austeridade. Estavam prometidas medidas do lado da despesa. Uma vez mais o ministro das finanças Vitor Gaspar, ter-se-á ficado por generalidades. Estamos de acordo, como todas as pessoas isentas e  informadas, que a situação do país é caótica. Os últimos governos e particularmente os do Senhor José Sócrates retiraram aos portugueses a capacidade de indignação e de resistência. A corrupção, a mediocridade, o nepotismo e o compadrio entravam-nos pelas casas diariamente, com as notícias. Ainda entram. Tornou-se impossivel reagir. O excesso cansa. Fizeram tantos e tão despudorados saques ao erário público que nos cansaram. Resignámo-nos. Esta resignação, por muito que não o reconheçam, é o pior inimigo da comunidade nacional neste momento histórico. Sem vencermos a resignação, não conseguiremos ultrapassar a crise.
Li há dias Os Mitos da Economia Portuguesa do actual ministro da economia, Álvaro Pereira Da economia e não só: dois ministérios e meio, como gosta de dizer para justificar o vencimento da sua super chefe de gabinete. Os Mitos, quando não existem, ele inventa-os para poder dizer generalidades e vulgaridades. Uma decepção. A distorção dos incentivos pode ser um facto. Mas não avança uma única situação concreta que se traduza nessa distorção. Exemplifica com a hipotética reacção dos filhos. Algúem de bom senso pensa no perigo espanhol? Se o ministro pensa que alguém teme isso, então é ele que criou um mito. È isto. Como todos os outros, são palavras, palavras e palavras. Este governo já teve o seu período de estado de graça. Começa a ser tempo de mostrar que faz, que quer fazer e que é capaz de fazer. Há muitas dúvidas legítimas já instaladas em muitos espíritos. E com razão.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Punch and Judy

That's the way to do it ! Mr. Punch - e a sua célebre frase quando vence os inimigos à "sticada" - terá nascido em 9 de Maio de 1662, em Covent Garden, pela mão do Signor Bologna (Pietro Gimondi) o qual, naturalmente, trouxe o primo do Pulchinella de Itália. Punchinello, primeiro e logo Punch à boa e prática maneira Inglesa de anglicizar e "shortizar" os nomes. Tal como acontece com os seus parentes, Mr. Punch ficou famoso em pouco tempo e o seu caracter, ao que parece, assimila aspectos de figuras mitológicas anglo-saxónicas como o Lord of Misrule e Trickster. A fama de Punch e da sua mulher Judy ( and the baby) levou à abertura de Teatros com o seu nome em todo o Reino Unido e até em Dublin ( Irlanda). Espalhou-se, naturalmente, pelas colónias britânicas e -diz-se - até George Washington terá comprado ingressos para um espectáculo de Mr. Punch. Histórias de bonecreiros ou professors, como são conhecidos. O que não é muito verosímil. Porque um auxiliar importantíssimo do professor era o bottler que fazia a ligação com a assistência, interpelava as personagens, tocava tambor e gaita de foles ( na era Vitoriana) e, sobretudo, recolhia as moedas na bottle, em sentido figurado, é claro, fosse qual fosse o recipiente adequado aos donativos. Logo, talvez não houvesse ingressos, no tempo de George Washingtn. Ou talves houvesse, porque na América nunca houve o hábito de trabalhar à borla, naturalmente. Há figuras que foram caindo em desuso com a transição do espectáculo de adultos, representado muitas vezes em tabernas, para os espectáculos mais dirigidos às crianças, como acontece nos dias de hoje. Entre essas figuras agora não utilizadas conta-se a amante de Mr.Punch, de seu nome Pretty Polly. Também desfilam nos encontros Toby the dog, Hector, the horse, além do inevitável Polícia ( The Constable), o Palhaço ( Joey, the Clown), etc.
Punch foi também o título de uma antiga revista humorística, o que revela bem a dimensão social desta marioneta: de cordas, inicialmente, e hoje mais manipulada como marioneta de luva. O fenómeno Punch tem sido objecto de estudos importantes. Citamos apenas o livro de John Payne Collier, The tragical Comedy or Comic Tragedy of Punch and Judy, ilustrado por George Cruikshank e com várias edições.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O local é típico e a paisagem deslumbrante. Hong Kong, em Maio do ano passado, e três mulheres bonitas em Maio de todos os anos: a Céu, a Judy e a Maria. Eu sou apenas o fotógrafo. O outro lado do mundo é uma experiência única, importante, que vale a pena. Hong Kong é o local manifestamente mais ocidentalizado. Mais, muito mais do que Macau, que já é o centro mundial do jogo. A nossa mente ou melhor, a minha mente tem alguma dificuldade em compreender a forma como tudo aquilo funciona, como os mecanismos sociais ou meramente económicos são oleados. A verdade é que são. Como? É uma incógnita. É preciso muito tempo para perceber e há gente que dá lições sem ter percebido. Na China é tudo grande, descomunal, imenso. Beijing não cabe em palavras nossas. Talvez nos caracteres mandarim ou noutros. Mas não nas nossas 24 letras. Nesta altura eram notícia o conflito entre as Coreias que levou a Senhora Clinton a permanecer em Beijing durante dois dias! Celebrava-se o aniversário de Tianamen. ( Só quem esteve na praça pode calcular a sua dimensão!). Veio uma estátua dos Estados Unidos para Hong Kong. Mas a polícia reduziu as celebrações ao mínimo aceitável ( para eles, claro). E quando o autor da estátua chegou a Hong Kong, parece que foi "reembarcado" para a origem. Foi o que pude compreender dos jornais.  Jornais esses onde o Ocidente ocupa diminutas linhas. Muito diminutas. Há dias, um senador norte-americano dizia, a propósito das negociações para aumentar o limite da dívida pública: o problema não é a dimensão da dívida. O grande problema é termos de pagar juros à china por grande parte dessa dívida. Ah! Outra coisa aconteceu nesses dias. A própria Apple acordou que os seus computadores e telemóveis passariam a ser fabricados na China. Talvez o senador tenha razão. Quando acordarmos teremos um problema de comunicação: há pouca gente fora da China que saiba falar Mandarim. Como negociaremos então a descida dos juros? Com a fanfarronice de Kasperl, de Mr. Punch de um qualquer Roberto ou de D. Cristóbal?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Guignol? C'est moi

Guignol nasceu em Lyon, alguns anos depois da revolução ( 1810?), pela mão de Laurent Mourguet, um canut ( operário da seda) caído no desemprego. Diz-se que a marioneta de luva foi inicialmente usada pelo seu criador para atrair a clientela, enquanto dentista ambulante! E alguns acrescentam que também servia para "abafar" os gritos dos pacientes. Não se vê como Mourguet poderia manipular o seu boneco e tirar dentes ao mesmo tempo. Enfim, histórias de marionetas! Tal como acontece com D. Roberto, parece que Guignol não terá traços fisionómicos muito típicos, dependendo da criatividade dos diferentes bonecreiros. Há vários Guignols no Museu ( Guignol) de Lyon. Todo o Teatro de Marionetas é hoje conhecido em França, como em grande parte do Mundo como Teatro de Guignol. Também de traços fisionómicos atípicos é o seu amigo Gnafron ou as respectivas mulheres Madelon e Toinon. Personagem curiosa e frequente é o Juiz (Monsieur Le Balli). Bom, a verdade é que a popularidade de Guignol é tal e o seu sucesso foi tão grande desde o princípio do sec.xix que esta marioneta de luva destronou no mundo francófono o anterior Polichinelo, este sim, primo direito do Pulcinella italiano, saído da commedia del'arte e que se espalhou por toda a Europa. Lyon tem de alguns anos para cá um concurso de teatro com o nome Guignol; em Bruxelas há um festival Guignol, entre Abril e Setembro, enfim, como pode ver-se, esta marioneta é bastante acarinhada. Até a Televisão tem algo semelhante aos bonecos da Contra-Informação, necesssariamente conhecidos como Les Guignols. A informação é, naturalmente, tratada em forma de sátira política.

domingo, 31 de julho de 2011

Mamulengo

No Brasil, o Mamulengo brinca-se. Os mestres, contra-mestres e folgazões brincam o mamulengo numa interacção permenente e normalmente longa com o público nos Estados do Nordeste e particularmente em Pernambuco. Há personagens típicas, naturalmente, como o Simão, o Tiridá, o malandro do João Redondo e até a Quitéria, a Chica da Fubá. Isto para as personagens humanas mais conhecidas e populares. Mas também há a Morte, o Diabo, etc.  indispensáveis à dimensão fantástica e transcendente de todo o teatro de bonecos. E há os animais, como a Cobra e o Boi - os mais comuns-. A semelhança com os Robertos portugueses designadamente com os Bonecos de Santo Aleixo tem sido estudada designadamente pela gente do CENDREV, como pode ver-se em Teatro de Marionetas, de 2002, edição coordenada por Christine Zurbach. Há termos tão interessantes como bincar, folgança e outros que nos lembram de imediato os folguedos ibéricos, logo a sua origem e a  colonização portuguesa. Sendo este teatro de bonecos brasileiro e nordestino, a música e a dança teriam sempre de desempenhar um papel primordial. Por isso há os instrumentistas que tocam o fole de oito baixos, o triângulo, o ganzá, o zabumba. Curioso é o intermediário Mateus que faz a ponte entre o Meste, o Contra-mestre e o público nos espectáculos que, por vezes, se prolongam até  madrugada nos sítios de Pernambuco onde é montada a empanada, a barraca ou tenda. Espectáculo iminentemente popular e "descamisado" a burguesia urbana só por curiosidade folclórica a ele assitiria. No Brasil, como cá. Folgança de quem nada tem a perder, oxalá o Brasil e nós todos consigamos preservar a sua autenticidade, como resistência àquilo que já foi chamada de diversão enlatada  servida abundantemente pela televisão, e não só, e muito eficaz nas lavagens ao cérebro e correspondentes alienações neste teatro da vida onde já nada conseguimos encontrar de fantástico. Por isso, as marionetas enlatadas e manipuladas por cucos matreiros são desinteressantes objectos de mediocridade. Condicionam a vida de todos nós. Mas nunca serão personagens vividas pelos Mestres Luiz da Serra, Zé de Vina ou António Biló que brincam o Mamulengo para matar o vício.

sábado, 30 de julho de 2011

Bunraku

O Teatro de marionetas no Japão, conhecido como BUNRAKU é caso único em todo o mundo. Associa a destreza, habilidade a arte das marionetas à recitação e á música. Por estas e múltiplas outras razões, a Unesco reconheceu o Bunraku  como património cultural da humanidade em 2008. A música é tocada numa espécie de banjo de 3 cordas ( o shamisen). As marionetas ( nyngio) são de grande dimensão. Mas não é só por isto que são precisos 3 puppeteers para actuar uma marioneta. A razão está sobretudo na destreza e na capacidade artística que o Bunraku exige. O principal bonecreiro ( omo-zukai) trabalha apenas a cabeça e a mão direita da marioneta. O hidari-zukai trabalha a mão esquerda. O ashi-zukai trabalha as pernas e pés. Diz-se que são precisos 10 anos para progredir dos pés para a mão esquerda e mais 10 desta para a cabeça. Enfim: sabedoria oriental. As marinetas ocidentais são muito mais precoces, hoje em dia. ( Provavelmente sucede o mesmo com as orientais). E os marionetistas surgem muitas vezes do nada...ao cantar dos cucos...e não só. Mas o melodioso cantar dos cucos é seguramente uma música em que deixam enredar-se com o gosto que todos os oportunistas põem na sua especial sagacidade!



domingo, 24 de julho de 2011

Kaspertheater

Kasper, também conhecido pelos diminutivos Kasperl ou Kasperle, é o primo alemão de Punch, pulcinello,etc., como já mencionámos. Parece que a origem do nome se deverá ao rei mago Gaspar. Mas Kaspar Laifari foi uma personagem do bonecreiro Graf Pocci de 1858. Como também já referimos há sempre antecedentes e procedentes, nestas coisas de marionetas, como em tudo na vida. Hans Wurst ( Zé Salsicha ?) seria já uma figura de marioneta na Alemanha, antes do aparecimento de Kasper. Actualmente e desde 1920, o novo Kasper, dito de Hohensteiner é uma recriação do grande bonecreiro Max Jacob. Há uma espécie de adágio popular na Alemanha para designar os debates parlamentares ( mesmo os dos estados e municípios) longos, maçudos e improdutivos. Chamam-lhe Kaspertheater ( teatro de marionetas). E há quem não reconheça sentido de humor aos Alemães! Bom, lá marinetas são grande parte dos nossos parlamentares, isso é verdade. Marionetas de cordel ou de fios, com frequência. Os mais chegados ao poder são marionetas de luva, reconhecidamente. Mas a grande maioria não passa de marionetas de sombras. Vêm e vão e ninguém dá por isso. É difícil memorizar sombras. Mas subsídios de reitegração, além de todas as conhecidas sinecuras, lá isso têm. Enfim, o nosso parlamento é, de facto, um Kaspertheater. Mas o nome mais cáustico e menos polido pelo qual também é conhecido, entre nós, não lhe assenta mal: feira da ladra.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

D. Roberto

 D. Roberto; retirado de www.samarionetas.com 
D. Roberto é o parente português das figuras populares de marionetas ocidentais com origem no Pulcinella Italiano. Todos os parentes europeus que mencionámos anteriormente têm uma fisionomia semelhante, por exemplo, um nariz longo e rubicundo. O D. Roberto português, pelo contrário, não tem uma fisionomia típica. Talvez por isso ele tenha dado origem ao nome pelo qual também ficou conhecida esta forma de teatro: teatro de marionetas, de fantoches ou teatro de robertos, entre outras designações. Em Portugal, as figuras de fantoches e especialmente os robertos emitiam (!) e emitem um som proveniente da utililização pelos bonecreiros de uma palheta. Este instrumento, de difícil maneio, era e é importantíssimo na sincronização de sons, movimentos e gestos dos bonecos. Por não ter uma fisionomia típica, o D. Roberto é um verdadeiro vira casacas. Como bom português! O uso e também abuso da palheta faz deste boneco um palrador. Tão ao gosto nacional que não vale a pena sequer enumerar os políticos muito bons em palheta, mas completamente medíocres e até incompetentes no conhecimento e na acção. Políticos e não só. Mas, ainda assim, até para justificar a sua incompetência, conseguem iludir muita gente durante muito tempo. Palras bem e enganas muita gente. Sobretudo aqueles que querem ser enganados. A peça é recorrente. Daí a situação do País. Também recorrente, aliás. Vale a pena referir que o Mestre António Dias foi um dos últimos bonecreiros nacionais e que  o grupo de Alcobaça S.A. Marionetas é depositário dos conhecimentos inestimáveis do Mestre António Dias. É costume associar a origem do nome D. Roberto a uma de duas fontes: à peça Roberto do Diabo, que teria sido inspirada no Duque da Normandia, ou ao empresário de teatro Roberto Xavier de Matos. Pouco importa. Que o teatro de Robertos tenha uma longa vida, porque é fascinante. Até para poderem denunciar os tristes vira casacas nacionais que, como trepadeiras insidiosas, de tudo se aproveitam para subir na vida, sem esforço e sem necessidade de mérito. Basta o tráfego de influências, enredo no qual somos verdadeiramente imbatíveis.

domingo, 10 de julho de 2011

Marionetas, enfim: um começo

Os espectáculos de marionetas são teatro. E o teatro é comunicação. Todas as formas de arte são comunicação elaborada, crítica, relacional. A palavra inglesa puppet ( de popet pelo alemão poppe) terá origem no sânscrito putrika, puttalika. Marioneta é do Francês mais recente. Mas pode procurar-se a origem semântica em poupette, diminutivo de poupée. No latim pupa ou pupula têm o mesmo sentido: boneca, filha, menina, little girl. A imagem que reproduzimos é do Egipto, muito anterior à era cristã. São anões dançarinos, movidos a fios ou cordas. São marionetas de fios encontradas em Lisht, nas escavações de 1936. No espectáculo de marionetas, o actor, manipulador, realizador, produtor,( todos num só, em regra) esconde-se atrás da sua criação e, por isso, pode ser mais sarcástico, mais irónico e até violento. Também por isso, a criatura ( boneco, sombra, avatar) é o instrumento material da representação. Não será em vão que as marionetas mais populares ( Mr. Punch, D. Roberto, Polichinelle, Pulchinella, Petrouska, Casper, Kasperl, Hans Wurst, Yan Klaassen, Karaghiosis, karagoz, Guinhol, etc.) têm e sempre tiveram um lado violento, ainda que para protecção dos mais desfavorecidos, como é tradição literária. Abordaremos algumas destas personagens, seguramente.

* A imagem foi retirada da obra de Keith Rawlings, Observations on the historical development of puppetry, que seguimos de perto.

Regresso aos Cucos

Inevitável regresso aos Cucos. Diz o semanário expresso que o Presidente da Câmara de Loures emprega, na autarquia, nada mais nada menos, do que 5 familiares: mulher, filha, dois cunhados e nora ou futura nora, -não se entende bem-. Mas, como o de Grândola, diz  que nada lhe pesa na consciência.  Obviamente. Se esta gente tivesse consciência, o País seria um local asseado e decente, onde se poderia viver. É outro socialista. Mera coincidência! O Rato é apenas uma referência e um dos lugares geométricos da enorme agência de empregos em que os partidos se transformaram.
Todos eles. Particularmente aqueles que já ocuparam o poder. Central, regional e local. Ocuparam o poder, é este o termo, de facto. A impunidade já não tem qualquer tipo de explicação. Teremos chegado ao ponto em que só pode pensar-se e dizer-se quanto pior melhor. Claro que somos todos a sofrer as consequências. Mas não seria desejável - em abstracto e só em abstracto - que não houvesse dinheiro para pagar este triste abocanhar dos recursos escassos de um país pobre com uma população já resignada a tanta pouca vergonha?  Ah! Os Cucos! Maravilhosa historieta desta democracia sobrevoando um palco de marionetas num silêncio envergonhado. Que pena.
  

sábado, 9 de julho de 2011

Murdoch e as marionetas de fio

O cartoon é hoje 1ª página do Jornal Público. A minha homenagem ao autor. Vem na sequência do encerramento do Jornal News of the world, em virtude das escutas ilegais, dizendo que Cameron teria ordenado a realização de um inquèrito.
Ocorre-me que também os Políticos portugueses - muitos dos que nos têm governado nas últimas décadas- deveriam ser cartaz de um anunciado espectáculo de marionetas. Murdoch poderia ser substituído por muita gente. Também dos meios de comunicação. Mas, em 1º lugar, o "espírito santo de orelha" sussurra-me que indicado deveras seria um figurão da Banca. Por razões que o dinheiro bem conhece, tudo o que tem acontecido a Portugal parece ter sido inspirado nos interesses desse figurão. Porque será que o jornalismo português, e até os bons cartoonistas que temos e sempre tivemos, - mesmo no tempo do Estado Novo- têm bem mais inspiração para acontecimentos e personagens internacionais do que para o que se passa na paróquia?
É certo que muito do nosso jornalismo é mau, pouco corajoso, culturalmente medíocre para não destoar, e vive das migalhas do poder. São fenómenos notórios que se manifestam com alguma subtileza em todos os momentos e com clareza em época de eleições e que explicam, porventura, a razão pela qual as sondagens dão sempre - nos últimos tempos - melhores resultados ao partido no poder do que aqueles que acaba por alcançar. Mas os inquiridos também terão alguma reserva mental. Tudo em sintonia, afinal, com os brandos costumes nacionais. Ainda que haja más "notações" dos ridículos economistas de todas as Moody's. Afinal, ridículos mesmo são todos aqueles que reagem em função dessas avaliações. Ou melhor: ridículo é um mundo dirigido por palpites vertidos em patéticas sequências alfanuméricas. É tudo tão precário que custa a acreditar. Precário e feio o caminho que teimamos em percorrer. 
 Até quando? Assustador é pensar que não haverá regresso.

                                   

terça-feira, 5 de julho de 2011

Ternura rafeira

No passado dia 16 de Junho, a rafeira Diana, ainda adolescente - com menos de um ano - pariu 7 cachorros, na Quinta dos Olhos d'Água, debaixo de uma sebe. Dois morreram pouco tempo após o parto. Restam 5, com aspecto gordo e saudável. Começam a mexer-se e já procuram ração, além da teta da mãe.
São filhos de adolescente, como disse, e de uma relação incestuosa, visto que o pai é o irmão da Diana, de seu nome Maltês. Trata-se de um belo exemplar de rafeiro alentejano. Na fotografia, vê-se o focinho do Manolo ( único com nome e também o mais atrevido), e o irmão cinzento e branco está de rabo.
Uma vez mais o campo proporciona momentos de reflexão. Vale a pena ponderar a força e a capacidade do instinto animal, enquanto componentes essenciais da natureza. A cadela é assustadiça e, por isso ou por algo mais, acaba por ter comportamentos tolos. Só nos foi dada, em estado faminto e maltratada, um mês depois do Maltês. Recuperou, mas ainda hoje pesa metade do irmão ou pouco mais. Todavia, desde que pariu, não permite que o irmão se aproxime dos canitos. O cão morde-a, o que também não é comum, ao que julgo. Ainda assim, o cão respeita o seu instinto maternal e não se aproxima dos filhos/sobrinhos. Por enquanto.
Esta protecção firme das crias em detrimento do macho, ainda que pai, já acontecera na Quinta, quando uma égua pariu. A protecção era tal que chegava a ser agressiva para o macho. Tudo isto ou quase tudo é transportável para o ser humano, provavelmente. Por muito cruel que pareça.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Europa e Estado-Providência:notas esquemáticas

De tempos a tempos, leio agora e oiço considerações muito críticas sobre a Europa e até- imagine-se - sobre o grande motivo de orgulho europeu, após os anos 40: o Estado Social. Há décadas que, em França, mas não só, se previu o fim do Estado-Providência, pela sua insustentabilidade. Mas enfim, a difusão de ideias leva o seu tempo. A insustentabilidade do Estado-Providência, tal como aquele que foi levianamente criado na Europa, não reside tanto no desperdício de meios, mas sim na mentalidade simplista, reducionista, resignada que criou ou ajudou a criar em grande parte da população. Mesmo com a crise gravíssima que vivemos e com taxas de desemprego próximas do absurdo, é comum vermos ofertas de emprego em lojas e que ninguém aceita: ou porque tem de se trabalhar ao fim de semana, ou porque o desempregado, com o valor do subsídio e uns biscates 3 ou 4 vezes por mês acaba por auferir mais do que se tivesse num emprego permanente. Enfim, o Estado- Providência criou os mecanismos naturais de um certo parasitismo que agora passou a ser "moda" denunciar. Só agora!
Revejo, num relance, a história política europeia posterior à segunda Guerra mundial. Detenho-me em momentos chave que levaram à gordura mórbida do Estado Social. Sim, porque todos concordamos com algum apoio público para quem precisa. Ver as pensões de miséria existentes em Portugal e  compará-las com os apoios escandalosos e subsídios à preguiça a jovens de quem deveríamos esperar trabalho, dinamismo e até alguma rebelião, é chocante. Mas, o que se passou em Portugal e talvez um pouco em todos os PIIGS, é deveras espantoso. Conseguiram ultrapassar em poucas décadas, em desperdício, ineficácia e leviandade, todos os outros Estados Europeus. Quem foi tão incompetente? Quem foi tâo irresponsável? Todos os partidos, um pouco. Mas que a memória me traz um gosto a azedo de muito pretenso e arrogante socialismo - ou falso socialismo - é indiscutível.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Regressando aos Cucos

O autarca socialista Carlos Beato nomeou o seu filho para o cargo de adjunto do seu gabinete de apoio pessoal, decisão que qualifica como "consciente e responsável" - hoje no DE ( Sapo)
        
       Impossível evitar comentar a cucolândia! O despudor atingiu os limites do patético, onde se julga que tudo é justificavel. Despudoradamente rídiculo. Fui ver. Imaginem. É um militar do 25 de Abril. Porquê? Comandava um pelotão dos homens de Salgueiro Maia. Que extraordinário! Eu comandei um pelotão 3 anos e meio na fronteira do Norte de Angola. E já lutara contra a guerra colonial, enquanto estudante. E vi os homens do Salgueiro Maia na Praça do Comércio, Era um recém chegado da guerra de África. Percorri Lisboa feliz com os aconteciementos. A operação militar - podem crer - foi de 5ª categoria. A maior parte dos soldados não sabia sequer disparar uma espingarda. O regime estava podre. Por isso caíu. Ainda bem. Mas o que hoje se passa, leva-nos a perguntar: o que aconteceu ao País? Quem é capaz de tão reiterado despudor? 
       Fui ver: tem uma mensagem em vídeo, medíocre, e lê um texto aos solavancos. Mas um curriculum invejável. Sempre a acumular cargos de simpatia e nomeação partidária, claro está. A história nacional sempre teve períodos de oportunismos e desvergonha. Gente que utilizou os bens públicos para seu governo pessoal. Cucos Rabudos, em suma. Mas o que aconteceu ao País nas 3 últimas décadas é tão mau tão mau, que vai ser difícil à própria história encontrar uma justificação razoável. Não há "afastamento" que possibilite qualquer tipo de justificação.

Nostalgia

Nostalgia! Cafiaspirina... O anúncio parece ser de 1936. Ano dos jogos olímicos de Berlim. Sim, os tais em que Jesse Owens, de cor negra, ganhou 4 medalhas de ouro, para grande confrangimento de Adolf Hitler que quis fazer dos jogos um momento de exaltação da "raça ariana". Este cuco não deve ser tratado apenas com ironia. E há quem tudo faça para reabilitá-lo. Pobre mundo. Do ano do Anúncio para cá decorreram 74 anos!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um enredo (pouco) Nobre

pouco nobre
 
Como muitos, sempre pensei ser um erro de Passos Coelho o convite feito a Fernando Nobre. Erro que se confirmaria pouco depois, reiteradamente, pelo comportamento do visado. Deste "enredo" houve ontem mais uma notícia: Fernando Nobre não conseguiu os votos necessários para Presidente da Assembleia da República. Primeira derrota de Passos, dizem. Talvez. Mas com derrotas também pode aprender-se. Mais do que com vitórias. Para já, fica o lado positivo: Passos Coelho terá mantido a sua palavra. Acrescentando o facto de não se ter "assustado" com o barulho dos barões do regime que exigiam uma salada russa ( Passos dixit) com o PS e com a asneira de Cavaco a propósito da dimensão do Governo, temos alguns aspectos positivos na actuação do primeiro ministro apenas indigitado e que, pelos vistos, tomará posse dentro de hora e meia.
Isto aviva-me a esperança deste primeiro ministro não estar comprometido com a arrogância e a consequente incompetência que trouxeram o País ao lodaçal em que se encontra. Enganar-me-ei? Aprenderei uma vez mais. Só que esta réstea de esperança não pode dar-se ao luxo de continuar adiada, por repetida ingenuidade. Minha, claro está.
 Inteiramente descomprometido com o seu partido e com a sua pessoa, - e pensando apenas no País onde nasci e onde vivo - sinto vontade de desejar que o primeiro ministro saiba escolher e que conte com colaboradores sérios e competentes. Oxalá que a obstinação de Fernando Nobre e a sua falta de humildade não venham a repetir-se.
 

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mais um pequeno apontamento sobre marionetas



Este assunto - marionetas -está adiado há anos, como já disse. Claro que o objectivo prioritário é conseguir alguma ironia, particularmente no paradigma que espero poder estabelecer com certos comportamentos muito comuns nos variados bonecos ( de fios, luva, até de sombras) que povoam os partidos e a vida pública nacional. O título Cucos e Marionetas tem este propósito, como pode ver-se.
Tal facto e tal objectivo não impedem nem limitam a necessidade de investigar o mais possível sobre o teatro de marionetas. Muito menos excluem o grande fascínio que sinto por tal forma de expressão teatral. Por isso não resisto a deixar aqui este singelo apontamento que li um dia destes: no teatro de marionetas o actor projecta-se no boneco que é a sua criação ( em muitos casos, evidentemente). A representação exige habilidade manual, sensibilidade poética, criatividade na encenação, enfim, é de facto, uma arte completa, no sentido mais amplo do termo que aqui faço equivaler a mester.
No teatro de pessoas ( de palco), onde a experimentação é mais dispendiosa e difícil, naturalmente, pode afirmar-se que o actor é o boneco do director ou encenador. Isto não comporta qualquer sentido pejorativo para o actor, evidentemente. Pelo contrário. Em muitos casos, a capacidade para "personificar" a criação do encenador exige um indiscutível talento.
Falei anteriormente do teatro de sombras, que, no domínio das marionetas, tem sido cultivado com grande mestria no Oriente ( Japão, China, Índia Tailândia, etc.). Ocorre-me algo que talvez não seja estulto de todo. A Alegoria das Cavernas, texto bem conhecido de Platão, não será uma clara aproximação ao teatro de sombras com motivação filosófica?
Por tudo quanto disse, há muito de filosófico no teatro de marionetas, mesmo nas suas formas mais populares. Toda esta forma teatral é popular, no melhor dos sentidos. Ocorrem-me também passagens dos "Autos, Passos e Bailinhos" do Mestre Salas e os Bonecos de Santo Aleixo, hoje entregues ao CENDREV no Garcia de Resende.

domingo, 12 de junho de 2011

Um cheirinho a Marionetas



Ontem consegui algum tempo para ver o retábulo de Dom Cristóbal de Garcia Lorca. Trata-se de uma pequena peça de teatro de marionetas.
Como é sabido, as Marionetas são o assunto há muito adiado, neste sítio. Acresce que decorre em Montemor o IV Encontro de Marionetas até hoje, exactamente, 12 de Junho. O teatro de títeres é fascinante. Enquanto me não decido por algo mais substancial, aqui fica este pequeno apontamento. Espero que legível e visível, porque também não sei onde arrumar o texto e as imagens.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ele há coisas!

Os jornais noticiaram esta semana que a socialista Ana Gomes comparou Paulo Portas a Strauss-Kahn, opinando que não deveria fazer parte do próximo governo, com o cândido objectivo de evitar humilhações como as que teria sofrido o Estado Francês. Que preocupada! Que francófona!  Há gente para quem qualquer comentário é uma perda de tempo. Não sou e nunca fui admirador de Paulo Portas. Mas não é preciso sê-lo para repudiar um comentário boçal, despeitado, revanchista,  que pressupõe um juízo de natureza criminal sobre o comportamento de Dominique Straus- Kahn, entre outras imbecilidades. Que é feito da presunção de inocência? É um valor elementar da civilização, Senhora Drª Ana Gomes. Vindo de alguém que até nos representa - mal, é verdade - em Bruxelas, é caso para estupefacção. Vindo o comentário de alguém que um dia antes se indignara com uma pergunta de uma jornalista ao seu demissionário chefe sobre o eventual efeito da demissão no andamento dos processos penais em que alegadamente terá estado envolvido, é simplesmente repugnante. A jornalista, bem ou mal, oportuna ou inoportunamente, estava a fazer o seu trabalho. A Euro-deputada, que pertence a um partido que contribuíu decisivamente para a penúria em que o País está e para o descrédito do Estado Português, está a libertar o mais feio despeito e a mais baixa inveja. Neste momento, todos nós deveremos, ao que penso, defender o governo saído das últimas eleições - se democratas ainda somos - ajudando a restaurar alguma credibilidade do Estado. Andar de mão estendida a dizer mal de membros do governo que ainda o não são, é deplorável.
Como é possível que a mediocridade e as atitudes mais patéticas se tenham apoderado desvergonhadamente deste pobre País? O que fez Ana Gomes para ser deputada no Parlamento Europeu? Porque estava na Indonésia quando os Estados Unidos obrigaram este País a retirar de Timor? Será que ela nos quer convencer que teve alguma influência determinante em tal acto?
O oportunismo instalou-se e não deixará que os mais elementares valores regressem e nos ajudem. Infelizmente constatamos isto diariamente. Com as Gomes e os Gomes que ainda nos confrangem.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Será que vamos a tempo?

Após semanas de incerteza, o povo português mostrou que ainda há algum bom senso e dignidade no País. Pelo voto exprimiu mais o repúdio pela contínua mistificação que o PS criou em Portugal, ensaiado pela mão do maestro Sócrates, mas com a participação de muitos e muitos que vivem à sombra do orçamento -despudoradamente - do que confiança a sério no PSD e em Passos Coelho. É o que me parece. O facto de Passos Coelho não estar, aparentemente, entrosado com os barões cujos interesses se entrecruzam há longos anos com os do PS, dá-nos alguma esperança. Que este Estado ineficaz e medíocre se renove, ainda que dolorosamente; que a Justiça leve a maior "chicotada" de que há memória, porque sem isso nada se fará; que o Estado social tenha a equidade e a Justiça como paradigma; que se crie, com seriedade, a rejeição do parasitismo e se premeie o mérito; que, finalmente, haja valores capazes de orientar as novas gerações. Se um pouco- só um pouco - disto acontecer, então talvez possamos ainda ir a tempo.

sábado, 7 de maio de 2011

Ainda a propósito de resgate

Parece que a troika (o fetiche dos assobios estrangeirados é deveras espantoso!) sempre decidiu propor o empréstimo de pouco menos do que 80 mil milhões para cobrir a irresponsabilidade dos Portugueses. Dos que pagam, porque votaram inconscientemente. Dos que desfalcaram, enganaram e mentiram despudoradamente ao País, desgovernando-o, porque a sua irresponsabilidade é tolerada, incompreendida, aceite, eu sei lá! Será possível que o País mereça isto? A atitude não é nova. Como todos sabem, é a terceira vez que esta democracia estende a mão ao estrangeiro, qual indigente manhoso que jura emendar-se, mas sempre com reserva mental. Apesar da culpa dever ser repartida por todos quantos nos têm governado e também pelos que neles votaram e continuam a votar - como disse - a verdade é esta: de cada vez que pedimos "ajuda" em desespero de causa, estava o PS no Governo. Mas, que me lembre, a culpa nunca foi dos responsáveis deste partido. Foi sempre dos outros: oposição, estrangeiro, crises ( petrolíferas ou de sub-prime, etc.). De todos, menos dos governantes do PS. Claro que agora, o Sócrates ultrapassa tudo o que é imaginável. A impressão que se tem é a de alguém completamente fora da realidade. Mas, por inconsciência ou não, até para conseguir manter aquela arrogância e alheamento aliada à acuidade verbal, ou oral, sempre que pode tentar manietar os menos preparados, até para manter essa atitude, repito, é precisa coragem. Nesse aspecto será, porventura, imbatível. Como dizia o povo transmontano e ainda dirá, é um verdadeiro desavergonhado!
Mas a atitude sempre foi assumida desta forma. Leiam-se as "quase memórias" do Almeida Santos. Basta a parte final do 1º volume, a propósito do que qualifica como um ataque criminoso por parte dos jornalistas Albarrã e Feyo na Grande Reportagem sobre a "independência" de Timor Leste. O autor é, consabidamente, um astuto advogado, um orador de grande poder e habilidade e também um homem sabedor. Há que reconhecê-lo. Mas, a sua habilidade para desviar as setas do alvo ou para as encaminhar para a generalidade é deveras notável. Até quando diz que a sua responsabilidade é apenas "qb" e de homem muito bem intencionado. Assim, claro que os ataques feitos á sua pessoa, não o são. São ataques de saudosos do antigo regime ao 25 de Abril e à democracia. Claro que a descolonização foi só um efeito e bem conseguido, apesar de tudo, do desastre que foi o 28 de Maio. Como se vê, no resgate financeiro, como na descolonização, a culpa é do povo português, de todos, mas não da gente do PS. E já agora - pergunto eu - porque paramos no 28 de Maio, que não defendo e nunca defendi? Teve mais a ver com a colonização o rei D. João II do que o 28 de Maio. Pois. Mas o Dr. Almeida Santos reporta-se apenas ao momento em que alguém terá sentido os " ventos da história". Isto poderemos compreender. Mas que todos tenhamos culpa daquilo que a gente irresponsável do PS se recusa sistematicamente a assumir, é demais. Digam-nos lá, Dr. Almeida Santos, Dr. Mário Soares, digam-nos lá honesta e patrioticamente como se intitulam  com invejável garbo: o que pensam da miserável situação em que o País está, 37 anos após a revolução dos cravos? O que pensam dos benefícios gerais desta democracia? Expliquem e eduquem estes pobres iletrados de quem se aproveitam há quase 40 anos! É tempo bastante para umas quase memórias.

 

domingo, 10 de abril de 2011

Haverá resgate?

Resgate. É um termo apropriado. É-se resgatado em circunstâncias de total perda de liberdade: sequestro, rapto, enfim, situações pouco "saudáveis". O País pediu finalmente para ser resgatado pela UE ( Fundo de Estabilização), o que implica também dinheiros do FMI, como é sabido. Mas, o que mais espanta é a lata de quem nos governa: passam do não para o sim em dias, melhor, em horas. E assim tem de ser por culpa dos outros. Ah! pois, se não fossem os outros estaríamos nós bem. E repetem, repetem até à saciedade, porque quando bem orquestrada, a propaganda faz germinar qualquer banalidade, por muito falsa e imbecil que seja. A democracia é sempre ou quase sempre pouco eficaz. Mas é um caminho rápido para as piores tiranias quando manietada pela propaganda, em terreno de iliteracia. Estão sempre muito próximos estes conceitos. A iliteracia é o terreno predilecto e muito fértil da má propaganda. O Congresso do PS, pelo muito pouco mas já bastante que ouvi, continua a ser a máquina orquestrada da propaganda e da desfaçatez do senhor "engenhêro".
A meteorologia falhou parcialmente. Valha-nos isso. A manhã está ventosa e fria mas clara. Não choveu, nem parece que venha a acontecer hoje, como chegou a ser anunciado. A primavera instala-se, os rebentos espreitam e verdejam as primeiras parras. A vida, em suma, abre fileiras no meio da desolação. A pior delas é a causada pelos terramotos no Japão. Sim, houve mais um. E também este parece ter atingido uma central nuclear, se bem que com menor intensidade.
O nuclear não terá argumentos válidos tão cedo, se bem me parece.


segunda-feira, 28 de março de 2011

Três comentários envergonhados

Há 15 dias que aqui não deixava um só suspiro. Sim, porque os tempos nada mais motivam ou estimulam.  A semana passada, contudo, foi pejada de acontecimentos que merecem um comentário, por mais pequeno que seja.
1- Demitiu-se o primeiro- ministro, na sequência da não aprovação de mais um PEC ( o 4º); O último era sempre suficiente, na boca do Governo, nas medidas de austeridade propostas.  Dois meses mais tarde, verificamos que até as previsões económicas do Orçamento descem de um crescimento modesto para um decréscimo do PIB de 0,9%. Em que já ninguém pode acreditar. Será seguramente maior, visto que esta última"previsão" terá sido forçada pelos  economistas comunitários e do BCE, justificando, naturalmente, mais medidas de austeridade. Como não podia deixar de ser,  Sócrates demitiu-se culpando a oposição e os próprios portugueses de serem os verdadeiros responsáveis pelo caos económico e financeiro em que o País se encontra e de nem sequer deixarem o governo tomar as medidas que patrioticamente Bruxelas havia já aceitado, sem que em Portugal fossem conhecidas. José Sócrates consegue quebrar todos os limites da demagogia e da retórica barata! Impunemente, porque acaba de ser reeleito secretário-geral do PS com mais de 90% dos votos. Declaração de interesses: já pertenci ao PS. Foi mesmo o único partido a que pertenci. Curei-me há muitos anos, felizmente.
Parece que haverá eleições legislativas no princípio de Maio. Que irá sairdestas eleições? Tenho receio de que as minhas convicções democráticas sofram mais um abalo.
2- No meio da crise nacional, o Sporting tentou eleger uma direcção. Houve violência e, segundo um dos candidatos, terá havido também "batota", visto que vai impugnar as eleições. Foi a notícia mais importante, com que abriram os telejornais de Domingo. Tal facto, comum, aliás, diz bem da alienação que o futebol representa em Portugal. Diz bem da incapacidade de escalonar prioridades por parte dos responsáveis dos nossos meios de comunicação social. Não defendo qualquer tipo de elitismo e sei bem que o desporto e o futebol, em particular, é um fenómeno social  importante. Mas, uma atitude responsável dos directores de informação não pode permitir que o futebol de um clube, seja ele qual for, se torne socialmente mais relevante do que as consequências dramáticas que os portugueses sofrem a todos os níveis do débil tecido social; que se torne prioritário relativamente à guerra no Líbano e à compreensão do que ali se passa; à informação sobre o Japão, Fukushima e a ameaça de contaminação nuclear, etc, etc.
3- A propósito do Líbano: todos nós - ao que julgo - gostaríamos de ver o Senhor Kadhafi apeado. Mas, a intervenção dos Estados Unidos, da França, do UK e da Nato foi decidida tão rapidamente que contrasta fortemente com as grandes críticas - e merecidas - que antecederam e se seguiram à invasão do Iraque e até do Afganistão. Considerando o argumento mais propalado no 1º caso ( o petróleo), apetece perguntar: será que o petróleo líbio tem mais octanas do que o petróleo iraquiano? Ou será que o Presidente Obama tem um discurso mais persuasivo do que George Bush? A verdade, se estamos lembrados, é que o avanço dos Norte-Americanos no Iraque foi forçado pela atitude acobardada da França, entre outros. Nessa atitude, de interesses feita, como a do lado oposto também seria, confiou um louco. E por isso manteve aquele ar de desafio inolerável para o Ocidente, em minha opinião. Que não deixava outra saída senão a invasão.
 Ao que se soube, eram empresas francesas aquelas que mais contratos detinham na exploração do petróleo no Iraque de Sadam. Enfim, a política internacional, tal como a da paróquia, é um lodaçal.
4 - Dois únicos aspectos positivos me ocorrem: o Padre Santos, pároco da Boa-Fé e de S. Sebastião da Giesteira, mesmo doente, ao que a Céu diz e eu pude constatar, continua a dedicar a vida aos seus paroquinos e ao próximo com a determinação de sempre. Bem haja, Senhor Padre. Até eu o respeito ao ponto de dizer com prazer o belo poema que é o Pai Nosso na sua capelinha da Boa-Fé.
O segundo ponto positivo é a constatação da capacidade de sofrimento, o comportamento comunitário exemplar e a determinação dos Japoneses ( incluindo Governantes), considerando a tragédia que os afectou e as informações e imagens que nos chegam.

domingo, 13 de março de 2011

Desabafos breves

Domingo, 13 de Março. Um dia cinzento e triste no Alentejo. Em sintonia com as notícias internacionais e nacionais.Ante-ontem foi o brutal terramoto no Japão, seguido do Tsunami. Ficámos a saber que este País será aquele que melhor preparado está para estas catástrofes naturais. Ainda assim, as consequências parecem terríveis, em perda de vidas, designadamente. Mas, as más notícias abrangem agora também a explosão na central nuclear de Fukushima e a necessária evacuação de dezenas ou centenas de milhares de pessoas. Esperemos que os técnicos deste povo empreendedor e responsável consigam controlar esta gravíssima consequência do terramoto.
Claro que se levanta, uma vez mais, e com toda a razão, o problema da segurança e dos riscos elevados da opção nuclear, enquanto meio de produção de energia. A técnica, por apurada que seja, nunca conseguirá evitar os imprevistos e a força dos fenómenos naturais mais extremos. Tal como o Homem, de resto. Não passamos de um instante fugaz perante o Universo e a natureza perene. Na perspectiva humana, é indiscutivelmente perene e poderosa a natureza.
 Por cá, mais medidas de austeridade anunciadas, como moeda de troca para o apoio da Europa. As declarações nuancés, de governantes estrangeiros, já nem conseguem enganar. É espantoso. A "verdade" dos governantes portugueses muda mais depressa do que o vento. Misturam bons desempenhos económicos ( coisa que há mais de uma década não existe) com medidas de austeridade imprescindíveis para combater o défice, cumprir compromissos assumidos, enfim, tudo o que lhes vem à cabeça. Só não assumem a sua completa e inexplicável incompetência, convencidos que estão que a retórica medíocre de que sistematicamente se valem continuará a enganar tudo e todos.
  Em boa verdade o que mais custa, o que mais dói, nesta espécie de democracia, é a flagrante desigualdade. A destruição da classe média; o empobrecimento dramático e economicamente acéfalo dos mais carenciados e o enriquecimento de todos quantos vivem à custa do Estado e daqueles cujos negócios estão fora das regras duras do mercado: comunicações, energia, banca, etc. etc. Quem não vê que isto traduz a destruição do mercado interno e que só o sector exportador jamais será panaceia para a reconstrução da nossa capacidade produtiva é ignorante e indigno de ocupar cargos de chefia no Estado, onde é suposto estar quem privilegie o bem comum. As mordomias dos titulares de cargos públicos e de todos os boys bem "arrumados" à custa do cartão do partido, com total indiferença pela competência e pelo trabalho, são um escândalo intolerável. Por isso o País, mesmo os mais comodistas, bateram palmas, ontem, às manifestações da chamada geração à rasca. Que parece ter ultrapassado as expectativas, sobretudo em Lisboa e no Porto. 
 Talvez estejamos perante o início do tal sobressalto cívico  de que falou o Presidente da República. Se isto significar finalmente a recusa da sociedade civil em manter-se conformada com este estado de coisas, que venha o sobressalto o mais rapidamente possível.